Capítulo 18 - Nuon Arkashe

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Grupos poderosos e conservadores ocupavam lugares de poder durante toda a história recente da Tailândia. E por isso os avanços sobre direitos de pessoas LGBTs eram raros e superficiais. Apesar de ser um destino conhecido para turismo de pessoas LGBT, a realidade para os Tailandeses era muito diferente. Então, mesmo com a decisão recente sobre legalizar o casamento entre duas pessoas no mesmo sexo, movimentos LGBT e conversadores ainda travavam diversas batalhas diariamente.

Com sua intuição dizendo que acharia respostas, Chang estava sentado de frente para o líder o maior grupo conservador da Tailândia.

Desde que começou a investigar o envolvimento de Pat e Ash, Chang estranhava o fato de Ash não ter nenhum registro concreto, algo que ligasse esse username à uma pessoa física. Ela era um fantasma. Até que viu as trocas de mensagens dela com Wai. O jovem modelo passou uma informação que, dias depois, estava sendo usada por um grupo influente online para conseguir a demissão de Pat em um papel que ao menos tinha sido divulgado.

Chang, então, usando sua credencial de jornalista e mentindo que estava fazendo um documentário, marcou uma entrevista com Big, moderador e criador do fórum de onde informações sobre Pat haviam sido vazadas.

A entrevista tinha começado da forma mais comum possível, Chang não queria que o homem desconfiasse das suas verdadeiras intenções.

— Nós estamos somente resguardando os valores tradicionais da Tailândia — o homem respondeu, ao ser perguntado da motivação do grupo.

Ele era mais alto que Chang, com a pele num tom de bronze escuro. Entre seus quarenta e cinquenta anos, os grossos fios de cabelo brancos se emaranhavam aos pretos. Suas feições eram duras e finas, os olhos pequenos e afiados.

— E quais valores são esses? — Chang perguntou, aproximando seu celular do rosto do homem para gravar sua resposta.

— De que um relacionamento deve ser entre um homem e mulher, para terem filhos e dar continuidade ao povo Tailandês.

— Como o senhor explica, então, a existência de pessoas homossexuais desde que começaram os primeiros registros, e esse fato não fez com que o povo asiático deixasse de existir? — Insistiu.

— Você não está falando a verdade — o homem respondeu, se arrumando na cadeira. — Esses homossexuais começaram a aparecer recentemente, influenciados pela mídia americana.

— O grupo que o senhor representa, então, não tem conhecimento ou reconhece, por exemplo, a existência de um capítulo inteiro no Kama Sutra sobre sexo entre dois homens?

— O Kama Sutra é sim parte da nossa história, mas dificilmente você vai encontrar alguém que concorde que ele faz parte da nossa tradição, dos valores asiáticos.

— E os imperadores chineses que eram bissexuais e homossexuais? Contos famosos na china como "Long Yang" e "O Imperador Ai de Han" que retratam relacionamentos homoafetivos? Bali, por outro lado, tem um histórico milenar de casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Registros de relacionamentos homoafetivos no período Edo no Japão.

— A onde você quer chegar com isso?

— Você diz que a homossexualidade chegou para a Asia por causa da mídia americana, certo? — O homem acenou com a cabeça. — Mas existem evidências o suficiente que divergem dessa sua tese. Então onde eu quero chegar é, não foi a homofobia que veio para Asia por meio da colonização?

O homem parou um pouco e abriu a boca, mas não respondeu. E Chang sabia que qualquer desculpa esfarrapada que ele desse não seria convincente, pessoas com ele não usavam lógica, não debatiam com argumento, qualquer resposta que ele desse seria mais uma frase ensaiada e cheia de ódio.

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