Serás o meu amor, serás a minha paz

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Consta nos astros, nos signos, nos búzios
Eu li num anúncio, eu vi no espelho
Tá lá no evangelho, garantem os orixás
Serás o meu amor, serás a minha paz...

Ilana sentia a brisa do mar balançar seus cabelos soltos e escutava a mulher ao seu lado cantarolar o mpb que tocava no quiosque para qual rumavam. Lado a lado, onde eventualmente suas mãos se esbarravam, provocando uma corrente elétrica gostosa pelo corpo.
Não havia se acostumado com aquela sensação adolescente de borboletas no estômago que sentia ao estar com Gabriela.

O barulho do mar se misturava ao som da voz baixinha da médica e da melodia pela voz de Chico Buarque que dançava com o vento.

E mais uma vez as mãos se chocaram, e dessa Gabriela segurou, acariciando a outra com o polegar. Eram uma das primeiras vezes que saiam juntas, como um casal. Tudo era novo.

Ilana não fugiu do carinho, mas também não a encarou, apenas mirou o horizonte. Estava com um sorriso bonito no rosto. As bochechas quase coradas como se estivesse prendendo em si a felicidade que sentia, para que ela não saísse e se perdesse no meio da multidão que caminhava pelo calçadão da praia. Não queria que nada estragasse o que estava sentindo.

Consta nos autos, nas bulas, nos dogmas
Eu fiz uma tese, eu li num tratado
Está computado nos dados oficiais
Serás o meu amor, serás a minha paz

Ilana a olhou, observando como sua boca se mexia conforme ela cantava a letra doce da música. Sentindo vontade de parar e beijar sua mulher ali mesmo, no meio da rua, entre pessoas indo e vindo.
A meia luz do lugar a deixava mais bonita do que já era, a produtora pensou. Gabriela percebeu o olhar nada discreto de Ilana e riu parando a melodia, deixando os ouvidos da outra mulher com saudade do som.

-Porque parou? Continua! -Parou em frente ao quiosque segurando o braço da namorada, sacudindo em incentivo.
A risada gostosa veio em seguida.

-Deixa essa pro Chico, amor.

A médica ainda risonha puxou a cadeira de madeira do quiosque virada para o mar, e ofereceu para Ilana, que sentou-se.

-Que cavalheira. -Brincou.

-Cê viu? -Puxou mais uma, arrastando para próximo da outra e acomodou-se ali.

20 anos se passaram e elas quase podiam visualizar as duas meninas correndo na praia. Parecia outra vida.

Gabriela sentia-se viva como a muito não sentia. Era quase mágico imaginar que estava ali, com Ilana. Antes, seu amor da adolescência. Hoje, sua namorada. Poder segurar sua mão sem medo e apresentá-la a conhecidos da forma como sempre quis. A Gabriela de 17 anos ficaria orgulhosa.

Consta na pauta, no Karma, na carne
Passou na novela, está no seguro, picharam no muro
Mandei fazer um cartaz

-Serás o meu amor, serás a minha paz -Gabriela sussurrou, com o rosto próximo ao pescoço de Ilana, sentindo o perfume bom e familiar.

Ilana olhou em volta, sorrindo. Eram anônimas naquele festeiro fim de noite do Rio. Eram apenas mais um casal ouvindo Chico em um quiosque qualquer. Virou-se, e como havia imaginado, seus rostos se encontraram. Houve um leve roçar de nariz, antes dela sorrir de olhos fechados e sentir seu sorriso ser beijado de leve, tão leve quanto a música, tão leve quanto ela estava se sentindo.

O mesmo gosto de amor. O mesmo gosto de paz.










Oi! olha eu aqui de novo! (dessa vez é beeem curtinha)
Mais alguma coisa que saiu de não sei onde, espero que gostem! (E me perdoem os erros, não revisei e mesmo que eu revise eu me distraio e não consigo ACHAR de cara aí fico nervosa e desisto 😭

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