Hyunjin podia ver, da janela do estúdio que ficava no segundo andar do prédio, a movimentação incomum do outro lado da rua. Insadong era um bairro conhecido por receber tanto turistas quanto locais, e, para Hyunjin, o melhor lugar da cidade para obter inspiração. A união de becos e ruas estreitas conectadas pela rua principal era a mistura perfeita de tradição e modernidade, e, quando atravessava o bairro para chegar na escola de artes, adorava fotografar detalhes para tentar reproduzi-los com as próprias mãos durante as oficinas semanais.
A rua da escola de artes não era tão estreita, os carros passavam esporadicamente, mas aquela aglomeração era nova para ele. Frequentava a escola já fazia um ano, usando parte de seu salário para pagar as aulas e comprar os materiais caros. Os pais, um casal de arquitetos muito renomado na sociedade coreana, não achava que o gosto de Hyunjin para a pintura fosse levá-lo à uma carreira renomada e bem-sucedida, simplesmente porque se distanciava demais do legado da família Hwang. O design gráfico havia sido uma opção razoável, não tão bem aceita pelos pais, mas pelo menos aceita, e o design não caminhava tão longe da arquitetura, tanto que a agência na qual Hyunjin era diretor de arte era parceira do escritório de arquitetura dos Hwang. Design não era sua maior paixão, mas pelo menos tinha liberdade criativa e não precisava entender de números, como era na arquitetura. Suas notas péssimas em matemática, principalmente em trigonometria, estressaram os pais à ponto de ficar de castigo durante todo o ano letivo, até eles perceberem que não tinha jeito, o garoto nunca seria bom naquilo. E, então, Hyunjin estudou para entrar na faculdade de design.
Como pagava as aulas de pintura com o seu dinheiro, não era como se precisasse dar nenhuma justificativa para os pais, que sempre fingiram que sua paixão pelo desenho não existia. Trabalhava horas exaustivas na agência de design, estava criando um nome no ramo — principalmente por ser um Hwang — e era tudo o que importava para a família. Hwang Hyunjin, um homem bem-sucedido naquilo que havia escolhido — ou meio que escolhido — e que sustentaria o sobrenome Hwang com muita honra e dignidade. Segundo seu pai, se desse sorte, algum de seus netos seria arquiteto e tudo ficaria bem. Porque, é claro, Hyunjin teria mais de um filho, para que não corresse o risco de o sobrenome Hwang se perder na área da arquitetura caso a criança também quisesse ir para outro ramo. Não havia a opção de Hyunjin ter só um filho ou mesmo nenhum. Era de dois para cima. E não era como se Hyunjin tivesse escolha, aquilo era uma expectativa tão óbvia e indiscutível que nunca de fato pensara em outras opções para a própria vida. Seu destino já havia sido escrito pelos pais, que aturaram o suficiente quando Hyunjin não virou arquiteto.
As aulas de pintura eram seu escape, seu melhor momento da semana.
Ser designer gráfico de nada adiantava para que os pais compreendessem a importância da arte em sua vida. Para eles, Hyunjin apenas sentava na frente do computador e ganhava dinheiro com isso. O que a profissão representava ou não para si não era importante para os Hwang, o que importava era o legado, construído seguindo tendências minimalistas que garantissem clientes de sobrenome relevante na sociedade.
Então, os pais nunca compreenderam o que significava para Hyunjin um papel ou um quadro em branco, e as horas seguintes preenchendo o vazio com linhas, traços e cores que saíam direto de sua imaginação. Se não era tendência no gosto do público-alvo, não valia a pena perder o tempo tão ocupado deles.
Ali, na escola de artes, durante as aulas de pintura, era o único lugar onde era realmente compreendido pela professora e pelos colegas, de idades que variavam desde crianças até idosos. Lee Minho, o dono da escola de artes, havia surgido em sua vida como uma benção vinda direto dos céus, um cometa gentil e sensível que mudara tudo para si. O mais velho havia sido um dos clientes de sua agência de design e pagara por uma identidade visual nova, e aquele projeto ficou nas mãos de Hyunjin.
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Rua dos Solitários | changlix / hyunchan
FanfictionNa rua dos solitários, todos se sentem sozinhos dentro de seus universos particulares. Quando o destino os une, eles passam a ser solitários juntos. Hyunjin é um designer gráfico que frequenta aulas de pintura, sua verdadeira paixão. Já Felix freque...