Meus olhos ardiam.
Quer dizer, não tanto assim, não é uma coisa que se diga: "nossa, pobre coitado, como ele está sofrendo com os olhos irritados, chamem uma ambulância!". Mas, de qualquer forma, as horas que passei no escuro, olhando para o monitor do meu computador, cansaram a minha vista.
Parei de editar o vídeo que estava quase pronto, tirei meu headset e busquei meu frasco de colírio sobre a mesa e pinguei algumas gotas em meus olhos.
Não era muito bom ficar tantas horas vidrado na tela, mas eu tinha muitos trabalhos acumulados para esse fim de semana; dois brutos de duas horas de gravação cada um, que tinham que virar vídeos de trinta minutos, além de mais quatro vídeos mais curtos, de brutos menores.
Era bastante coisa pra um dia só, principalmente porque alguns vídeos tinham edições mais trabalhadas e complicadas. Mas eu precisava de mais dinheiro, afinal, esse pc foda que eu tenho não deu em uma arvore, né?
Parcelei meu bebê em umas mil prestações, e era com ele que eu ganhava o dinheiro para pagá-lo. Chega a ser até engraçado.
Aproveitei essa pausa e levantei da cadeira para dar uma alongada porque é aquele ditado né? Não só de energético e lámen vive o homem.
Morria de medo de ter uma hemorroida por ficar muito tempo sentado, por isso fazia umas pausas e fazia exercícios por uns cinco minutos. Acho que nem deve fazer tanta diferença na minha saúde, mas é aquela coisa toda de efeito placebo.
Tomei um pouco de água de uma garrafa grande de um litro e meio que eu sempre deixava por ali para não acabar com uma pedra nos rins, e, enquanto fazia uma série de 15 agachamentos, comecei a ouvir o som de vozes vindas de fora do meu quarto. Duas eram conhecidas e rotineiras para mim, as vozes dos meus pais, já a outra, até então, era desconhecida.
E é claro que eu não ia sair para ver quem era. Se tem uma coisa que eu odeio é fazer sala para visitas, sério. Prefiro ficar no quanto e esperar irem embora para eu poder sair.
Continuei com meu agachamento muito do mal feito porque eu não aguentava ficar descendo até o chão ou demorando muito para subir de volta, aí já era demais pro meu sedentarismo.
Fiquei uns três minutos nessa brincadeira de sobe-e-desce chato e já estava totalmente esbaforido, com as coxas pedindo socorro, me perguntando mentalmente como existe gente que gosta de fazer exercícios. Foi quando ouvi a porta se abrir na minha lateral e vi a luz entrar no quarto escuro, que antes era iluminado apenas por algumas luzes fracas de LED na parede.
Ignorei esse fato porque meus pais sempre vinham para o meu quarto algumas vezes por dia, para ver se eu não tinha morrido à míngua de tanto tempo que eu fico entocado no meu cantinho.
— Filho? — A voz feminina soou pelo ambiente, não dei tanta atenção, continuando com meus exercícios preguiçosos e tentando lembrar onde eu tinha deixado o controle do ar condicionado, porque eu já estava suando como se estivesse em um deserto e tinha que diminuir ainda mais a temperatura. Eu odiava calor.
— Oi mãe, tô só fazendo uns exercícios e...
Interrompi minha própria fala, com as pernas flexionadas, quase agachado de verdade, observei o homem que acompanhava a minha mãe. Um cara moreno, alto e esguio, com uma mochila de cores verde e amarelo nas costas, uma camisa nessas mesmas cores, com o logo da seleção brasileira de futebol do lado esquerdo do peito. Também tinha um risquinho na sobrancelha direita, um piercing na outra sobrancelha e outro no nariz, ambos do mesmo lado do rosto. Além da coisa que mais me chamou atenção; uma tatuagem grande no antebraço direito, com uma frase em um idioma que eu não conhecia.
O homem abriu um sorriso grande — que inclusive tinha um formato bem parecido com o de um coração — e acenou para mim com a mão direita.
— Filho, esse é o Hoseok, ele é intercambista e vai ficar com a gente por um tempinho.
Paralisei por alguns segundos, piscando os olhos em completa confusão.
— Nossa, como você aguenta ficar parado assim por tanto tempo? — O cara perguntou com um sotaque bem aparente, e só aí que eu percebi que estava agachado, minhas coxas ardiam como o inferno e meus joelhos quase tremiam.
Tentei voltar a ficar de pé, mas me desequilibrei, caí para trás que nem um saco de batatas e numa tentativa de me segurar em alguma coisa, meti a mão na mesa do computador antes de cair de bunda no chão.
É, eu cai que nem merda.
Minha mãe e o tal Hoseok me encaravam meio confusos em como eu tinha conseguido cair no chão daquele jeito todo espalhafatoso, meu tombo foi tão ridículo que seria digno de um filme de comédia com humor pastelão.
Olhei para cima, e, para o meu desespero, de alguma forma, exclui todo o projeto de um dos vídeos brutos de duas horas. O último vídeo que faltava, para entregar em poucas horas, todo o meu trabalho foi para o ralo em questão de segundos.
Eu tinha acabado de ser humilhado na frente da minha mãe e de um estranho, além de perder horas de trabalho por três segundos de um tombo ridiculamente constrangedor.
E isso era só a ponta do iceberg, só o começo da desgraça, se formos comparar com todos os outros perrengues desastrosos que aconteciam comigo sempre que estava próximo de Jung Hoseok, o tal brasileiro intercambista que virou minha vida de ponta-cabeça.
Historinha nova por aqui, espero que gostem :) S2
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솝 Host • myg + jhs
FanfictionYoongi só queria ficar sozinho em seu quarto, trabalhando e gastando seu tempo livre jogando counter-strike. Mas toda a sua paz e conforto teve fim assim que seus pais decidiram ser host family de um intercambista brasileiro. longfic(?) | comédia (...