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Heather

— Heather! — A saudação teatral faz meu nariz torcer automaticamente. Levi Thorn me cumprimenta do assento no balcão lustrado, erguendo seu copo de uísque no alto junto aos braços para chamar minha atenção. Mas como eu não o veria quando é o único homem do bar cercado por uma porção de prostitutas baratas?

O funcionário alto e atraente na entrada, vestido com um tipo de terno fino demais para o ambiente, pega meu casaco quando o deixo escorregar por meus braços. Não perco seu olhar encima de mim quando a peça longa não oculta mais meu vestido curto preto metálico, o decote drapeado expondo meu colo já que prendi os cabelos em um coque despojado dessa vez, alguns fios castanhos escorridos em meus ombros nus. Sorrio para o rapaz que fica meio surpreso.

Se no fim das contas o que vim fazer aqui não acabar com meu humor, posso pensar em me divertir um pouco mais tarde.

O Saphire não faz muito meu estilo de ambiente. É um Pub grande na Huntington, mas nem de longe tão cômodo quanto os que estou acostumada. Aqui sempre parece estar cheio de todo tipo de gente, o que pode explicar o porque de Levi querer se encontrar comigo aqui. Ele é o exemplo de cara que gosta de se misturar com qualquer grupo de pessoas. Sociável, alguns diriam.

Já eu o chamo de aproveitador. Levi gosta de ter o maior número de contatos possível para usar a seu favor, por isso se envolve com qualquer um que pareça interessante.

Caminho até ele sob a iluminação azul difusa, passando por pequenos grupos de pessoas sentados envolta das mesas de vidro redondas ou acomodados nos assentos estofados de cor preta contra as paredes revestidas de madeira escura. Pequenos abajures claros sobre as mesas iluminam suas conversas e fazem seus drinks brilharem. Quase me dá sede, mas eu não vim para beber.

— Minha querida! — Levi se levanta da cadeira alta que sustenta seus 1,88, dispensando as diversas mãos femininas que o tocam para me receber de perto. Ele não ousa me tocar, o que achei bastante sensato de sua parte, mas sua vista percorre meu vestido sem nenhuma discrição, encarando minhas pernas expostas e até mesmo a corrente prateada em meu tornozelo com prazer. Os olhos de um estranho tom de marrom finalmente encaram os meus e ele sorri, duas fileiras de dentes muito brancos nos lábios cheios, as luzes cerúleas banhando a pele castanha-avermelhada. O cheiro de sua colônia masculina é forte, porém está misturado a perfumes mais doces. — Está linda, como sempre!

Forço um sorriso, semicerrando os olhos. Começaram os jogos.

— Obrigada. — Ele sabe que não vou retribuir o elogio, é claro. Passo a vista pelas garotas atrás dele que o esperam retornar ao balcão com ansiedade. Uma loira oxigenada de minissaia me lança um olhar de desafio por cima do ombro dele, como se eu estivesse disputando atenção com ela, e rolo os olhos internamente. Ridículo. — Pensei ter ouvido você dizer que nossa conversa seria particular.

Levi ri e apanha sua bebida de cima do balcão, o gelo quase derretido batendo no cristal do recipiente. 

— E será, meu amor. Não se preocupe — me garante ele com uma sobrancelha arqueada e um gole longo de uísque que me fazem suspirar de impaciência. — Quer algo para beber antes? Por minha conta. Talvez... um Martini Seco?

Ele não espera por minha resposta e estala os dedos para o bartender do outro lado do balcão para chamar sua atenção.

— Um Martini Seco para a dama.

— Não. — Impeço-o, sem tirar os olhos dele por sequer um segundo. Não vim para beber, lembro a mim mesma, mas a vontade de provocá-lo é maior. Ergo a voz o suficiente para que o homem a quem ele fazia o pedido possa me ouvir, acentuando bem cada palavra conforme vejo um sorriso estranho surgir nos lábios de Levi. — Quero uma dose de uísque. Com bastante gelo.

Duplo ImpactoOnde histórias criam vida. Descubra agora