I Want You ☆ Bang Chan

24| Encontro de Quase Casais

Depois de passar os últimos dois dias apenas existindo, eu resolvi dar a volta por cima. Não imaginei que saber que Letícia tinha mesmo ido se confessar para Chan mexeria tanto comigo. Meu dia ontem se resumiu em ficar deitada no quarto escuro coberta da cabeça aos pés, apreciando o doce sabor da depressão e da melancolia. 

Mas hoje não. 

O dia levemente ensolarado estava lindo e eu aproveitei para passear um pouco no jardim do hotel. Me sentei em um dos bancos e abri meu livro. O clima agradável me convidou a ficar ali por um bom tempo, o que queria dizer que eu conseguiria finalmente terminar de ler o romance que havia pausado diversas vezes pela correria que foram os meus últimos dias. 

Eu não sou a pessoa mais adepta à histórias de romances trágicos, mas A Cinco Passos de Você conquistou o meu coração logo de cara. 

Esvazio minha mente de preocupações e aproveito o momento ali. Respiro fundo o ar puro do jardim e sinto os raios de sol me mandarem uma energia boa. Viro a página do livro quando sinto meu celular vibrar no bolso traseiro do short. Puxo o aparelho e vejo na tela que era Christopher. Fico pensando se ele ligou para me contar sobre a Letícia. 

— Oi, Chan. Tudo bem? — atendo descontraída, fingindo não estar louca para saber sobre o acontecimento. 

— Tô bem e você? — ele pergunta e eu confirmo com um "uhum" — Atrapalho? 

— Claro que não, pode falar. 

— Tá ocupada agora? 

— Tô de bobeira aqui no jardim — estico minhas pernas no banco, as levantando do chão. — Por quê? 

Pode ser só loucura minha, mas eu podia notar que Chan sorria do outro lado da linha só pela forma que ele falava. 

— Vamos no cinema mais tarde? 

— Só nós dois? — pergunto, um pouco desconfiada. 

— Claro, né, Maya?! Quem mais seria? — ele ri de minha pergunta. 

Não sei, de repente poderia ser... 

A LETÍCIA. 

Eu nem sei porquê, mas estava irritada com Chan. Talvez por ele não ter me contado sobre a garota, ou talvez porque os dois ficaram sozinhos no quarto dele por não sei quanto tempo. 

Pensei em recusar o convite do garoto só para dar a ele um motivo para pensar "o que eu fiz de errado?", mas achei que poderia ser uma boa oportunidade para ajudar Felix a se aproximar de Maria. Eu posso levá-la comigo e pedir que Chan leve o irmão. 

É a desculpa perfeita que meu cérebro inventou para mim mesma. Afinal, eu já estava louca para aceitar o convite, só não queria dar o braço a torcer sobre isso. 

— Tudo bem, vamos! — fecho meu livro e me levanto animada — Mas tem algo que eu quero te pedir em troca. 

[...] 

Expliquei para Chan o motivo pelo qual ele tinha que levar Felix conosco para o cinema e o garoto aceitou prontamente. Na verdade, ele se animou com a notícia muito mais do que eu imaginei. Convenci Maria a ir com a gente e me certifiquei de que ela vestisse uma de suas roupas melhorzinhas, algo que pelo menos não estivesse rasgado ou cheio de manchas de ketchup. 

Coloquei um vestido curto azul claro que deixava os ombros à mostra e tinha um tecido leve e soltinho, perfeito para o calor que fazia. Minha irmã vestiu um short jeans preto com uma camiseta branca que tinha uma estampa muito legal de um de seus animes preferidos. 

A única coisa que temos igual é a aparência, porque de resto, somos completamente diferentes. 

Descemos até o hall de entrada e encontramos os garotos. Logo estávamos no shopping e fomos até a bilheteria. Foi engraçado ver os dois brigando para ver quem pagaria os ingressos, quando Maria e eu já tínhamos ido até um totem de autoatendimento e comprado para todos. 

Homens são sempre tão lerdos. 

— Chan e eu vamos comprar alguns doces, vocês podem ir pegando a pipoca? — pergunto à Maria e ela confirma. Olho para Felix e o lanço uma piscadela discreta, sussurrando para que ele aproveitasse o momento a sós com minha irmã. 

