Chongyun acordou em pânico. O corpo coberto por uma camada espessa de suor reluzia sob a fina luz do luar que entrava pela janela do quarto. Uma brisa fria cobria o chão quando seus pés tocaram o assoalho de madeira que rangeu em resposta ao peso repentino. O exorcista se apoiou na mesa de canto ao lado da cabeceira da cama ao se levantar, o corpo pesava e cambaleava como se estivesse entorpecido. Se arrastou apoiando as mãos na parede até alcançar o banheiro da casa; havia uma queimação estranha no estômago que lhe dava vontade de vomitar. Os pesadelos tinham sido muito reais, precisava de um banho, depois tomaria um remédio para enjoo, trocaria as cobertas e voltaria a dormir se conseguisse. Sempre era uma péssima hora para ficar doente, mas aqueles sinais todos no corpo só podiam ser sinal de algum tipo de virose que o deixaria de cama por uns dois pares de dias.
A porra do banheiro ficava a poucos metros de seu quarto, mas naquele momento parecia estar a quilômetros de distância, pois nunca chegava. O suor pingava de sua testa escorrendo por suas bochechas e queixo até alcançar o chão do corredor, quase não tinha forças nem mesmo para girar a maçaneta que daria acesso ao pequeno cômodo que poderia lhe trazer algum alívio.
"Você está queimando em febre. Vai acabar morrendo se continuar dessa forma." Foi como se conseguisse ouvir a voz de Shenhe dentro de sua cabeça, mas sabia que só estava delirando. A casa seguia em silêncio exceto pelo ranger da madeira a cada passo que Chongyun dava. O frio do assoalho subia pela espinha arrepiando todos os pelos alvos de seu corpo. Ele se apoiou na pia do banheiro para não perder o equilíbrio e ir ao chão, os olhos embaçados tentaram se fixar ao espelho. Seu rosto vermelho pela febre refletia na superfície do espelho. A febre o estava enlouquecendo.
-Você não precisa morrer se me deixar assumir. Eu posso fazer essa febre sumir em segundos. -Jurou ver e ouvir seu próprio reflexo falar consigo.
-Eu estou delirando por conta da febre, é só isso. -Repetiu para si mesmo mesmo que visse o reflexo no espelho rir incrédulo e bater as mãos sobre a pia.
-Está mesmo fingindo que eu não existo? Ah, essa ousadia ainda vai te matar, Chongyun! -O reflexo riu. -Ou será que você ficou tão assustadinho que apagou a memória de anteontem da sua própria consciência para não ter que encarar a realidade? Pobrezinho. Tão frágil! Acho que sua vovózinha esperava mais de você, mas você ainda é um pobre bebezinho recém saído das fraldas.
Chongyun ignorou o reflexo de seu delírio no espelho e abriu a torneira jogando água fria em seu rosto algumas vezes antes de se olhar novamente. O reflexo parecia cada vez mais mal humorado, entretanto, com as mãos apoiadas na pia e o encarando diretamente.
-Eu não estou brincando com você, exorcistinha de merda. Você está ferido gravemente, mas não sente a dor porque eu, em minha generosíssima existência e poder, estou te anestesiando, caso contrário você não teria conseguido retomar sua consciência e continuaria desmaiado definhando até a morte. Toda essa merda de selo foi tão prejudicial pra você quanto pra mim, entende? Seu corpinho mortal não está aguentando segurar todo meu magnífico poder e você está rachando por dentro. Precisa me deixar liberar um pouco da minha energia ou nós dois vamos acabar virando presunto, expliquei claro o suficiente pro seu cérebro de galinha entender?
-Então isso significa que se eu morrer você morre também? -A voz de Chongyun soava embargada, como se ele estivesse no limite da inconsciência novamente.
O djinn sentia o pânico assumir mais uma vez. Do momento que tinha sido selado, tinha tentado algumas vezes sair de dentro do corpo do exorcista, sem sucesso. Pensou em algumas técnicas para se livrar do enclausuramento ou pelo menos para possuir o corpo dele efetivamente, mas aquela merda de selo era forte demais, ele não tinha conseguido muitos avanços então passou a adotar uma postura mais interna. Talvez pudesse convencer o garoto a libertá-lo se o aterrorizasse o suficiente, mas nem sequer chegou a ter tempo para isso. Durante sua meditação encontrou alguns problemas acontecendo em seu novo recipiente; rupturas, vazamentos. Talvez fosse porque o corpo estava acostumado a um ritmo diferente de energia e agora estava completamente desbalanceado. O corpo mortal estava começando a quebrar. Primeiro ele experimentaria problemas com a pressão sanguínea, o que se mostrou real pois o garoto dormiu por um dia inteiro devido a baixa pressão. Sua família, entretanto, acreditou que ele estava apenas cansado pelo conflito interno com o djinn e por isso não deu a atenção adequada ao assunto. Eram burros por acaso? Nem sabiam como isso funcionaria, mas estavam negligenciando o receptáculo mesmo assim.
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O Mercador e o Ifrit
FanfictionChongyun x Xingqiu O grupo de investigadores e exorcistas ao qual Chongyun pertence é chamado em um hospital após um acidente incendiário misterioso. Seis pessoas estão desaparecidas, sendo cinco funcionários e um paciente. Após investigarem os rast...