O céu nunca foi tão cinza

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E sufocante a sensação de perder alguém, as lágrimas não são o suficiente, o grito nunca alto o bastante, e você não é capaz de fazer nada, é inútil
Lá se foi outro pedaço do meu coração, as vezes eu imagino quando ele vai ser estilhaçado por completo, quando a cola que prende seus pedaços não for suficiente e eu ceder e for destruída por completo

-Gwen....Gwen - Olho pra Sadie, ela tinha vindo me buscar no hospital junto com Lucas

Eu liguei pra ele, depois que fiquei "calma"

-Sadie... Sadie meu irmão, eu preciso ver ele

-Vamos pra mansão - ela diz calmamente

Fomos pro carro, Lucas estava nos esperando, eu não falei nada, eles já sabiam o que tinha acontecido, mas não disseram e nem ameaçaram dizer uma única palavra sobre

Chegamos na mansão, todos estavam na sala, meu irmão estava com eles, não sabia de nada, ninguém ousou a contar, isso era minha responsabilidade

-Wen! você viu a mamãe ? Ela já melhorou ?

Meu coração se apertou dentro do peito, eu respirei fundo e me abaixei

-Gus você sabe que a mamãe te ama muito né? - ele assente

-Ela vai pra casa logo ?

Neguei com a cabeça, tentando segurar o choro, olhei para os outros e voltei a atenção pra ele

-Gus a mamãe foi embora, foi embora pra muito longe e agora é uma estrelinha

-Wen... Cadê a mamãe ? - ele pergunta e os olhinhos se enchendo de água

-A mamãe morreu Gus, eu...eu sinto muito - fecho os olhos com força pra não deixar as lágrimas escorrerem

Abraço o mesmo e ele continua chorando, e depois começa a se debater e eu o solto, ele me olha os olhinhos vermelhos, as lágrimas escorrendo e lá se vai outro pedacinho do meu coração

-NÃO! E MENTIRA! EU QUERO MINHA MAMÃE!

-Gus... - ele sai correndo - Gus volta aqui

-Eu vou atrás dele - Diz Sadie, ela passa por mim

Eu arrumo a postura, e dou um longo suspiro, engulo seco e olho para os outros

-Eu...eu vou estar no escritório

O escritório era o único lugar que eu podia ficar sozinha, tranquei a porta, me sentei na cadeira

Quando eu penso que tudo vai ficar bem, a vida me joga um balde de água fria, mas desta vez foram facadas em minha alma, que vai deixar uma cicatriz, uma pra fazer companhia as outras

-Gwen... - Lucas entra na sala - Gwen eu...eu sinto muito

Eu arrumei tudo sozinha para o velório e enterro, ia ser amanhã, Lucas levou eu e Gus pra casa, ele queria ficar comigo, mas eu pedi pra ele ir

-Gus ? - entro no quarto dele e o garotinho não estava lá

Procurei ele pela casa, até que fui ao quarto de nossa mãe e ele estava lá, sentado na cama com seu urso de pelúcia e um porta retrato na mão

-Gus... - vou até ele e me sento na cama

-Por que mamãe foi embora ?

-Porque as coisas são assim - passo a mão no rostinho dele

-Eu odeio isso

-Eu também - dou um sorriso fraco - vem aqui

Ele deixa as coisas na cama e sobe no meu colo e envolve os braços em meu pescoço e descansa a cabeça no meu ombro

-Eu quero a mamãe de volta

-Eu também, mas agora somos só nos dois, eu vou cuidar de você como eu sempre fiz

-Promete que não vai embora - ele diz baixinho

-Eu prometo

-De coração ?

-De coração - o abraço mais forte

Dormi junto com meu irmão em seu quarto, ele acordou várias vezes e chorou, ele é tão pequeno e perdeu os pais.
Tenho que cuidar de Gus mais do que cuidava antes, ele é a única pessoa que eu tenho

Minha mãe tinha sido enterrada, todos tinham ido, Gus ficou do meu lado o tempo inteiro, a mãozinha quente e macia segurando a minha com força

-Eu vou levar Gus, tem certeza que não quer ir agora ? - Pergunta Lucas

-Tenho, podem ir

Ele assentiu, Gus estava no colo dele bem quietinho, estava triste e cansado, todos já estavam indo embora

-Quer que eu fique ?

-Não Aaron, pode ir, eu vou ficar bem - Ele coloca a mão no meu ombro e dá um sorriso reconfortante antes de sair

Todos se foram e eu fiquei sozinha, olhando pra lápide e pensando em tanta coisa, pensando no que eu poderia ter feito, pensando no passado e no futuro

Minha mãe disse pra eu seguir meu coração, devo escuta-lo, mas não disse qual pedaço dele

Meu coração são fragmentos, pedaços colados, e toda vez que ela se estilhaça eu busco os pedaços pra concertar, mas eu não sei quanto tempo a cola vai durar

Eu estou me afundando no mar escuro, e eu grito e ninguém me escuta e eu estou sufocando, me afogando.
Implorando as vezes por ajuda, as vezes pra morrer, as vezes só pra poder ter uma felicidade duradoura

Quando eu era pequena sonhava com tantas coisas, sonhava que poderia ter uma vida melhor, ser feliz, não sentir medo, não me sentir pressionada, mas eu era só uma criança ingênua e imatura que sonhava com uma vida doce e bela, mas quanto mais a gente cresce, percebemos enfim que não vivemos em um conto de fadas, que é muito difícil continuar com nossos sonhos

-Desculpa mãe, eu falhei com você, com Gus, eu.... me desculpa

E eu não choro, não choro porque não posso me deixar ser fraca

Não posso
Não posso
Não posso

Fecho o punho ao lado do corpo, respiro fundo

-Adeus mãe

Coloco as mãos no bolso do meu sobretudo preto, dou uma última olhada pra lápide, me virei e sai andando, o vento gelado faz eu me encolher de frio, o céu cinza, engraçado que o cenário condiz com a situação.





















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