Introdução

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Estou ferrado.

Faço as malas o mais rápido que posso pegando somente o essencial, enquanto faço a ligação que irá me salvar ou me condenar. Minhas mãos tremem de leve conforme digito o número no celular. O telefone começa a chamar, então ouço passos do lado de fora do apartamento e congelo instantaneamente.

Eles não podem ter chegado tão rápido... Como me encontraram?

Se eles chegarem aqui antes de eu ir embora, não tenho para onde correr. O apartamento fica no 20º andar, ou seja, sem chance de escapar pela janela sem virar uma panqueca sangrenta lá embaixo. Não há onde me esconder aqui dentro. Com um quarto e um banheiro, não tem como me encobrir sob o chuveiro ou embaixo da cama - mesmo que seja humilhante, seriam as minhas únicas opções se eu quiser viver.

Eu espero. Os passos continuam vindo e indo. A tensão é esmagadora, especialmente pelas vozes altas e exaltadas. Sei como eles estão furiosos comigo. É provável que estejam discutindo como irão me torturar, onde vão atirar primeiro ou se vão somente me matar e pronto.

Que merda!

Mas então, para minha sorte, os passos se afastam da minha porta e solto o ar que não percebi que estava prendendo. Ouço um pouco melhor agora que eles pararam de correr pelas escadas. Não acredito...

O vizinho Kyle e suas malditas festas que começam ás 3 da tarde, que só terminam sabem-se lá quando!

Ouço uma voz, o telefone.

- Alô? Ei! Alô? Jay é você? - a voz dela me arranca da paralisia momentânea e me joga de volta a realidade.

- Oi, sim sou eu, mas não me chame assim, eu não sou ele. - respondo com pressa. Eu preciso me mandar já daqui!

- Por que está tão tenso? O que aconteceu, Jamie? - indaga ela, acentuando meu nome. Ouço o medo na sua voz e sei o porquê.

- Não é o que você pensa, mas... Eu preciso da sua ajuda.

- Jay... Jamie... - a tristeza na voz dela me fere profundamente. - Eu não posso mais te ajudar com isso... Eu... Eu não...

O jeito que ela perde o fôlego e a decepção no tom da voz é como uma faca entrando fundo no meu coração. Eu jamais faria com que ela, ou qualquer outra pessoa de nossa família, passasse por isso mais uma vez.

Já fiz muitas coisas erradas na vida, porém aprendi com esses erros.

- Por favor, acredite em mim. Eu não faço mais aquilo... - respiro fundo uma vez. - Eu juro por... por Jason... que eu nunca mais fiz aquilo desde que saí. - sinto uma pontada no peito assim que digo o nome dele. Deixo que ela absorva o que eu disse. Ela sabe que eu nunca mencionaria o nome de Jason se não fosse sério. Nunca. - Eu preciso voltar. - peço.

A voz de Bill vem através do telefone, grossa e rouca pelos anos de cigarro e charutos mexicanos, fazendo com que uma fúria a muito adormecida acorde com força total. E eu sei que preciso me controlar, pois irei vê-lo muito em breve. Ela responde a ele sobre as esporas que ele vive perdendo de vista.

Ao que parece velhos hábitos nunca mudam.

- Venha então. Mas me diga o que houve, eu vou te ajudar, querido. - diz ela, resignada.

Sem perder mais tempo, pego as malas e saio rapidamente, contando para ela a trama na qual me meti. Entro no carro me sentindo aliviado pela primeira vez desde quando tudo isso começou, deixando essa maldita segunda vida para trás e voltando para minha antiga vida...

Voltando para o Texas.

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