Caminho devagar ao lado de Christopher olhando as prateleiras da loja com toda calma do mundo. Seria bom dar a Lix pelo menos alguns minutos sozinho com Maria. 

— Você tem algum doce favorito? — Chan pergunta enquanto pega um pacote de balas na estante. 

— Kit Kat — respondo sem nem precisar pensar. — Se pudesse comeria só isso pro resto da minha vida. 

Chan sorri pelo nariz e sai do meu lado por um instante. Estava distraída olhando os produtos nos corredores da loja quando ouvi um gemido de alguém que se aproximava. Virei meu rosto para olhar e me espantei com a cena. Christopher suspirava tentando segurar nos braços uma quantidade absurda de barras de Kit Kat enquanto algumas caíam pelo caminho. Esse garoto ficou maluco? 

— Chan, o que é isso?! — corro para ajudá-lo a segurar os chocolates — Vai revender? 

— São para você, ué — ele abriu um sorriso orgulhoso e eu não pude deixar de achar aquilo extremamente fofo. 

— Tá doido? Eu não vou deixar você comprar um carregamento de Kit Kat pra mim — digo, ajeitando algumas barras de volta nas prateleiras. 

Vejo um biquinho se formar nos lábios do garoto, mas continuo firme em minha decisão, apesar de ficar com o coração partido só de ver a carinha triste dele. 

— Ok — suspiro por ter sido derrotada por sua carinha de cachorro pidão e ele comemora animado. — Mas vamos levar só alguns.

[...] 

Nós assistimos a um filme de super-herói e saímos do cinema teorizando sobre o que aconteceria no próximo filme da franquia. Presto atenção em Felix, o garoto estava tão calado que eu podia jurar que ele tinha ficado para trás ou se perdido do grupo. Logo ele, que não tem nada de introvertido, está praticamente mudo desde que chegamos. Penso numa maneira de ajudá-lo com sua timidez perto de Maria e uma lâmpada imaginária se acende acima de minha cabeça. 

— Por que não vamos jogar um pouco? Ouvi dizer que a playland daqui é bem boa — digo como quem não quer nada e vejo um sorriso surgir nos lábios de Maria. Eu já sabia que daria certo, porque ela é louca por esses joguinhos de shopping. 

— Vamos! Quero ver que jogos têm aqui! — ela diz animada e eu comemoro silenciosamente. 

Caminhamos apressados atrás da garota que praticamente corria para chegar logo até a playland. Logo avistamos as luzes coloridas que vinham das máquinas disponíveis no grande espaço. Aquilo era praticamente um parque de diversões inteiro e eu sabia que minha irmã ficaria ali por horas, seja com quem fosse. 

Vejo Maria correr para comprar fichas e Felix a seguir para fazer o mesmo. Eles voltam com as mãos cheias e eu penso que essa seria a hora perfeita para colocar meu plano em ação. 

— Puts! — desbloqueio meu celular e finjo ler uma mensagem, enquanto todos me olham confusos. — Esqueci completamente que preciso enviar minha parte de um trabalho da faculdade hoje. A Emily vai me matar se eu não mandar! 

— Ainda dá tempo? — Maria me olha preocupada e eu continuo em meu personagem. 

— Acho que se eu correr, dá — olho as horas no visor mais uma vez. — Já tá praticamente pronto. 

— Ah... então vamos embora — ouço sua fala chorosa e nego prontamente. 

— Vocês não vão desperdiçar todas essas fichas! — aponto para a mão deles e limpo a garganta em seguida. — Aliás, Chan, não tá quase na hora do seu ensaio também? 

Fuzilo o moreno com o olhar e ele tosse engasgado por um momento. 

— Ah, é, s-sim... tem razão! Eu já tô meio atrasado! 

Como ninguém se opôs, eu deduzi que todos estavam de acordo. Eles não tinham muita escolha mesmo.

— Então Chan vem comigo e Maria fica com Lix. Nos encontramos mais tarde no hotel, ok?! — digo, já me afastando dos dois enquanto puxo Christopher pela mão.

Maria ainda tentou falar algo, mas eu já estava longe demais para escutá-la. 

Desculpe, maninha, mas foi por uma boa causa. Me agradeça depois.