𝐼𝐼

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𝐿𝑦𝑎𝑛𝑎


O fato de estar respirando ar fresco ainda era algo em que eu estava tentando me acostumar. 

Eu odiava dormir, meus sonhos sempre traziam Hybern de volta aos meus olhos. A podridão do calabouço e aquela sensação que o caldeirão lhe causava.

Já estávamos a seis dias no mar, nenhum sinal de perseguição até o momento. Toda noite eu olhava para o céu, contemplando as estrelas e minha própria companhia. Tentando se lembrar dela, e do rosto do futuro grão-senhor que a traíra em troca de nada:

— Como é lá? — Perguntei.

Anthon caminhou até meu lado. Com seus cabelos molhados penteados para trás e seu rosto pálido e delineado. O faebane começava a dar sinal de que estava se esvaindo de seu corpo, muito aos poucos, mas seus sentidos haviam começado a voltar. O olfato foi o primeiro deles. O navio todo exalava cheiro de humanos, felizmente não era o pior cheiro que havia sentido. Eu conseguia saber se Anthon estava perto ou longe apenas pelo cheiro roupas recém lavadas e frutas vermelhas que ele exalava. Sim, esse era seu cheiro:

— Nunca pisei em outro território feerico a não ser Hybern — Disse Anthon parando ao meu lado.

Recuei um passo:

— Não precisa ter medo — Disse Anthon sorrindo — Não somos aliados do rei, viemos trazer algumas mercadorias do continente a pedido de Jurian.

— Jurian — Respondi — Já ouvi péssimas histórias sobre este homem, que era louco.

— Ele pareceu louco pra você? — Perguntou Anthon.

Jurian. Seus olhos transmitiam um mix de sentimentos e segredos, carregavam até um pouco de loucura, mas seria eu ou ele? Não me lembrava de quantos anos havia sido mantida naquele local. O veneno seria capaz de consumir minha sanidade?

— Sim, louco em trair seu rei.

Anthon gargalhou. O som das ondas batendo lentamente no casco do navio:

— A noite está estrelada.

— Sim — Respondi — As estrelas que me fizeram mais falta durante esses anos, elas me fazem lembrar de casa.

Anthon sorriu de canto:

— Em breve estará de volta ao seu lar, sua amiga está se recuperando aos poucos.

— O curandeiro humano teve progresso? Ele não me deixa passar muito tempo com ela — Respondi.

As poucas notícias que eu tinha de Surya já reconfortavam meu dia:

— Ela precisa descansar — Respondeu Anthon com seriedade — Atravessar quase a matou.

— Seria interessante atravessar — Respondi — Já teríamos chegado a Prithyan.

Anthon sorriu olhando em meus olhos:

— A Lady está em um navio mercador humano, irá viajar de forma humana, ou se preferir pode ir nadando.

Minhas bochechas coraram e as orelhas se levantaram levemente, fazendo Anthon sorrir diante a situação:

— Não me chame de Lady — Respondi.

Anthon fez uma reverência debochada:

— A Lady aceita beber um vinho comigo? — Ele estendeu a mão em minha direção.

Uma quentura subiu por minhas bochechas ao escutar ele me chamando de Lady mais uma vez. Respirei fundo e resolvi aceitar seu convite.

Anthon era um humano bonito, comparado aos demais. Gostava de piadas e nunca falava sem seu ar sarcástico, além de ser um hábil espadachim.

Corte de Luz e Sombras - Livro 1 - Fanfic ACOTAROnde histórias criam vida. Descubra agora