A câmera começa a gravar ainda nas mãos de Hinata. Isso o assusta, e o faz colocar o celular na escrivaninha rapidamente, ajeitando seu cabelo, sua roupa e o buquê de flores em suas mãos — cravos e tulipas. Ele suspira, tomando seu tempo, e então começa a falar.
— Oi, hm, eu sou o Hinata. — Sua voz sai meio esganiçada por causa do nervosismo. Ele limpa a garganta com um barulho e retoma. — Eu sou o Hinata. E eu estou arrumado assim porque vim fazer algo importante. Passei até perfume, é uma pena que vocês não vão conseguir sentir meu cheiro. Vocês podem me perguntar por que eu me arrumei tanto assim, e eu digo que a pergunta certa é: pra quem eu me arrumei tanto assim?
Hinata morde seu lábio inferior, se arrependendo de não ter feito um roteiro antes de começar esse vídeo.
— Eu gosto muito da Taylor Swift. Meu álbum favorito dela é o Folklore. Depois vem Reputation. E depois, Lover. Reputation e Lover são uma pessoa, eu acho, uma pessoa que eu poderia dedicar todas as outras músicas de amor da TayTay. Reputation e Lover são Kenma Kozume.
É uma satisfação imensa dizer seu nome em voz alta.
— Ou talvez sejam meus sentimentos por Kenma Kozume... Não importa! O que importa é que eu lembro de Kenma Kozume ouvindo Call It What You Want e Cornelia Street. Eu, hm, sinto por Kenma a mais pura e intrínseca paixão que eu algum dia poderia sentir por alguém.
Por baixo da mesa, fora da câmera, os joelhos de Hinata tremem.
— Eu sou todo errado. As vezes eu cometo erros demais. As vezes eu travo em momentos cruciais e fico sem dizer o que está entalado na garganta e acabo deixando pessoas importantes na mão. As vezes eu tenho que consultar o google no meio de uma conversa porque não sei que rumo prosseguir, não sei que decisão tomar e não sei como resolver algum problema ou oferecer uma ajuda. Posso ser muito insistente também. E as vezes um pouco ignorante. Kenma ainda não viu boa parte desse meu lado, e eu espero que ele nunca veja, porque é péssimo.
Hinata batuca os dedos na madeira, ansioso.
— Por outro lado, parece certo quando estou com Kozume. Eu sei o que dizer. Eu tenho confiança para dizer aquilo que eu quero dizer. As vezes eu travo, mas logo eu entendo como posso ajudar. Eu rio, eu faço piadas, eu tenho pânicos de baitola. E Kenma parece certo pra mim. O jeito como ele diz exatamente o que eu penso, como nossas mãos encaixam, como eu me sinto cada vez mais atraído na direção dele. Kenma parece um quebra-cabeças as vezes, mas eu sempre adorei exercitar a mente. ENTP, né, essas coisas. Tenho um carinho por um quebra-cabeças do pica-pau que comprei no início do ano passado.
Hinata faz carinho nas pétalas das tulipas vermelhas.
— Kenma é conversas de madrugada. Kenma é pedir uma música numa estação de rádio. Kenma é escutar o álbum novo do seu artista favorito pela primeira vez. Kenma é a sensação de provar alguma comida pela primeira vez e pensar, porra, essa aqui é minha comida favorita a partir de agora. É andar pela orla da praia, sentindo os pés afundarem na areia molhada. Eu não sei vocês, mas eu gosto da sensação da areia saindo de debaixo dos meus pés. Ele é sair para viajar de madrugada. É o silêncio, o barulho, e a companhia pra solidão.
Shoyo suspira, sorrindo em seguida.
— Quando eu penso em Kenma, não penso no meu amor por ele, não penso no meu desejo por ele. Talvez Platão estivesse errado quando disse que amor é desejo, e que quando você concretiza o desejo, para de senti-lo. Eu discordo. Quando penso em Kenma, penso na vida. Kenma é cada partezinha de se estar vivo, de desfrutar das pequenas coisas, de sentir preocupação. É viver e sentir cada sentimento, sejam eles ruins ou bons. Meu amor por Kozume está no mundo das ideias e no mundo dos sentidos. Eu imagino, eu sinto. Mas não é só desejo, eu sei que quando concretizar minhas vontades de ter Kenma só para mim, não vou parar de sentir elas.
O menino ruivinho volta a maltratar seu lábio inferior quando não está falando.
— Ele costumava dizer que tinha muitas inseguranças quanto aos meus sentimentos por ele. Isso sempre me deixou pensativo. Nunca fui de demonstrar muito meus sentimentos por ações, sempre foram por palavras, tanto que eu estou gravando esse vídeo. Talvez Kenma não acredite muito nas minhas palavras, em promessas e essas coisas. Talvez ele não acredite no brilho que há, não só no fundo do meu olhar, mas até na superfície quando eu enxergo ele. — Shoyo faz uma pausa, e em seguida faz uma careta, se sentindo piegas demais. — Eu amo Kenma Kozume. E eu acho que ele gosta de mim, também. Eu só preciso encontrar uma maneira de fazer ele acreditar nisso.
Uma notificação pinta na tela de Hinata: seu armazenamento está acabando. Ele se desespera.
— Acho que o meu amor por Kenma não cabe no meu celular de trinta e duas gigas... Mas tudo o que eu queria dizer, eu já disse, eu acho. Então, vamos para o fim.
Hinata balança o buquê, e dele sai uma caixinha verde-água aveludada.
— Kenma, meu amor, meu pãozinho de mel com cobertura de chocolate. Eu amo você. Amo as suas manias, o seu vocabulário, os seus trejeitos. Amo fazer você sorrir, sentir vergonha. Do meu coração inteiro, de cada cantinho do meu corpo, eu amo você. Eu quero você. E eu espero que você me ame e me queira também. Caso não, por favor ignore tudo o que eu disse aqui, me mande tomar no meu cu e chute a minha bunda. Caso você goste de mim do mesmo jeito que eu gosto de você... — Hinata abre a caixinha, revelando um anel fininho e simples, cravejado em pequenas pedrinhas brilhantes. — Namora comigo?