Em uma madrugada fria no cubículo de seu quarto se encontrava um garoto peculiar, perdido em pensamentos enquanto jogava fps no seu computador à meia luz de seu abajur. Sentado em sua cadeira enrolado em um cobertor ele exclamava contra seus parceiros de equipe:
— Porra! Só tem inúteis no meu time! — ele apertou os olhos e deu um forte tapa na mesa.
Sem paciência ele retirou os fones e os jogou no monitor, levantou-se tropeçando na coberta e se dirigiu para a saída do quarto, com passos fortes caminhou pelo corredor escuro até chegar na cozinha e acender as luzes. Chegando lá viu que sua mãe havia limpado tudo naquele dia, afinal, dificilmente pisava o pé fora do quarto. O fogão brilhava no canto direito do local logo ao lado da pia que ficava de frente para a mesa no centro do cômodo.
— Só cai imbecis no meu time! — ele caminhou até a pia e pegou água com um copo que encontrou em cima da mesa. — Mas eu também não sou nenhum profissional...
No mesmo momento em que fechou a boca seu celular vibrou no bolso de seu short, era seu único amigo próximo, Ariel.
— O que ele quer? A essa hora já era para ele estar dormindo.
Ao atender o telefone, pela primeira vez ele viu Ariel em pânico.
"Vai para o computador agora! Entra no canal de notícias da cidade!"
Sem pensar duas vezes, ele largou o copo que se quebrou ao tocar o chão e correu o máximo que pôde, entrou no site da cidade e lá estava.
— Um assalto?! — disse ele de olhos arregalados.
"Como eu imaginei, já está circulando..." — A voz de Ariel abaixou como se estivesse se escondendo de alguém.
— M-Mas esse é o shopping central!
"Exatamente, Dan... eu estou aqui dentro... ."
O coração de Dan acelerou como se fosse sair pela boca, suas mãos não paravam de tremer e o suor frio descia por seu rosto, até que em um impulso de coragem ou talvez imprudência ele disse:
— Estou indo ai! Se for correndo, chego em cinco minutos.
"Não seu idio..."
Dan desligou o telefone na cara de seu melhor amigo e pegou a primeira blusa de frio que encontrou em cima da cama, colocou uma calça moletom por cima do short e descalço se dirigiu a toda velocidade em direção ao shopping. No entanto, ao chegar lá viu a polícia fechando totalmente a entrada do local junto aos repórteres que cobriam a matéria.
— Boa noite cidadãos de Metrolid, estamos aqui, em frente ao ato terrorista de uma nova organização criminosa.
— A-Ato t-terrorista? — se perguntou Dan ainda ofegante.
O repórter andou um pouco para o lado sendo acompanhado pelo cameraman e apontou para o enorme prédio.
— Não sabemos o objetivo da quadrilha, mas estão cercados, é apenas questão de tempo até serem capturados.
O coração de Dan se acalmou um pouco ao ouvir isso, porém, não podia se apegar a uma esperança tão volátil, afinal Ariel ainda estava lá dentro. Ele sabia que a polícia não o deixaria passar, mas conhecia um lugar por onde poderia entrar. Atrás do shopping, no estacionamento, havia um duto de ar pequeno que ele e seu amigo já haviam usado algumas vezes para conseguirem ficar em primeiro nas filas de consoles novos.
— Eu engordei? Ou isso aqui encolheu? — enquanto se esgueirava pelo duto ele via pessoas amarradas nas lojas e os terroristas não pareciam ser poucos. — Onde será que aquele maluco se escondeu?
Novamente seu celular vibrou e ele rapidamente atendeu.
"Me diz que você não veio."
— Claro que vim. — Cochichou Dan. — Entrei pela nossa passagem secreta, por um milagre a polícia não estava no estacionamento.
"Seu imbecil! — Ariel pareceu tapar a boca após o pequeno grito. — E-Eu ouvi eles conversando... Não é apenas um assalto, eles estão aqui para morrer, querem fazer uma cha... ."
Ariel por um segundo respirou fundo e um pequeno soluço de choro foi ouvido por Dan.
"Eles estão vindo para o banheiro da loja de jogos, v-vão me encontr..."
A ligação foi cortada após um breve chiado, mas antes de cair, Dan pode ouvir uma porta ser aberta com força como se estivesse sendo arrombada com um chute.
— Ari? Ari?! — por um pequeno momento ele paralisou sem reação. — Tenho que ir, ele precisa estar vivo.
Ele continuou engatinhando pelo duto até se deparar com uma subida, no entanto o duto era liso demais para subir, voltando um pouco ele percebeu abaixo de si uma abertura.
— A biblioteca? — Dan aproximou seus olhos da grade e tentou enxergar alguém mas estava vazia.
Cuidadosamente ele retirou a grade e apesar do pequeno medo pulou no centro do ambiente.
— Não sei de onde tirei tanta coragem. — disse ele após respirar fundo olhando para o chão sem acreditar na situação. — Como me meti nisso? Se não tomar cuidado vou realmente morrer.
Fazia tempo que ele não pisava naquele lugar, mas estava imutável como sempre, fileiras de livros separadas por gêneros e mesas ao fundo da biblioteca, uma enorme janela com visão para a o estacionamento perto das mesas e na entrada o balcão da bibliotecária encostado a porta de entrada. Dan andou pelo cômodo a procura de algo que pudesse usar como arma, porém, tudo que encontrou foi uma espada de enfeite que se quebrou quando ele tentou entortá-la.
— Inferno, minha única alternativa foi pelo ralo. — ele de sobrancelhas baixas e apreensivo caminhou até o fundo onde ficava a janela procurando por uma esperança. — Hunf, aqui também não tem nada.
— Por aqui! Essa é uma das últimas salas que faltam. — disse uma voz vinda de fora. — Derrubem essa porra!
Após um barulho estridente de disparo a maçaneta da porta voou pela biblioteca até o fundo da mesma, se chocando com o vidro da janela e o trincando. No desespero Dan correu para trás da primeira fileira de livros que viu e segurou a respiração enquanto tremia de pavor, tentava se controlar, porém seu corpo não o respondia.
— Entrem! — disse o líder dos terroristas. — E caso encontrem algo que se mecha, atirem!.