Prólogo

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Era 4 da manhã, a diretora do internato andava sonolenta e irritada ao meu lado, guiando-me até o quarto que permaneceria até o fim do ano letivo, era o mesmo de sempre e eu não via necessidade da mulher me acompanhar, mas aparentemente meus pais precisam de alguém vigiando meus passos o tempo todo.

É aqui, Jimin. O mesmo de sempre. — Suspirou baixo destrancando a porta e saindo da passagem, permitindo a minha entrada. — Você já sabe todas as regras e horários, mas se não lembrar tem um papel na escrivaninha. Vou te dar um desconto porque sei que a viagem foi cansativa, não precisa estar de pé às 6, se sentir fome ao acordar e não estiver em horário de refeição, vá até a minha sala que eu te dou autorização para pegar algo na cozinha.

Obrigado, Senhora Kang, desculpa atrapalhar seu descanso. — Me curvei em respeito.

De nada e não tem problema garoto. Descanse, até amanhã. — ditou e saiu do quarto, sem me dar tempo de responder.

E desde então, passaram-se 3 meses.

Fiquei preso num loop durante esse tempo, meus dias se resumiam em acordar, frequentar às aulas, voltar pro quarto e escrever coisas ruins sobre grande parte das pessoas a minha volta no meu diário. 

Eu não era o único que estava farto daquela rotina monótona, a confirmação disso foi o suicídio de Seo Soojin, uma menina mais nova que eu, que quando viva, era taxada de louca pelos cortes nos braços que sempre estavam expostos e pelas frases que escrevia nas mesas. Senti-me mal com a notícia, vi seus cortes, ela expressava sua dor, mas não fiz nada. E também, é impossível se sentir bem com algo assim, mesmo sem vínculo nenhum com a pessoa.

Só que, com sua morte, a rotina deixou de ser monótona.

3 semanas sem aula e diversos discursos sobre saúde mental, além da implantação de um pequeno espaço para que as pessoas conversassem sobre seus problemas em grupo ou a sós com um psicólogo, e como bônus, diversas atividades extracurriculares, tudo isso para ocupar nossa mente e para limpar a imagem do internato, mas talvez eu seja o único amargurado que enxerga a segunda alternativa.

Não dei muita atenção a essas coisas. Não até ele.

A primeira vez que o vi, estava atrasado para aula de Química. Correndo como um louco pelos corredores, sendo parado pela melodia de um piano.  E lá estava, tocando graciosamente, com os olhos fechados e expressão relaxada. Jeongguk, é o nome que ecoou o dia todo por todos os cantos da instituição.

Não sei quanto tempo perdi ali, mas meu transe foi quebrado quando notei seu olhos escuros em mim, eu quis decifrá-los, mas era impossível. Tomei meu rumo, dessa vez com um peso no meio do peito e a cabeça recheada de dúvidas.

Mais tarde, escrevi sobre ele no diário, rascunhei seu rosto e anotei meus questionamentos. Nenhuma alma amaldiçoada, naquele dia.

Cruel | JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora