Marcado por uma tempestade

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Quando cheguei em casa meu pai estava sentado na na mesa da varanda com uma xícara soltando fumaça na mão.

Pelo aroma que exalava acredito que seja uma xícara bem quentinha de café, ele parecia não ter dormido nada.

O rosto calmo e gentil tinha rugas e olheras ao redor dos olhos, a barba mal feita e os cabelos grisalhos eram o charme dele... Ele já tinha entradas nas laterais, espero fielmente que a calvície não me atinja.

Ele me olhou com seus olhos castanhos e sorriu.
- Como foi na aula hoje amigão? - ele olhou por trás de mim e parecia procurar algo - Onde está a alegria dessa casa?

Revirei os olhos.
- Nice foi pra casa dela e o dia foi o de sempre, "normal" nunca vai ser com aquela garota, mas obrigado por  perguntar Roma.

Eu e meu pai somos e não somos próximos, na maioria das vezes eu o chamo pelo nome, o que no início deixava ele triste, o velho gosta de apelidinhos.

- Ah filho, não fale assim da nossa aniversariante. - ele olhou cabisbaixo pra xícara - Queria ter tempo para parabeniza-la, comprei até uns presentinhos... Sabe se ela gosta de pelúcias?

Olhei chocado pro velho.
- Você tirou o dia de folga por causa dela? - Balancei a cabeça descrente - Como o senhor sabia que era aniversário dessa peste?

Ele riu de maneira serena.
- Vocês dois são uma onda... Eu também sou amigo dela, acho bem difícil alguém conhecer a Nini e não gostar imediatamente dela... Tá, ela é excêntrica e tudo, mas é uma pessoa muito marcante.

- Bom saber que está do lado dela.
- Amigão eu estou do lado do "chipp" de vocês dois, ela é uma boa moça e vocês se dão bem... Me lembra muito sua mãe e eu. - ele pronunciou a gíria "shippo" errado.

- A mamãe também te tostava a paciência? - perguntei sarcástico.

Ele abafou uma gargalhada.
- Hehehe Nem me fale, sua mãe era a encarnação de drama, excêntrica e espontâniedade... Aqueles olhos cinzentos me deixavam louco.

Olhei pensativo pro meu tênis e desabafei com ele.
- Nice acha que mamãe me batizou de Narciso pelo narcisismo.

- Hehe É a cara da Nice - ele olhou pensativo pra xícara e parecia desenterrar memórias - Ah não, desde de muito antes de você existir, ela já tinha escolhido esse nome por causa da flor... Ela repetia todos os dias que você seria lindo por dentro... E como ela estava certa, você sempre foi muito cuidadoso, era birrento e manhoso, mas sempre cuidou muito bem da sua mãe.

Ele me olhou orgulhoso por um segundos, o rosto risonho parecia triste.

- Não sei se isso é verdade.- respondi por fim

- Hum... Eh não leve no sentido literal, por dentro é tudo uma meleca. - Ele sorriu do próprio pensamento - Mas sua mãe era uma onda... As vezes sinto falta dela.

Ele suspirou desviando a atenção pra sua caneca.

- Roma, o senhor acha que me pareço com ela?

Ele sorriu de orelha a orelha.
- Amigão, graças a Deus você puxou a beleza dela... Mas de resto, acho que você me puxou, eu era muito rabugento e sem graça.

- Você era? - perguntei surpreso.

Desde que me conheço por gente, meu pai sempre foi muito risonho e brincalhão, mesmo depois da morte da minha mãe.

Ele deu uma bicada rápida em sua xícara e me respondeu.
- Ah com toda certeza, eu era muito ranzinza sabe? sempre preocupado com minhas notas e minha imagem, mas ai veio a sua mãe... - ele olhava pra xícara pensativo - Não sei como ela pode se apaixonar por mim, nem de como ela aturou o modo que eu tratava ela no início, mas me lembro até hoje da vez que ela correu atrás de um gato de rua, tropeçou do nada e caiu no chão, eu como um perfeito idiota dei risada e fingir que não vê.

ꪀꪖ𝘳ᥴ𝓲𝘴ꪮ𝘴Onde histórias criam vida. Descubra agora