Eu sempre fui obsecado por violinos de madeira escura, aqueles extremamente caros, tão caros que nem se eu vende-se alguns de meus órgãos para o mercado negro eu conseguiria compra-los. Porém, eu não vim aqui falar sobre violinos caros que nunca terei, eu vim falar sobre o garoto de cabelo loiro e pele rosada que eu também nunca terei.
Quando se é um perdedor, a vida não é tão gentil com você. Talvez você seja um perdedor por causa da falta de bondade da vida. Mas de todas as formas, as coisas não são fáceis e você precisa aceitar e seguir em frente.
Eu sou um perdedor. A vida me condecorou com o azar de ser o último pão do pacote, o ar na embalagem de salgadinho, o brócolis no prato infantil.
Desta forma, eu sempre tentei facilitar tudo ao máximo, porque eu sempre odiei sofrer. Eu faço check-ups médicos constantemente, levo meu carro no mecânico quase toda semana e sempre coloco uma garrafinha d'água na minha ecobag antes de sair.
Eu sempre consegui me esquivar de situações inoportunas, mas por algum motivo eu não consegui não me apaixonar por ele.
Parecia ser uma sina, um destino cruel que me fazia admirar até mesmo os seus defeitos. A paixão me consumiu com apenas uma troca de olhar.Eu o conheci pelos corredores da faculdade onde curso gastronomia, – uma formação discrepante em relação ao meu título de violinista –, o nome dele é Minseok. Desde aquele dia, eu comecei a admirar outra coisa além dos meus amados violinos e da minha coleção de panelas inox blue da Tramontina.
Se naquela época eu soubesse o quão brilhante e surpreendente ele poderia ser, eu, com toda certeza, não teria me aproximado dele. Se eu soubesse, eu teria tentado me poupar do futuro sofrimento que essa paixão me causaria.
Eu o via pelos corredores andando sozinho, apenas ele e seus fones de ouvido. Antes das aulas ele se sentava no gramado do campus e observava o céu azul. No intervalo ele se prendia em um mundo alternativo através dos seus livros. Eu o admirava de longe e me restringia a fazer apenas isso.
Mas isso não me deixava feliz. Eu não queria ser um coadjuvante ou um cidadão B na história da sua vida, eu queria o papel principal, ser o melhor amigo, o par romântico, aquele que mora em seus pensamentos a cada suspirar, aquele que ocupa um espaço em seu coração.
Eu nunca fui muito bom com interações, meu grupo de amigos era bem limitado, mas por Minseok eu decidi enfrentar os meus medos, eu decidi ser alguém melhor. Porque, pra mim, se fosse para fazer alguém rir com os meus gaguejos sem sentido ao dizer um simples "oi", eu preferia que esta pessoa fosse ele.
E por isso, certo dia, no horário de almoço, quando eu havia acabado de pegar o meu lanche no refeitório, eu decidi que me sentaria ao seu lado na mesa.
Eu estava nervoso. Meu coração batia lentamente, quase parando. Os meus passos se tornaram curtos e a minha mente, por um momento, cogitou desistir dessa ideia pretensiosa, afinal, o que eu falaria quando chegasse lá? Talvez um: “Posso me sentar com você?”, mas isso não seria incômodo demais?O que me motivava a continuar andando era o fato de que se eu não o fizesse, tudo continuaria da mesma forma; e eu não queria continuar vivendo como se não estivesse nutrindo um sentimento profundo por alguém, fazer isso era sufocante.
Quando eu estava quase lá, ensaiando mentalmente o que eu iria dizer, com as palavras na ponta da língua, Minseok fechou o seu livro, se levantou e foi embora do refeitório. E eu? Bom, eu permaneci parado em meio às mesas, tentando calcular o meu próximo passo. Por fim, eu me sentei no lugar onde anteriormente ele estava e concretizei meus planos. Era uma pena ele não estar mais ali.
Me sentindo parte decepcionado, parte idiota, eu comi minha comida sem apreciá-la. Minha mente turbulenta e pessimista roubava a minha atenção com o raciocínio de que qualquer aproximação sucinta não daria certo.
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Plutão
FanficKyung-Soo nutre um sentimento corrosivo em seu peito e de forma ignorante ele o chama de amor. Os dias se tornam semanas, as semanas se tornam meses, e ele percebe uma coisa importante: nem todos os finais tem como a última frase um "felizes para se...