Parque

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  Depois daquele pequeno surto nós fomos até um parque um pouco longe da movimentação da cidade, precisava de paz. Pegamos um lanche no caminho e estamos aqui agora, com a vista da cidade como companhia.
  Eu não estou confortável com o que aconteceu, não pelo que eu vi, mas pelo que o lugar significava. Era meu refúgio, um lugar longe de toda maldade e medo, e ele destruiu isso. Eu sei que ele não tinha ideia do que fez, para ele é só mais um lugar.

- Não vai comer? - Peter me tira dos pensamentos mostrando meu lanche intocado.

- Não tô com fome - não me importo em disfarçar a mágoa.

- Você quase não comeu hoje - Edu diz ao meu lado. - tem que comer, pelo menos um pouquinho.

- Eu não quero, tô sem fome - digo saindo. - vou dar uma volta, não vou demorar.

- Não vai longe, se demorar mais que meia hora vou te procurar - Edu avisa sério e eu assinto.

  Coloco os fones e começo a sair, só preciso ficar sozinha um pouco, hoje é um dia estranho. Talvez seja mesmo a minha TPM ou só o que significa essa data, era pare minha mãe fazer aniversário hoje.
   Por mais que eu não lembre muito dela, eu ainda sinto falta. Minhas avós sempre me mostraram os vídeos da família, eu queria lembrar daquilo sozinha, mas não consigo, não lembro da voz deles, só por vídeo. As vezes é complicado.
   E também tem tudo que aconteceu hoje, o que aconteceu com o Nick me fez sentir culpada. O que aconteceu no ateliê me fez sentir raiva, eu queira voltar lá e falar com ele, dizer que não podia fazer aquilo com o meu lugar. Ele é um idiota!!
  Acho que andei demais, não tô vendo o mirante nem os meninos, que merda, como que eu vou voltar?? Tem alguma coisa fazendo barulho, meu Deus, vou morrer. Acho melhor eu correr.

- Aaaaaah, caralho - puta que pariu, tem alguém me segurando. - me solta!! Socorro! - eu tenho que me soltar. - Pelo amor de Deus! Me solta, eu sou muito nova pra morrer - ele tá rindo? Meu Deus! - me solta seu maluco!

- Você tá com tanto medo assim? - ele pergunta ainda rindo, a voz é bonita, eu vou morrer e tô pensando nisso.

- Moço, não me mata, por favor - aí Jesus, me desculpa pelas coisas que eu fiz.

- Você tá chorando? - ele ri mais ainda de mim, pera, eu tô chorando? - eu não vou te matar.

- Moço, me solta - Deus, eu paro ler putaria, só me tira daqui. - nem dinheiro eu tenho, eu não vou falar pra ninguém, moço. Só deixa eu ir embora.

- Você acha que eu vou fazer o que? - ele parou de rir, fudeu.

- Moço, eu nem te conheço, eu juro que não conto nada - pra que eu fui vir aqui. - nem vi sua cara, me deixa ir embora.

- Já disse que não vou te matar, nem te fazer mal - ele começa a me soltar. -  só não corre - ele acha mesmo que eu vou obedecer? - acho melhor não te soltar.

- Moço, não vou correr não, só não me mata.

- Eu já disse que não vou te fazer mal - ele grita e eu choro mais ainda. - Merda, para de chorar!!

- Tá bom, - como que para de chorar? - pode me soltar, não vou correr - misericórdia, tô fudida.

- Tá, vou te soltar - ele começa a afrouxar o aperto. - Não precisa chorar, não vou te machucar.

- Moço, pelo amor de Deus, pode levar meu celular, só me deixa ir embora. - como que ele não vai me machucar? Ele é muito mais alto que eu e mais forte, eu vou morrer.

- Caralho, já disse que não quero nada seu!! - pra que eu fui estressar ele.

- Então por que você me agarrou no meio do mato e no escuro? - ele me solta e me coloca na sua frente.

- Tem uns narcotraficantes na próxima clareira, - diz como se fosse a coisa mais simples do mundo. - Só quis salvar sua vida. 

- Não podia ter me chamado? Eu ainda tô tremendo - estendi as mãos.

- Eu chamei várias vezes, você não me ouviu - começou a me puxar dali. - e eu sei que você tá tremendo - ele disse com maldade, pervertido.

- Me solta! Que mania de me agarrar! - tentei me solta mas ele me impediu.

- Eu salvo a sua vida e é assim que me agradece? - ele se finge de ofendido.

- Por sinal, não pedi sua ajuda - que idiota, mas até que é bonitinho.

- Da próxima vou deixar você se fuder!

- Não vai ter próxima! Agora me solta! - grito e ele tapa minha boca.

- Cala boca! Quer matar a gente? - ele volta a me puxar. - Só pode ser maluca mesmo!

  Filho da puta, me chamou de maluca! Vou morder ele pra ver se aprende a não me chamar assim.

- Puta que pariu, - ele tira a mão da minha boca e começa a me xingar. - Tá doida, porra!

- É pra você aprender a não me chamar de maluca! - dou um pisão no pé dele. - e doida é a mãe!

  Começo a correr procurando os meninos ou o carro, não paro nem olho para trás. Finalmente vejo o mirante e o carro, chego perto deles ofegando.

- Já tava indo te procurar - Edu diz vindo até mim. - Que aconteceu? Você tá vermelha.

- Você viu alguma coisa? - Peter pergunta chegando perto.

- Vamos embora, entra no carro.

- Que aconteceu? Tá me deixando preocupado - Edu começa a pegar as chaves.

- No caminho eu conto - vou para o lado do carona. - Anda gente! Vamos.

- Tá, vamos - Peter concorda ainda sem entender.

Diário de uma intercambista desastrada Onde histórias criam vida. Descubra agora