Frankstein

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Já se passavam das 19:30 todos já estavam de saída para o barzinho que tem atrás da Santa casa, gostavam muito de beber sexta após o expediente, excerto Victoria, Victoria talvez seja a tanatopraxista mais antiga daquele lugar. Já havia visto e ouvido de tudo!

Gostava de trabalhar sozinha e virava a noite, fazia dobras, ficava mais com os defuntos do que com os vivos, ela amava.
Nessa sexta-feira, poucos minutos antes do encerramento do expediente, chegou um corpo de um rapaz com aproximadamente trinta anos. Victoria logo se mostrou proativa e disse que ficaria pra tratar o corpo, não ligava, amava o trabalho e assim fez.
Antes de qualquer procedimento, Victoria fez o que sempre fazia quando ficava sozinha com um defunto. Ela analisou todo o corpo frio e nú do rapaz, mas uma parte em especial lhe chamou a a atenção, o pênis!
Victoria pegou seu bisturi mais afiado e fez uma corte em volta da virilha dando a volta pelos testículos e quase chegando no ânus do defunto, assim seu órgão genital ficou quase que intacto.
Devido seus anos de experiência, poderia se dizer que Victoria conhecia um corpo tão bem que poderia ser uma médica cirurgiã sem nunca ter estudado medicina, talvez, Victoria conhecesse um corpo humano muito melhor do que qualquer médico.

Pegou o pênis do rapaz e guardou em uma gaveta especial, a gaveta era dela, em vez de um corpo, ela mantinha partes de suas vítimas, era dela, não havia desconfiança, ninguém nunca nem chegou perto daquela gaveta.

Preparou o defunto como se nada tivesse acontecido, colocou o terno disponibilizado pela família do rapaz, penteou seus cabelos colocou algodão em seus orifícios, deixou o corpo em perfeito estado e foi para casa onde vivia sozinha, sem família ou amigos, não havia se quer um animal de estimação, era apenas Victoria e a solidão!
No auge da sua meia idade, Victoria nunca havia namorado, era muito tímida e todas as cantadas que recebia, sua ansiedade dizia ser brincadeira dos homens, apesar de ser linda, Victoria jamais acreditou em si mesma, nunca se achou bonita e muito menos atraente!

Todos os dias são as mesmas coisas, pessoas mortas indo e chegando. Victoria passava o dia maquiando e arrumando corpos. Certo dia poucas horas para o fim do seu horário de trabalho, chega um corpo de um rapaz que sofreu um acidente de carro.
Victoria quando soube foi ao encontro do corpo para verificar os estragos e arruma-lo.

Assim que colocou seus olhos no rosto do rapaz Victoria paralisou por alguns segundos e muita coisa se passou por sua cabeça. O rosto angelical, pele de seda que jamais vira em um homem antes, a barba rala por fazer bem baixinha, os cabelos caídos para o lado, os lábios quase formando um sorriso como quem estivesse tendo um belo sonho, aquele talvez fosse o homem, a pessoa mais linda que Victoria já viu em toda sua miserável vida, não havia uma gota de sangue do tórax para cima, parecia intacto, mas abaixo de sua cintura não restava nada além de massa vermelha e sangue, o rapaz teve todos os seus membros inferiores esmagados.

Victoria ainda deslumbrada com a visão do anjo, não sabia o que dizer. Colocou as mãos nas mãos do seu colega de trabalho e disse que cuidaria do corpo desse rapaz pois levaria a noite toda!

A hora de terminar o expediente chegou e ela nem havia tocado no corpo ainda, ficou alí por três horas admirando o rosto do seu anjo. Seus colegas não estranharam, ela poderia estar buscando uma "inspiração artística" para maquiar o estrago nas partes de baixo do morto. Quando se viu completamente só com o defunto, ela se assegurou que ninguém entraria alí. Começou uma grande operação pós morte, trocou todos os órgãos inferiores, costurou com muito cuidado, passou seus produtos, alimentou a carne morta e como um milagre de adivinhação, pegou o falo que havia guardado dias antes e colocou entre as pernas de outros dois defuntos.
O vestiu como um príncipe, nunca havia se dedicado tanto num corpo antes e quando terminou teve um pequeno lapso de lucidez, não saberia como guarda-lo, em sua gaveta não tinha como, sem levantar suspeitas, um corpo sumir assim? Resolveu esperar alí mesmo, como se não tivesse uma vida fora daquelas salas frias, e realmente não tinha.

Pela manhã, assim que Victoria abriu o lugar, a vadia da esposa do seu anjo estava atrás do corpo do marido como uma prostituta. Como ousa? Ela era feia pra ele, ela não merecia aquele homem pra ela, ela não o teria.

A mulher queria vê-lo, queria saber como o marido ficou, ver sua roupa, seu rosto maquiado, dar o último adeus para o homem que foi seu par durante treze anos, mas Victoria jamais deixaria que isso acontecesse, não perderia o amor da sua vida alí, esperou por tantos anos para sentir o amor em suas veias e ele estava quase escapando. NÃO!

Horas depois do enterro do rapaz, Victoria já estava em sua casa ao lado do seu amado, deitados em sua cama, seria a primeira vez que teria uma noite de amor estava nervosa e empolgada, seu corpo suava e tremia e o corpo ao seu lado continuava frio e sem feições, estava morto, mas ela não ligava. Era dela, seu rosto quase que inimaginável, seu peito forte e aveludado, era dela. Um vinho, uma música e muito amor. Victoria finalmente estava feliz, a primeira vez na vida em que estava na companhia de outro ser humano, nunca esteve em um momento tão íntimo assim, nem com um vivo ou morto. Finalmente Victoria ganhou vida e se sentiu viva.

No outro lado da cidade, no cemitério, uma sepultura com as descrições do homem que havia falecido um dia antes.

Marcos Antônio De Abreu ★ 1983- ✝ 2022
"Um pai, um amigo, um filho e um marido, aqui jaz um bom homem que viveu por sua família."

E lá dentro do caixão, muitos centímetros abaixo da terra, estava sua esposa, sua viúva, sufocando-se entre os tecidos do caixão apertado e sua saliva, ninguém ouviria se gritasse ou chorasse, morreria em poucas horas e ninguém jamais encontraria seu corpo.

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⏰ Última atualização: Jul 28, 2022 ⏰

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