Capítulo 3

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Somos casados a oito anos.

Bem, se somos casados a oito anos eu suponho que essa decisão não foi movida pela impulsividade, mas sim pela razão, porque permanecer oito anos casada com a mesma pessoa requer um planejamento. A Evie de oito anos atrás não iria se casar na impulsividade, não é? Espera...a Evie de dezenove anos estava na faculdade...estava, certo? Porque uma adolescente se casou?! Eu era só uma universitária, o que eu tinha na minha cabeça?

Covinhas.

Sim, esse é um bom argumento, mas não o suficiente para um casamento!

Nós nos amamos? Porque essa é a única explicação para termos casado tão cedo. Todavia, se nos amamos, por que eu me esqueci de Alex? Por que eu não lembro quando os meus sentimentos mudaram? Por que eu não lembro quando passamos de estranhos, para amigos, para amantes? Deve ter sido algo muito forte, já que a "antiga" Evie não se casaria assim. Na verdade, a Evie de dez anos atrás só queria uma coisa: viver. Eu quero...queria fazer faculdade, sair daquele trailer, nos meus pensamentos mais extremos, eu queria me ver longe dos meus pais, mas, em nenhum momento, eu quis casar ou até mesmo entrar em um relacionamento tão sério. Minha vida já era complicada demais para envolver outro alguém.

Entretanto, parece que a outra Evie mudou de opinião rapidinho. Mas, se construímos algo tão forte, como eu posso não recordar?

- Evie? – O médico me chama.

Ontem, depois de Alex ter soltado a bomba, o doutor entrou para fazer algumas checagens e, nesse meio tempo, o remédio que eu havia tomado fez efeito, fazendo-me dormir à noite inteira. Pela manhã, Alex não estava no quarto. Chegou a pouco tempo, antes do meu almoço, mas não me deu abertura para questionar "a bomba".

Depois, o médico me chamou em sua sala para termos uma conversa sobre a minha situação. Conversa essa que eu não prestei atenção até agora, por ficar divagando em pensamentos.

Qual é? Acabei de descobrir que sou casada com Alex Rocksby. Ah, e não se esqueça que faz pouco tempo que acordei de um coma e descobri que se passaram dez anos.

- Sim? – Sorrio.

Alex me olha de maneira receosa. Parece que todos ficam receosos perto de mim, como se esperassem o momento que eu vou quebrar. Ei, posso estar confusa e desmemoriada, mas não sou uma mocinha em defesa que precisa ser salva. Me cuidei a vida inteira e vou continuar assim.

- Eu estava falando para você e para o seu marido...

Tento não fazer careta.

Meu lábio treme.

Falho.

M-i-s-e-r-a-v-e-l-m-e-n-t-e.

- Que sua perda de memória foi devido ao impacto da batida. Ela pode ser passageira, mas na maioria dos casos os pacientes não recuperam a memória, ou se o fazem são somente pequenos fragmentos. O lado bom é que nós não achamos nenhuma sequela, por isso, o que mais nos preocupava era o coma. Contudo, você acordou e seus exames estão ótimos, você está bem, Evie.

- Eu estou bem... – Sussurro, retorcendo a mão em meu colo, para não perceberem que estou tremendo – Eu...eu não estou bem – Levanto minha cabeça e encaro o médico. Torço para a minha voz não tremer e o bolo na minha garganta descer – Estar bem é acordar achando que você está em um pesadelo? Estar bem é acreditar que você possui dezessete anos, mas na verdade tem dez anos a mais e não sabe o que fez durante esse período? Estar bem... – Engulo o choro, falhando, novamente – É....é não saber mais quem você é, quem você se tornou e quem quer ser? Estar b.... – Um soluço escapa da minha boca. Cubro-a com a mão, tentando conter a emoção – Desculpe – Levanto-me.

- Evie, acalme-se – O médico se levanta, tentando apaziguar a situação.

Balanço a cabeça. Ouço Alex se levantando, quando me viro de constar para me conter.

- Não peça para ela se acalmar! Como você pode dizer que ela está bem? Sim, ela não tem sequelas, está bem fisicamente, mas ela não se lembra da vida dela, doutor! Ela não se lembra quando entrou na faculdade. Ela não se lembra como e quando conheceu Evangeline. Ela não se lembra das suas realizações. Porra! Ela não se lembra que eu sou o seu marido! Então não peça para ela se acalmar, porque ela deve chorar e lamentar por tudo que perdeu.

O médico permanece estático. Não aguento mais. Saio da sala, indo em direção ao meu quarto. Alex me segue.

- Ei... – Ele agarra a minha mão, mas puxo.

Seus olhos brilham

Dor

Os meus ardem

Lágrimas.

- Eu...obrigada, por aquilo... – Aponto para o final do corredor – Mas não posso fazer isso. Não agora. Não com você. Eu preciso ficar sozinha.

Alex olha para o chão, vejo que ele se mantem firme, porque isso não é sobre ele, é sobre mim. Isso é sobre os anos que eu perdi, os meus sentimentos e a dor que me rasga.

Ele assente

Ele se vira

Ele anda

E eu?

Meu coração acelera

Meu coração para

Meu coração dói.

Com amor, para a minha garota.Onde histórias criam vida. Descubra agora