need some time, need some space

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09/04/22

Depois de um tempo sem contato, talvez três ou quatro semanas, Louis está na casa de Harry.

Ele não costuma ir até lá porquê os pais de Harry simplesmente o odeiam. Mas quem poderia julgá-los? Um drogado, sem futuro e que já tem 23 não é o que Harry, de 19 e na faculdade de direito, merece.

(Palavras deles, apesar de terem preferido não dizer que também odeiam que Louis seja um homem).

Mas Harry tem o evitado. E Louis não aguentava mais sucumbir de saudades, então ir até lá foi sua melhor opção - apesar de agora ele estar um pouco arrependido.

A começar pelo rosto de Harry (mais saudável do que nunca em contraste com o rosto sem vida de Louis), negativamente surpreso quando abriu a porta e Louis estava lá.

- Lou? O que você tá fazendo aqui?

- Não sei, Hazza. O que o seu namorado está fazendo na sua casa depois de você passar, sei lá, mais de três semanas evitando ele?

Harry limpa a garganta, claramente envergonhado. Então ele murmura um "entra", dando espaço para Louis passar.

Com Louis com um rosto magoado já dentro da casa, Harry suspira e não sabe o que dizer.

- Lou, me deixa te abraçar? - ele pede, receoso.

Louis nega com a cabeça, e Harry sabe que ele está pensando em o quanto ele é inacreditável, mas abre os braços para acolher seu garoto mesmo assim, que é rápido em afundar o rosto no pescoço dele.

- Eu senti saudade, sabia? - o mais velho diz baixo depois de algum tempo.

- Eu também, Lou, muita. - sua voz é relutante e abafada.

- Vai me dizer por que você tá me ignorando?

- Não estou te ignorando.

- Você mal está falando comigo, Harry.

Harry tira o rosto do pescoço inundado da colônia cheirosa dele para olhar nos olhos de azuis e dizê-lo: - Louis, eu... Quero terminar.

Depois disso, Louis entrou em transe. Havia um borrão em sua mente que simplesmente o levou para o quarto de Harry, para sua cama, o escutando dizer que: - Pela primeira vez, Louis, em quase dois anos eu estou pensando em mim mesmo ao invés de pensar em você. Isso é um grande avanço, por que não consegue ver?

Louis consegue.

É óbvio que ele consegue quando em algo entre apenas três e quatro semanas as bochechas de Harry se tornaram mais coradas, suas olheiras menos aparentes, suas roupas mais apertadas, as batidas frenéticas na porta do seu apartamento cheirando a fumaça e bebida - acompanhadas de um suspiro de alívio quando Louis abre a porta e está vivo - menos frequentes e os "Eu te amo" escassos.

Mas ele não quer aceitar.

E ele se odeia por isso, por ver seu menino estar bem por estar se afastando cada vez mais de si e não aceitar isso, mas como caralhos ele vai viver sem Harry? Ele realmente não sabe.

- Me desculpa, Harry. - ele diz, com os olhos desesperados. - Por favor, não faz assim, você sabe que eu preciso de você.

Harry deixa o tom cauteloso de lado quando fala:

- Louis, você está jogando baixo. Você sabe que eu não posso mais fazer isso. Eu precisei de tempo, de espaço para pensar em tudo isso e eu não consigo, eu- eu já me sacrifiquei demais. - sua voz é alta e a dor nela é clara. Uma carga muito, muito ruim toma seu corpo quando ele escuta essas palavras.

- Eu sei... - Louis diz, num sussurro que não teria sido ouvido se a casa não estivesse em total silêncio.

Harry sabia que suas palavras eram difíceis de ouvir. Não foi uma decisão fácil se afastar de Louis e com certeza também não é uma terminar com ele. Não quando ele passou um longo ano e dez longos meses esquecendo de suas próprias necessidades para se preocupar com Louis, para estar ali para ele.

- Amor, meu amor, por favor. Não faz isso, eu- eu juro que vou mudar por você, eu vou parar com toda essa merda, não termina comigo... - ele se levanta da cama e se ajoelha na frente de Harry, sentado na cadeira da escrivaninha cheia de livros da faculdade.

O mais novo coloca suas mãos nas bochechas de Louis e analisa seu rosto. Suas olheiras e maçãs do rosto tão fundas, seus olhos cansados e cheios de lágrimas. Ele odeia vê-lo tão abatido. Ele quer, ele precisa, que isso acabe.

- Louis, você tem que parar por você, não por mim. E é por isso que eu estou terminando. Eu vou estar de portas abertas para você sempre, Lou, sempre. Eu te amo. Mas eu não consigo mais dar tudo de mim e deixar isso me consumir assim. - a esse ponto, as lágrimas já molham o rosto magro do mais velho.

- Me perdoa. Eu te amo tanto.

- Não é sua culpa, meu amor. - ele beija sua testa e limpa suas lágrimas. - Eu apenas não posso deixar você continuar dependendo tanto de mim pra te salvar do seu vício. Você entende isso, sim?

- Sim, Solzinho. - ele sussurra.

É claro que ele entende.

Ele sente em seu âmago um misto de angústia e alívio.

Angústia porque o que sente por Harry é tão grande e intenso. O amor imenso pelo mais novo é a parte mais bonita de si, ainda que ele tenha toda aquela atormentadora dependência nele. Então ele não sabe se vai ter alguma ideia de para onde seguir sem ele.

Alívio porque o seu menino inteligente é forte o suficiente para conseguir se priorizar dessa maneira e se desprender de Louis sabendo que, de certo modo, sua saúde mental é o que ele deve sobrepujar agora. E ainda sim, garantir a Louis que vai continuar ali caso em algum momento ele esteja tremendo no chão e vomitando suas tripas após uma madrugada fora.

É claro que ele entende.

E é por isso que, com um último beijo com gosto de próximo capítulo em seu amor, Louis vai embora e passa os próximos meses que seguiram sem contatar Harry.

That's WhenOnde histórias criam vida. Descubra agora