Heloísa não esperava a presença de Leônidas em sua casa. Em algum momento daquele dia conturbado sabia que havia recebido mensagens dele, mas não respondeu na hora e agora, olhando para o homem parado na soleira da porta, percebeu que havia esquecido completamente da combinação dos dois. Ele, ao contrário dela, não parecia ter esquecido que pretendiam ter um jantar que mais provavelmente significava um encontro.
Mas Leônidas estava vestindo uma camiseta de banda, como no dia que se conheceram. Ele não parecia arrumado demais e o sorriso dele dizia que não estava surpreso por ela não estar pronta para um grande jantar romântico. A verdade é que, se tivesse lembrado que devia à ele uma resposta, teria cancelado aquele compromisso. Porque tudo o que pensava desde o dia anterior era na briga com Olívia.
- Eu não estava te esperando. – ela fez uma careta não proposital.
- Eu sei. – o sorriso dele se alargou. – Eu tenho minhas fontes para saber que hoje é um péssimo dia.
Heloísa sorriu, abrindo espaço para que ele entrasse.
- Olívia me contou. – Leônidas deu de ombros. – Eu trouxe um vinho e espero que na sua cozinha tenha o básico para preparar o jantar.
- Você veio preparar o meu jantar? – Heloísa cruzou os braços e ergueu a sobrancelha, com um sorriso.
- Foi exatamente o que eu vim fazer. – ele piscou para ela. – E preciso dizer que foram recomendações da sua filha.
- Olívia?
- Nós almoçamos juntos. – Leônidas apontou para a direção da cozinha, e Heloísa fez um gesto para que ele continuasse. – Eu comentei sobre o nosso jantar e quando você não respondeu confirmado, a Olívia sugeriu que eu viesse mesmo assim porque você precisaria de companhia.
Heloísa respirou fundo, porque pela primeira vez em sua vida sentia mais raiva da situação do que dor pela rejeição.
- Você quer conversar sobre isso? – ele perguntou, retirando alguns ingredientes da sacola.
- Não. – ela suspirou. – O que tem para conversar? Minha filha não acredita em mim, não me vê como mãe e eu estou exausta de tentar.
Para distrair os próprios pensamentos ela pegou as taças no armário e serviu o vinho, enquanto Leônidas abria todas as portas procurando o que precisava. Como se aquela fosse a casa dele e como se fossem um casal. Mas ela não pretendia pensar na implicação de nada daquilo.
- Eu não vou ser uma boa companhia hoje, Leônidas. – ela foi sincera, entregando uma taça à ele. – E eu não quero ouvir você defendendo a Olívia, o Matias ou qualquer outra pessoa.
- Eu não vou defender ninguém. – ele riu. – Eu só tenho fome.
- Ótimo. – Heloísa sorriu, observando ele começar a cortar ingredientes. – Me desculpe por não ter respondido.
Leônidas deu de ombros, como se não fosse um problema.
- Eu tive um dia horrível na clínica. – ele disse, aleatoriamente. – Um paciente quebrou todo o meu consultório.
- Que horror. – Heloísa surpreendeu-se.
- Não gosto de conter os pacientes, mas foi necessário. – continuou. – E a esposa dele ficou revoltada comigo. Uma mulher tão pequena e capaz de dizer tantos impropérios.
- Impropérios? – Heloísa riu.
- Palavrões. – ele sorriu. – Eu quis ser educado.
- Você é bastante educado sempre.
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unforgettable
Romancemodern au! Heloísa Camargo perdeu a guarda de Olívia quando a menina era pequena, graças à influência do ex-marido, Matias. Quinze anos depois, a relação de Olívia com a mãe é a pior possível e Matias sofre um acidente. Suas sequelas fazem com que...