Introdução

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   Viver em uma fraternidade não é fácil, o convívio é complicado e exaustivo, as divergências de opinião e de vivência as vezes falam mais alto. Mas tem suas vantagens, como ter com quem dividir as tarefas e ter companhia nos piores dias.
    Agora, imagine você, tendo que conviver com sete pessoas, dos mais diversos estados do Brasil. Com muitas divergências e opiniões, com as mais diversas opções de vida e sendo a única garota desse ambiente. Ah isso tudo nos Estados Unidos.
   Acho que você ficaria assustada, mas eu convivo bem com isso.
   Nós moramos em uma fraternidade de brasileiros na universidade Yale, somos nove aqui definitivamente, mas existem outros brasileiros que fazem parte do nosso grupo. Viemos pra cá de várias parte do país, com muitos costumes e jeitos diferentes, mas com os mesmos desafios, por isso nos unimos.
   Eu moro aqui a quase dois anos, mas vários dos meninos já estão aqui tem anos.
   No início da fraternidade tinham outras garotas, mas com o tempo ficaram só os meninos e depois eu vim. Foi estranho no começo, mas eu já conhecia eles, até trabalhei com um deles no Brasil, me acostumei. Eu tive medo do que poderia acontecer, mas eles sempre mostraram ter respeito e serem prestativos.
   Hoje nós temos um convívio harmônico apesar das diferenças, vivemos tentando respeitar e aprender com nossas diferenças.
As vezes a gente briga e se estressa muito com os outros, mas geralmente conseguimos resolver isso. Nós temos muitas diferenças e preocupações, além de termos que lidar diariamente com o preconceito e descriminação.
    Nossa casa abriga pessoas de seis estados : Rio de janeiro, São Paulo, Amazonas, Ceará, Goiás e Santa Catarina.
    Aqui moram: O Edu, que tem 23 anos e faz biomedicina e veio de Sampa. O Caio de 23, faz ciências da computação e é de Goiânia. O Miguel que é de Manaus, faz medicina, de 22 anos. O Matheus que cursa fotografia, de 24 e também de São Paulo. O Joaquim de Fortaleza, faz econômica de 24. Do Rio tem o Rodrigo com 24 anos e faz direito. E tem o Pedro que é catarinense, de 22 e faz música. Ah, tem eu também que sou do Rio, mas do interior.
    Eu vim estudar direito no ano passado, antes eu estive na Duke, mas tive uns problemas e vim pra Yale ,foi aí que eu conheci os meninos, a fraternidade e o grupo de brasileiros que estudam aqui. Foi muito bom encontrar apoio aqui depois de tudo.
    No Brasil eu morava com minha tia avó Eva e minha avó Olivia, elas e meu padrinho são minha única família, já que todo o resto da família faleceu em um acidente quando eu tinha dois anos.
    Meu padrinho também perdeu a família no acidente mas nunca se afastou de nós, mesmo aqui nos Estados Unidos. Esse foi um dos motivos que me fez vir pra cá. Nos últimos anos ele teve cuidando do que sobrou da família, sempre ia ao Brasil e quando não conseguia viajar ligava pra saber como as coisas estavam. Ele é meu exemplo de pai.
    Ele é dono de um companhia de carros esportivos, a "Gret's company". Eu também trabalho lá, mesmo que não tão ativamente por conta da faculdade, gosto de saber como funciona a empresa da família. Sem contar que assim não me sinto uma completa aproveitadora, já que contribuo com alguma coisa lá.
    Eu e minha família também temos projetos em outras áreas, como centros de preservação a natureza e cultura e apoio a algumas Ong's. Eles me ensinaram que é certo ajudar aos outros e a vida, tenho orgulho disso. Sem contar campanhas de natal e outras datas em vários países.
    Nós já sofremos muito e tivemos ajuda das pessoas, agora tentamos retribuir isso.
    Eu não me lembro dos meus pais ou da minha tia e prima que morreram no acidente mas sinto falta deles.
   Todos dizem que as mulheres da nossa família são parecidas e assim eu imagino como elas eram, mas não sei o que imaginar do meu pai. Ele também perdeu a família, já adulto, então não tenho com quem comparar.         Não é só olhar as fotos.
    Meu padrinho diz que eu lembro muito a filha dele, que parecia com minha mãe.
    Mesmo com tudo isso nunca me faltou amor ou carinho, nós sempre ficamos juntos,até agora que eu mudei de país e deixei minhas avós no Brasil, elas não quiseram vir por enquanto, gostam muito do sítio e da vida lá. Eu também gosto de lá, mas sempre quis conhecer o mundo como meus pais, foi assim que meu padrinho conheceu eles. Durante uma viajem com minha tia para o Colorado eles se encontraram, estavam no mesmo hotel, e não se separaram mais.
    Eu e meus amigos nos damos bem a maior parte do tempo, sempre tem uma briga ou outra, no início era um pé de guerra sempre mas isso mudou. Hoje a gente convive bem. Todo mês nos damos uma festa com algum tema brasileiro na fraternidade, assim todo mundo conhece um pouco do Brasil e dos nossos costumes.
    As primeiras festa não foram como o planejamento, a gente não sabia como fazer isso, foi complicado fazer as pessoas entenderem o espírito da coisa. Aos poucos fomos conhecendo outros brasileiros aqui, eles ajudam a gente com as festas, sem contar os comércios com coisas do Brasil.
    Quanto mais brasileiros com a gente menor o preconceito que sofremos. Os estadunidenses tem umas ideias muito doidas sobre a gente, uma vez ouvi que eu não podia ser brasileira porque não pareço uma e nem sei sambar. Também somos muito assediadas, sempre tem uma piada sem graça ou alguém falando que somos "putas latinas". Esse foi um dos motivos de nos unirmos.
    Mesmo com tudo isso eu consigo viver bem aqui, aprendi a me defender e tem os meus amigos também que estão sempre do meu lado.

Diário de uma intercambista desastrada Onde histórias criam vida. Descubra agora