Capítulo 3 - O auditório repleto de inícios

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Neste momento, estou sentada em um dos bancos de mármore no pátio, que eu ainda continuo achando um local um tanto estranho, pois preferia que ao invés de cascalho, fosse grama em algumas partes dele. Estou refletindo sobre o que eu acabei de comer a poucos minutos. Carne grelhada, arroz integral, purê de batatas e ervilhas. Pelo menos a comida desta prisão é boa. Também achei o funcionamento do refeitório satisfatório. Primeiro, fazemos o pedido em uma tela, antes de entrar na fila para ser atendida. Prático e conveniente. As moças que servem a comida são bem sérias pelo que percebi, porém como sabemos, eu sou brincalhona quando quero, então já posso ir me preparando para tirar a paciência de algumas delas. Na verdade, eu só quero começar a planejar coisas para me distrair da minha situação atual de estar presa nesse colégio, enquanto eu não prossigo com meu plano de fuga.

Passados alguns minutos, começo a perceber que até em um colégio interno tem os grupinhos separados: algumas garotas animadas estão falando de maquiagem, outras sete estão com um livro grande enquanto discutem o que penso ser uma questão acadêmica, ao longe mais cinco garotas estão cantando alguma coisa sentadas perto da fonte de um ser que eu ainda desconheço tal aparência. Mas, apesar de todos esses grupos, tenho quase certeza que não me encaixaria em nenhum deles. Sei disso porque na minha escola anterior, se o Pedro não tivesse me dirigido a palavra em uma aula de História, eu não teria nenhum amigo no Augustus Marquês.

Por falar em Pedro, como será que ele está? Eu estou com remorso até agora de ter ido embora sem ter me despedido dele e pelo que foi passado para mim pela madrasta da Branca de Neve que é a diretora desse inferno, eu não terei contato com ele tão cedo.

"ATENÇÃO, TODAS AS SENHORITAS ESTÃO SENDO CONVIDADAS A SE DIRIGIR AO AUDITÓRIO PARA A CERIMÔNIA DE BOAS-VINDAS DO COLÉGIO REDENÇÃO PARA GAROTAS SAINT HELENA"- oscilou de repente auto-falantes invisíveis que fizeram eu me assustar e acabei saltando do banco. Entretanto, me recomponho, olhando para todos os lados, procurando a direção de tal auditório. Vejo a aglomeração de meninas seguindo para o tal auditório e decido acompanhar no intuito de chegar ao local. Só agora percebo a quantidade enorme de meninas existentes nesse colégio, todas tagarelando sobre algo. Enquanto ando, a imagem do prédio a minha frente me surpreende um pouco, pois a sua estrutura é de espantar. Creio que o arquiteto ou arquiteta tenha pensado em algo charmoso e clássico, o que realmente está ao meu ver.

Depois de minutos de uma lenta caminhada, eu adentro o prédio circular, me deparando com a arquitetura clássica interna, no qual o corredor não é tão grande, porém é largo e com alguns quadros variados nas paredes. O corredor faz uma interligação com outros dos lados esquerdo e direito. Todas as garotas vão seguindo para grandes portas de madeira e eu continuo o percurso juntamente a todas elas. Passando das portas, há uma pequena passarela e caminhos para os assentos. A quantidade de assentos é meio assustadora para um colégio, creio que devem acontecer outros eventos importantes neste auditório.

Quando encontro um assento vazio, meio afastado do grande palco, me aconchego e observo a abóbada impressionante que cobre o lugar. Dá para notar a incrível pintura com anjos e demônios, o caos, além dos grandes lustres que estão acesos no momento para melhorar a visualização na hora de transitar e escolher em qual das poltronas vermelhas a pessoa quer se sentar para assistir o que quer que seja.

As luzes se apagam quando todas as meninas parece já estar acomodadas e os holofotes existentes no palco se acendem, revelando um homem de aparência casta e sério, alto e bem vestido com seu paletó e gravata, loiro e com certeza sem paciência e nem vontade de estar ali em cima pelo mau humor que ele transparece agora.

Boa tarde, senhoritas! Peço um momento de atenção de todas, por favor. - ele ordena ao falar no microfone pregado ao que poderíamos chamar de púlpito. O silêncio aos poucos é conquistado, até o momento que só é ouvida a respiração de todos. - Muito bem. Como muitas já sabem, eu faço parte do corpo docente dessa escola. Porém, para as que não me conhecem, eu irei me apresentar - ele olha em todas as direções, inclusive a minha, enquanto fala - Eu sou Garcez, Raphael Garcez. - ele é parente da carcereira? Serão irmãos? Bem que se parecem mesmo analisando detalhadamente. Os dois possuem cabelos loiros, são altos e tem uma postura prepotente. - Eu tenho como cargo Coordenador Pedagógico e Conselheiro. Então, quando estiverem com problemas, podem passar na minha sala que fica localizada perto de suas classes. - estou estranhando a gentileza do sorriso que ele dá nesse momento - Devidamente apresentado, posso dar as boas-vindas a vocês e dizer que este ano faremos o nosso melhor com relação à educação e conforto. Todas já receberam o horário de suas aulas, matérias principais e algumas extracurriculares. As folgas aos domingos que foram sugeridas por mim desde sempre são para vocês descansarem suas preciosas mentes joviais um pouco. - sua expressão muda de repente para algo sério e sombrio - Agora uma parte um pouco triste. A nossa escola deseja nossas condolências à família da aluna Camila Valentine. Um minuto de silêncio, por favor. - eu que não entendo o que aconteceu, olho para os lados e estão todos em silêncio e com as cabeças baixas, exceto por uma menina que está sentada à minha esquerda que chora abraçada com uma amiga ao seu lado. - Desejo a vocês um ótimo ano letivo e boa sorte!

* Y O U N G - Internato *Onde histórias criam vida. Descubra agora