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Madison

— Boa noite, seja bem-vinda ao Queen's Palace! — o maître sorri para mim, inclinando a cabeça em um gesto respeitoso antes de cruzar as mãos atrás das costas. — Qual é o nome em sua reserva?

Bem, eu me lembrava muito vagamente de toda a ambientação do restaurante graças às poucas vezes que tive o prazer de estar por aqui, mas sem dúvida me recordo de como adorava o perfeito atendimento. Apesar de ser um restaurante absurdamente requintado, não existe aquele clichê de funcionário arrogante que te mede de cima a baixo como se o escaneasse para ter mais certeza de que não tem um tostão sequer para estar ali.

Até por que, por falar nisso, fico feliz que Heather esteja pagando o jantar, pois, nesse quesito, eu realmente não tenho dinheiro algum para esse lugar.

Lugar este que hoje parece particularmente mais cheio do que o que eu conseguia ver pelas janelas altas nos demais dias quando passava pela Alban Valley Avenue por acaso. A avenida, com seus conjuntos de prédios residenciais e pontos comerciais bem iluminados, só é famosa pelo restaurante, óbvio.

Olho na direção do homem de smoking que espera por minha resposta, sorrindo sem graça enquanto ajeito uma mecha de cabelo para trás da orelha.

— É a reserva da minha irmã, na verdade, ela apenas me convidou — me vejo na estranha necessidade de explicar, como se eu realmente precisasse deixar claro para esse cara que eu sou pobre demais para aquele restaurante. Meu sorriso fica ainda mais constrangido. — Er... Heather Blanchet, é o nome dela. Acho que ela está me esperando, meu nome é Madison.

O homem assente sem perder a pose, mas faz uma expressão engraçada de contentamento. Caminha até um grande livro com uma capa de couro marrom sobre um atril de vidro não muito longe das portas por onde acabei de passar, flanqueada por vasos de plantas com folhas grandes. Ele o folheia com suavidade e, quando para, puxa uma caneta, marcando algo na folha.

— Heather e Madison Blanchet, aqui está — há um quê de familiaridade amigável em sua voz ao dizer o nome da minha irmã e franzo a testa, em dúvida. Ele percebe ao erguer seu sorriso intacto para mim. — Ah, é sempre um prazer recebê-la. E todos os seus convidados, é claro. 

Opa. Minha curiosidade queima tão ferozmente que praticamente o interrompo.

— Ela vem muito aqui?

O maître aquiesce sem hesitar.

— É uma cliente assídua, por assim dizer. 

Ótimo, penso com uma careta, então minha irmã deve ter descoberto ser uma herdeira perdida que só é muito parecida comigo, não existe outra explicação para esse absurdo. Fico feliz que meu dia de respostas seja hoje, não vou deixar Heather escapar dos meus questionamentos. E eles são muitos.

O homem interpreta minha expressão de dúvida e meu silêncio erroneamente e se afasta do livro, apressado, estendendo a mão na direção do salão.

 — Bem, vamos? A Srta. Blanchet já está aqui, a levarei até a mesa.

— Claro, por favor — assinto desajeitadamente, puxando minha saia para baixo, alisando-a com incômodo antes de segui-lo quando o mesmo começa a avançar pelo espaço entre uma divisória de vidro.

O salão é uma área circular bem iluminada, cheia de mesas com toalhas de linho tão branco que meus olhos doem. As paredes cor creme possuem decorações em dourado, como arabescos e arcos e rodapés também ornamentados, bem como a parte superior perto do teto. As janelas compridas tem cortinas brancas que caem, pesadas, no chão, e os lustres se dividem em sua função com alguns menores ao longo do teto e uma grande versão deles, com suas luzes no formato das flores de Calla, pendurado no centro. Há réplicas de quadros famosos espalhados com cuidado e reconheço minhas obras favoritas de Boticelli. 

Duplo ImpactoOnde histórias criam vida. Descubra agora