Amante lunar:

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O céu carmim tinha sobre mim um efeito apaziguador.

Eu estava machucado, e embora sempre esteja machucado é natural que um ferimento daquela amplitude me deixasse fraco.

O sangue havia parado de escorrer.

Faltava pouco então.

O entardecer estava tão lindo, sem nenhuma fumaça, ou nuvem aparente.

Somente o céu que se tornava da mesma cor do meu sangue e logo depois pendia para um azul tão escuro que parecia a própria sombra, fato seria, se aos poucos os pontos brilhantes não começassem a aparecer junto à enorme musa da noite.

Foi então jurando a lua, que percebi que tive uma vida boa e estava pronto para que ela me carregasse em seu abraço, estendi a mão, ou o que restou dela, para o alto, na tentativa de alcançá-la, contudo não sei ao certo quando meu braço pendeu.

Estava tudo tão frio e quente ao mesmo tempo, eu estava coberto de sangue, lama, poeira e lágrimas, mas me sentia limpo, limpo e feliz.

Minha visão ficou turva, eu não consegui mais ver a lua, e acho que essa foi a única parte ruim de morrer. 

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