03

107 15 6
                                    

Sem pensar muito, Chrissy puxou o telefone que ficava em sua mesa de cabeceira, discando o número anotado no papel menos de 24 horas antes e voltando a recostar o corpo na porta de madeira enquanto abraçava os joelhos. Seu coração começou a martelar no peito logo no segundo toque e ela estava prestes a desligar quando a voz respondeu do outro lado da linha. Chrissy tentou pronunciar qualquer palavra que fosse, qualquer coisa que não a fizesse parecer uma completa idiota, mas sua garganta parecia bloqueada.
– Existem trotes bem mais elaborados do que ligar para alguém e não dizer nada, sabe? – Eddie suspirou através do telefone depois de esperar alguns segundos.

–Eddie – A garota conseguiu chamar em um soluço choroso que parecia ser o que estava preso em sua garganta segundos antes. Agora que Munson atendera, ela não sabia mais o motivo pelo qual tinha ligado. Sequer sabia por que estava chorando tanto.

– Chrissy? – o tom entediado de Munson mudou imediatamente, tornando-se preocupado.

– Será que você.. - Ela fungou baixinho, tentando encontrar as palavras conforme controlava o choro. A essa altura ele com certeza já a achava uma idiota, então não fazia mais diferença. – Droga, desculpa. Sei que já te incomodei demais hoje mas.. você pode me buscar?

– Temos um contrato, certo? Caronas grátis e sem remorso para a princesa.

Com um sorriso fraco, Chrissy agradeceu e desligou após o garoto avisar que chegaria em dez minutos. Foi só o tempo de limpar a maquiagem borrada e prender novamente os cabelos em um rabo de cavalo antes de descer as escadas. Como ainda não passavam das 18 horas, seu pai ainda não havia chegado e, por sorte, o barulho do chuveiro indicava que sua mãe estava no banho. Sem ninguém ali para ver a van preta parar em frente à casa, a garota exemplar de Hawkings rabiscou um bilhete rápido avisando que estaria na casa da amiga Tina, seguindo em passos rápidos até o veículo onde Eddie esperava.

– Para onde, Cunningham?

Ele tinha um sorriso de canto no rosto assim que a garota entrou na van, mas este desapareceu imediatamente ao concluir que ela estava mesmo chorando no telefone. Antes que pudesse questionar qualquer coisa, Chrissy se recostou no banco e fechou os olhos, respirando fundo  e murmurando algo como "sua casa" enquanto se afastavam do lar dos Cunningham.

– S-se não for um problema para você, claro! Não quero ser intrometida e prometo que posso me comportar e não te atrapalhar em nada mas.. só... por favor, me leva com você.

– Problema algum, na verdade. – Ele assegurou tentando afastar o nervosismo de ter Chrissy pedindo para ir para casa com ele. Nem em um milhão de anos sonhou que algo assim se tornaria realidade. –Minha casa só não é...hm.. exatamente o lugar que se espera encontrar Chrissy Cunningham, mas você é definitivamente bem-vinda ao.. antro dos esquisitões.

Ela riu baixinho e voltou os olhos para a janela, observando o curto caminho até a casa de Eddie. Mal percebeu que já haviam chegado até ele abrir a porta para ela e seguirem juntos até o trailer estacionado.

–Ignore a bagunça, por favor. Parece que a faxineira não teve tempo de passar por aqui hoje e como não estávamos esperando a rainha do ensino médio resolvesse fazer uma visita... – Brincou, fechando a porta enquanto Chrissy caminhava até o meio da sala, girando em torno de si mesma para observar cada detalhe do interior do trailer com curiosidade.

– Você mora aqui sozinho?

– Ah, não. Com meu tio, Wayne. Ele está no trabalho agora e só volta pela manhã, mas acho que não se incomodaria com sua visita, de qualquer jeito. –Eddie correu uma das mãos pela nuca e parou ao lado da garota. –Posso te oferecer alguma coisa?

– Talvez uma água, por favor.

Enquanto ele ia até a cozinha, Chrissy sentou timidamente no canto do sofá da sala. As mãos no colo e os joelhos juntos faziam ela parecer uma boneca de porcelana no meio do cômodo bagunçado de Munson, e ele teve que conter a vontade de ficar admirando aquela visão quando voltou com o copo e sentou ao seu lado.

– Você quer conversar?

A garota deu um longo gole no copo antes de apoia-lo sob o colo e fitar o chão à frente. Ponderando por alguns instantes sobre falar ou não o que aconteceu, concluiu que era justo explicar o motivo do caos repentino.

– Jason. Ele.. estava na minha casa quando cheguei. Parece que a tática dele de lidar com a notícia de nós dois juntos foi correr para a minha mãe e dizer que fiz amizades ruins. – Ela mordeu o lábio e suspirou, mais uma vez encolhendo os ombros – Eu consegui enfrentá-lo e foi muito, muito assustador, mas não consegui fazer a mesma coisa com minha mãe e fugi como um esquilo assustado.

A raiva tomou conta de Munson enquanto ouvia Chrissy falar. Jason Carver era definitivamente doentio e, por mais que aquilo o assustasse, Eddie não pôde deixar de pensar quão injusto era que alguém como Chrissy estivesse numa situação daquelas. Segurando a vontade de afagar os cabelos loiros e confortá-la em seus braços, Eddie apenas suspirou pesadamente para afastar a raiva repentina.

– Ele não vai mais te assustar assim, Chrissy. Vamos pensar em algo, ok?

A garota assentiu, dando seu máximo para acreditar nele.

– Acha mesmo que vão acreditar que estamos namorando?

Eddie se inclinou pera pegar o copo vazio das mãos dela e apoiar sobre a mesa de centro. Um sorriso travesso surgindo nos lábios.

– Já convencemos alguns. Os pirralhos já te consideram a rainha do Hellfire, se quer saber.

Os olhos azuis brilharam. O turbilhão de perguntas que o resto do clube fez durante o almoço foi completamente diferente do clima na mesa dos jogares de basquete e líderes de torcida, mas mil vezes melhor. Ali, em pouco mais de meia hora, Chrissy sentiu que realmente se interessavam pelo que ela queria dizer, e não só por sua posição no time ou por ser a namorada troféu de Jason.

-Claro, Cunnigham. Uma rainha carismática conquista súditos facilmente, não sabia?

– Então você me acha carismática? – Chrissy estreitou os olhos para ele, usando seu melhor tom provocativo.

– Você é uma líder de torcida afinal. Estaria fazendo um péssimo trabalho se não fosse! – Eddie cruzou os braços e se recostou de lado no sofá, fitando a garota à sua frente com um sorriso anormalmente bobo.
Totalmente não apaixonado, claro.
É claro que ele não seria idiota o suficiente para voltar a gostar da garota que agora fingia ser sua namorada.

– Então.. eu prometi que não te atrapalharia vindo para cá, mas foi só o que fiz até agora. – Chrissy suspirou, virando o rosto para encarar Eddie de volta.

– Sinto muito te decepcionar, princesa, mas meus planos para esta belíssima noite de quinta feira não passavam de algumas horas de ensaio com a guitarra. Nada que eu não possa repetir em absolutamente todas as outras noites da semana.

Ouvir Eddie Munson chamá-la por apelidos carinhosos definitivamente mexia com algo dentro de Chrissy. Algo novo, energético e que a deixava estranhamente feliz, mesmo que não admitisse para si mesma.

– Será que... posso assistir a um desses ensaios qualquer dia?

Dear fake lover - Eddie Munson Onde histórias criam vida. Descubra agora