Dia da caça:

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Silêncio

Tudo está em um hediondo e sepulcral silêncio

Ele esta parado, quase congelado. Os pés estão submersos em uma água negra e gelada, e se recosta em uma pedra úmida e fedorenta, fede a peixe podre e musgo.

- Por favor vá embora - suas mãos tremem, sua respiração oscila, ele fala consigo mesmo.

- Por favor vá embora, vá embora, por favor vá embora.

Ao longe vários estalidos arranhados e deslizantes são ouvidos, seguidos de baques aquáticos graves.

- Por favor, vá embora. Por tudo que é mais sagrado, vá embora.

Um rosnar é ouvido junto com o arrastar de algo. O grunhido é grave e rasgado como o soar de um crocodilo, contudo pequenos estalidos metálicos fazem o som reverberar mais na caverna escura.

O homem de cabelo preto e barba escanhoada prende a respiração, prende o fôlego como se qualquer alteração em seu corpo, causada pela ação de respirar, entregasse a sua posição com a mesma facilidade que a de um sinalizador.

O arrastar chega cada vez mais perto junto com o som de pedras caindo na água.

O rosnado fica mais alto, ele ainda recostado na pedra sente seu corpo enrijecer de medo e urina em suas próprias vestes.

- Por favor.

Uma gota cai em seu ombro

Logo em seguida um líquido espesso e pegajoso cai em sua cabeça, espalhando-se lentamente para os braços e tórax.

O rosnar cessa.

Cada milésimo de segundo torna o momento excruciante para o caçador de recompensas.

Cada fração de tempo decide por mais quanto tempo ele ficará vivo.

Ele ouve o som do deslizar se afastando e por fim solta o ar.

- Puta merda, eu sobrevi... - rapidamente sua fala é substituída por um grito excruciante de dor.

Ao iluminar com sua lanterna de bolso, ele avista em seu abdômen um ferrão enorme conectado a um corpo esguio e liso.

- Porra.

Ele avista a criatura. 

E a criatura o avista.

Livro relâmpagoOnde histórias criam vida. Descubra agora