Um ogro em pessoa

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Mia. Aquela doce e linda garotinha foi abandonada pela mãe? Isso era tão cruel! Por mais que não passara pela mesma situação, conseguia entender aquela dor. Via a si mesma naquela menininha tão fofa!

Mas ainda assim...

— E-eu fico muito honrada com a sua proposta, senhor. Mas eu não sou nem mesma capaz de cuidar de uma cozinha! A Mia merece alguém mais qualificada do que eu para cuidar dela... E eu... Eu não sei cuidar de crianças! Nunca tive experiência alguma!

Taiju parou o carro para encará-la com reprovação. E ela estremeceu! Como tinha medo daquele olhar assustador! Na verdade, ele era todo assustador!

— Você salvou a minha filha. Eu não fui capaz de fazer isso. Tem certeza que não consegue, [Nome]? Eu sei que você é horrorosa para exercer qualquer serviço. — Isso foi bem cruel de sua parte! — Mas eu vejo, [Nome]. Eu vejo que você é bondosa e faria de tudo por uma criança. Coisa que meus melhores funcionários não foram capazes.

— ...Senhor Shiba... — Seus olhos brilharam com aquela última frase. Foi a primeira vez em muito tempo em que havia sido elogiada por alguém. Ainda mais, vindo de uma pessoa como ele, tão rígida e fria.

— E então... Você aceita, [Nome]?

Por alguns momentos, pensou em todas as vezes que engolia o choro, naquelas frases que ouviu durante toda sua vida e a prisão que era a sua casa. A sensação de estar sendo constantemente vigiada, pequenos detalhes que como esse, moldaram seu caráter e sua vida agora. Não sabia como era de fato estar na situação de Mia, mas seu coração se agoniou ao pensar na possibilidade daquela garota estar sofrendo e de não receber amor, assim como não recebera em toda sua vida... A fez dizer que sim, ela aceitava.

— M-mas... E se ela não gostar de mim, senhor Shiba? — Era uma possibilidade, ainda mais sendo [Nome] a babá!!

— Não seja ridícula. A Mia gostou de você. — Era incrível como a mais simples resposta do senhor Shiba causava-lhe arrepios e lhe deixava intimidada. Ele tinha um ar autoritário e intimidador como o de um pai assustador ou um professor do fundamental. Era algo inacreditável o fato de ela suar frio e ter medo de cada resposta que ele dava. — Eu não iria contratar alguém que a minha filha não iria gostar. Além do mais, você é uma péssima funcionária, que outro motivo eu tinha para te contratar se não fosse por ela gostar de você?

Não sabia se a sua resposta tão cruel e fria fora um elogio ou um xingamento da pior espécie. Será que ele era assim com sua filha também? Um ogro frio e assustador? Ele tinha ainda o incrível fato de ser assustador em aparência e em personalidade, de fato, difícil de acreditar que tinha uma filha tão fofa e doce como Mia!

— Você não tem onde ficar, né? — Ele perguntou, provavelmente deduziu pelo fato de que estava com duas mochilas enormes.

Concordou, negativamente. Não tinha noção de onde poderia morar. Talvez, se ele oferecesse um bom salário, poderia alugar uma pequena casa próxima do novo trabalho.

— Ótimo. Seu quarto vai ficar ao lado da Mia. Eu costumo sair muito à noite, então você precisará morar conosco. Podemos acordar suas folgas nos fins de semana, tudo bem?

— E-eu v-vou morar com você? Na sua casa?

— Não, no quintal. — Ele respondeu ironicamente, mas sem tirar a seriedade estampada em seu rosto. Era mesmo insensível e malvado! — É CLARO QUE É EM CASA!

— ...V-você não vai falar s-sobre isso com a Mia, né? Nem com ninguém, né? — Perguntou, num misto de sensações: queria se enterrar em qualquer vala que encontrasse, ao mesmo tempo, queria chorar de tanta vergonha.

— Do que diabos você está falando? — Ele arregalou seus olhos, dando um ar ainda mais assustador em seu rosto. É claro que ele já sabia do que se tratava. Não tinha como se esquecer do quase sexo que tiveram. Ao ver seu rosto corado, ele entendeu do que queria falar. — É CLARO QUE NÃO, SUA IDIOTA! Não ouse falar isso com NINGUÉM, entendeu?! Ninguém pode pensar que eu entrei em um... Um... — O modo como ele se enrolou e até se engasgou para falar foi cômico. — Minha reputação estaria completamente arruinada!

— ...Se preocupa tanto assim com sua reputação? — Ela deu um risinho como resposta. — O senhor é muito religioso, não? — Já havia reparado que ele sempre carregava consigo um crucifixo. Era bem estranho alguém como ele ter tido a coragem de entrar em um bordel e ainda chamar uma pessoa como ela para ser babá de sua filha! Bom, talvez ele não fosse tão mente fechada assim, não é?

— Sim, sou. Você não é?

— Senhor, eu era uma prostituta. Acha mesmo que seria religiosa?

— Não. Você não era, [Nome]. — Pela primeira vez no carro, ele lançou um sorriso, mas não era um sorriso de compaixão e empatia, muito pelo contrário! Era um sorriso sacana! — Eu tenho vinte e nove anos. Tive experiências mais do que suficiente para saber.

— ... Saber o quê?

— Que você é virgem.

— O QUÊ?! — Quis morrer de vergonha quando disse aquilo e de alguma forma, tentou negar ou disfarçar, como ele sabia? Foi tão ruim assim aquele momento terrivelmente embaraçoso?!

— Chegamos. — De repente ele parou o carro e cortou totalmente o assunto. Era assim? Ele a colocava numa situação assim e depois fingia que nada havia acontecido?!

E quando olhou, ficou pasma. Era uma casa de três andares! Muito grande e com um quintal enorme, a garagem tinha quatro carros e o jardim era maior que a sua antiga casa toda! O quão rico era aquele homem?

— Eu levo suas coisas. — Ele levou um pequeno tapinha quando encostou em uma de suas mochilas. Não, depois de toda aquela humilhação, se recusaria a receber ajuda daquele homem! Ele falava algo tão constrangedor assim para depois querer bancar o cavalheiro?

— Não precisa. Eu levo. — Ele ficou confuso ao vê-la respondendo-o com tanta frieza. Resolveu ficar em silêncio e ela apenas o seguiu até a entrada de sua casa. E que entrada! Que lugar incrível! Parecia com um castelo, com piso tão limpo que parecia um espelho, com direito a lustres e uma escada enorme!

— Papai!! — Foi a primeira coisa que ouviram quando entraram. A menininha estava com um vestido tão lindo! Ela era mesmo muito bem cuidada e parecia amar muito o pai. Era até fofo vê-lo pegando-a no colo e rodopiando-a no ar. Ao menos, com sua filha, o senhor Shiba era gentil.

— Oi, minha princesa linda!! — Ele deu dois beijinhos na bochecha da menina, que logo mudou sua expressão de afeto para uma de curiosidade. — Hm?

— Lembra da [Nome]? Ela vai ser sua nova babá!! — Ele falou com tanta doçura e empolgação que nem parecia com o homem frio e cruel que conhecera.

— ...O que é isso no seu pescoço, papai? — Quando ela perguntou aquilo, podia-se dizer que o coração de ambos pararam por alguns segundos e que suaram frio. Não, não podia ser aquilo... E quando [Nome] viu, o estrago já estava muito bem feito: marcas de batom. Do SEU batom. 

uma babá nada perfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora