✧ 𝐏𝐫𝐨𝐥𝐨𝐠𝐨 ✧

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𝒮𝑢𝑟𝑦𝑎


Faziam três dias que eu não comia, o faebane ainda sufocava qualquer resquício de magia que corria por minhas veias. Os gritos de horror faziam meus tímpanos tremerem e o ar úmido e abafado me sufocava mais ainda.

Seis dias sem ela, com certeza estava morta. Estendi a mão na direção dos olhos com uma única lembrança de minha amiga, uma mecha de seus cabelos negros como a escuridão da noite:

— Lyana... — Sussurei com o pouco de força que me restava.

Barulhos de passos ecoaram pelos corredores escuros das masmorras, cessando qualquer barulho dos demais presos. Juntei toda minha força e me levantei para ver quem era, já que meu olfato não era mais capaz de distinguir quem vinha.

Um forte calafrio percorreu minha espinha quando o olhei nos olhos. O rei de Hybern estava na minha frente, com seus olhos frios e o sorriso cruel. Finalmente, ele veio me buscar, havia chegado minha hora:

— Parece que a princesa não é mais tão nobre — Disse o rei, sua voz tomando conta de toda cela.

— Me poupe desse drama todo... Vossa Majestade — Respondi com desdém — Me conceda a honra de uma morte rápida.

Sua gargalhada sombria me arrepiou ainda mais:

— Sua hora ainda irá de chegar, mas, não agora.

— Então veio apenas para ter o prazer de me ver definhar meu rei? — Minhas palavras soaram mais como um grunhido de raiva.

— Está chegando a hora de voltar para Prithyan — Disse o rei de Hybern.

Medo tomou conta de todo meu corpo esquelético. Já não lembrava mais de quanto tempo havia passado presa naquele calabouço, mal se lembrava de como eram os raios do sol e a brisa fresca de primavera. Mas, voltar para Prithyan não era uma boa notícia, não, não. A guerra iria começar, e as próximas palavras do rei iriam trazer um dos meus piores pesadelos para realidade:

— Estamos com o caldeirão.

Não consegui esconder o terror nas minhas feições, o que fez o velho diabo sentir prazer com isso. O caldeirão era uma das maiores e também piores lendas, a criação de tudo, me lembro que as pessoas juraram coisas por ele e pediam por ele. Mas mesmo dentro de uma cela que mal cabia um humano de pé, eu jamais havia pedido nada ao caldeirão:

— Você mente — Respondi cuspindo em seus pés.

O Rei sorriu:

— Não perderia meu tempo vindo aqui para encher a cabeça de uma Grã-feerica de falsas esperanças... Prepare-se para voltar, Surya.

Ele virou as costas e começou a partir, me deixando com pensamentos incontroláveis de desespero:

— Onde ela está?! — Gritei — Por que matou ela?!

O rei parou por um momento, e virou o pescoço devagar, sem dizer sequer uma palavra.

Guardas passaram pelo rei carregando uma grande manta negra e a jogando dentro da cela ao lado.

O corpo de Lyana bateu com força no chão, revelando seu rosto completamente ensanguentado e machucado.

Senti meu coração bater como louco, me arrastei para grade que ligava nossas celas, esticando as mãos para tentar tocá-la. Ela tinha que estar viva, precisava estar:

— Um presente de despedida — Disse o Rei. Deixando aquele lugar sem nenhum pingo de qualquer tipo de sentimento que seja.

Lágrimas caíam sobre minha pele e eu mal conseguia respirar. A ideia dela estar morta era muito menos dolorosa do que ver seu corpo frio a minha frente. A fêmea que cresceu comigo naquele lugar, minha última esperança de família estava caída diante de mim.

Agarrei um pedaço da mortalha negra e a puxei para perto, conseguindo abraçá-la com força. Ainda conseguia sentir seu cheiro. Minhas lágrimas escorriam agora por seus cabelos enquanto eu me lamentava por nunca conseguir tê-la tirado dali.

Procurei por sua mão, percebendo que segurava um pequeno pedaço de pergaminho rasgado. Minhas orelhas se levantaram em curiosidade. Agarrei o papel com cuidado e o estiquei no chão sujo, forçado a vista para ler as escrituras que nele continha.

" Sua amiga não está morta. Tirarei vocês daqui em breve, fique atenta aos meus sinais.

- Jurian. "

As lágrimas se cessaram.

Corte de Luz e Sombras - Livro 1 - Fanfic ACOTAROnde histórias criam vida. Descubra agora