═══ 𝐴𝑛𝑐𝑜𝑟𝑎𝑑𝑜𝑠 𝑛𝑎 𝐶𝑜𝑟𝑡𝑒 𝐸𝑠𝑡𝑖𝑣𝑎𝑙 ═══
𝒮𝑢𝑟𝑦𝑎
— Terra a vista!
Acordei sem fôlego aquela manhã.
A luz do sol cegava meus olhos. Tentei me sentar. Minha barriga não roncava e meus ossos não doíam, eu estava deitada em uma superfície acolchoada e limpa, bem longe daquelas masmorras.
Demorei alguns segundo para me recordar de tudo o que havia acontecido. A fuga, a ajuda de Jurian e a travessia. E minha última memória era o rosto de um macho humano me encarando.
Arrisquei me levantar da cama. Com sucesso. Eu estava em uma espécie de cabine do navio, vestia algo parecido com uma camisola longa de algodão. Minhas unhas estavam sem terra por baixo e meus pés tinham pequenas cicatrizes já fechadas.
Andei até o canto da cabine. Era bem arrumada para os aposentos de um navio. Havia uma cama, uma cômoda com alguns tipos de frascos que eu poderia chutar serem medicamentos e um espelho.
Meus cabelos era novamente loiros. Tanto tempo que eu não tinha o vislumbre de contemplar o meu reflexo, quase fui capaz de esquecer minhas próprias feições. Os olhos cor de âmbar continuavam os mesmos, apesar de um pouco abatidos. E meu rosto era mais maduro, eu não era mais uma criança.
Uma agitação do lado de fora da cabine fez minhas orelhas se mexerem. Caminhei ate uma estreita porta e a abri, revelando uma agitação imensa do lado de fora. Homens corriam de um lado para o outro, gritos vinham de toda parte.
Subi as escadas até o convés do navio. Havíamos chegado. Um enorme porto se estendia a minha frente. Feericos de todos os tipos caminhavam em terra firme, olhando com estranheza para os humanos que ancoravam no cais. Grão-feéricos de armadura faziam a inspeção do local. Suas armaduras de um azul marinho metálico reluziam com a luz do sol.
O clima estava quente e seco, parecia ser verão. A cidade se estendia até onde meus olhos alcançavam, por toda encosta junto a píeres, praias e pequenos mirantes. As construções eram de cores claras e telhados de barro vermelho, decoradas com vinhas e flores brancas, algumas com roupas penduradas no varal.
A melodia de diversas vozes que não emitiam sofrimento era como música para meus ouvidos. Ver pessoas era meu mais novo hobbie:
— Seja bem vinda a Adriata, princesa.
Me virei em direção a voz masculina e rouca. Era o homem, aquele, que eu vira antes de apagar:
— Eu me chamo Anthon — Disse ele fazendo uma reverência desengonçada — Tem uma pessoa ansiosa para te ver.
Lyana apareceu atras de Anthon. Seus cabelos negros esvoaçantes e seus olhos como constelações brilhando a luz do por do sol. Me atirei em seus braços a envolvendo em um apertado e longo abraço:
— Nós conseguimos — Disse Lyana.
Ela vestia uma larga camisa de botões de seda branca, um corselet preto e uma calça roxo escuro, quase preta, estava apertada em suas pernas magras:
— Onde estamos? — Perguntei olhando ao nosso redor.
As águas cristalinas batiam na costa de rochas brancas. O sol ia se pondo no mar, pintando os céus de laranja e rosa. Respirei fundo deixando toda a brisa marinha entrar em mim:
— É tão bom, sentir, o ar fresco.
Lyana sorriu para mim:
— Estamos na corte estival.
— Estival? — Perguntei Surpresa — Então chegamos em Prythian? Eu quero ver meu pai!
Corri em direção a rampa que ligava o navio a terra firme:
— Senhorita... recomendo esperar! — Disse o humano pálido.
Corri entre os marinheiros esbarrando em alguns, derrubando outros:
— Eu esperei por mais de cem anos! — Gritei correndo pela rampa — Eles fazem fronteira com a invernal! Meu tio Kallias irá nos acolher!
Bater em algo reluzente me acordou de minha histeria:
— Tio Kallias? Cara quem é essa garota? — A voz de Anthon soou baixa.
— Cavalheiros — A voz grave soou acima de minha cabeça.
Levantei o rosto segurando meu nariz que sangrava com a batida. Era um cavalheiro, alto e forte. Vestia uma armadura verde água que reluzia ao por do sol em tons de azul marinho:
— O grão-senhor solicita a presença de vocês.
☪ ☪ ☪
O castelo da Estival era grande e arejado. Com corredores abertos com vista para o mar. Colunas e arcos trabalhados em conchas ornamentavam o ambiente.
Os guardas marchavam em passos lentos nos acompanhando para onde quer que queiram, eles não nos diziam uma palavra:
— Lembrem-se — Sussurrou Anthon — Mantenham a boca fechada.
Ele e Lyana se encararam por um momento. Ainda era tudo confuso em minha mente, eu desmaiara em Hybern e acordara na Corte Etival.
No alto de uma escadaria uma bela moça nos aguardava. Sua pele negra em grande contraste com os cabelos brancos. Seus olhos azuis gritavam poder e suas vestes em azul celeste e dourado esvoaçavam com a brisa marítima do início da noite. Ela era linda, e como. Os guardas se curvaram diante a sua presença. Resolvemos fazer o mesmo por via das dúvidas:
— Sejam muito bem vindos a Adriata — Disse a linda fêmea.
Eu parecia uma simples humana perante ela:
— Eu me chamo Cresseida.
— É uma honra estar na presença de vossa alteza — Disse Anthon se curvando mais uma vez — Eu sou o mensageiro de Jurian.
A princesa enrijeceu o olhar:
— Prossiga.
Anthon deu um passo a frente. Os guardas automaticamente sacaram suas espadas na direção do pobre humano:
— Deixem ele — Disse Cresseida.
Anthon retirou um pergaminho do bolso e entregou nas mãos de Cresseida que o abriu imediatamente:
— Viemos em paz — Continuou Anthon — Para o bem maior.
O que Jurian estava tramando? Meu coração palpitou enquanto Cresseida lia o pergaminho com calma. A ideia de ser prisioneira novamente me apavorava. Comecei a suar frio.
"Se acalme" a voz de Lyana soou como um ronronar de um gato em minha mente, fazendo-me assustar "Você está suando frio"
Desviei o olhar até encontrar os olhos dela. Um sorriso travesso preenchia seus lábios.
"Como recuperou seus poderes?" Pensei, ela estava ouvindo, com certeza.
"No calor do momento" Disse Lyanna "Mantenha a discrição" Ela completou. Uma leve carícia tranquilizadora preencheu minha mente.
Cresseida franziu os lábios e me encarou com um olhar incrédulo:
— Levem-nos para os aposentos — Ordenou Cresseida — Se preparem para o jantar hoje a noite, o grão-senhor vai conhece-los.
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Corte de Luz e Sombras - Livro 1 - Fanfic ACOTAR
FanfictionApós anos sobrevivendo nos calabouços de Hybern, duas amigas conseguem escapar por um triz, retornando a Prythian. Lutando por seu lugar de direito na Corte Diurna e se estabelecendo dentro do círculo íntimo, Surya e Lyana tentam unir aliados para d...