O vento suave dançava pelo vilarejo escuro, podia-se dizer que era uma cidade, todavia, era pequeno demais para se tornar uma.
Os vizinhos conversavam pacificamente fora de suas casas, perto da fonte, em um banco, e assim vai. Porém, havia um problema, todos estavam do lado de fora, exceto duas garotas sonolentas.
A garota de cabelo rosa dormia pacificamente abraçada com a outra, como se não fosse acordar nem tão cedo. A outra garota, a menor e com o cabelo meio a meio, uma parte rosa e a outra verde neon, estava com uma linha de baba escorrendo no canto de sua boca.
Isso durou um bom tempo até que um barulho ensurdecedor as acordou. Resmungando, a menor se espreguiçou, sem nem perceber que estava abraçando essa pessoa enquanto dormia.
-Que barulho... - A garota reclamou, alongando seus braços. - Hm?
Olhando ao redor cuidadosamente, percebeu que o ambiente ao seu redor era desconhecido e obscuro. Havia uma porta à sua frente, e ao lado da cama, uma escrivaninha, aparentemente feita de madeira. Notou uma janela do outro lado da cama, um pouco distante. O espaço não era pequeno, mas também não era grande, era apenas razoável. Outra coisa estranha que estava incomodando-a, seria o fato que ela encontrava-se dormindo com uma completa estranha.
-Ei, ei! - Ela tentou acordar a garota que, mesmo com todo aquele barulho, não acordou. Perdendo a paciência, ela esticou sua mão e bateu contra o rosto pálido da outra.
-Ai! - A garota desperta em dor, levando sua mão para acariciar sua bochecha.
-Ponpon? - A sua voz parecia familiar, seu rosto também.
-Kiki? - Com uma lágrima em seu olho, causada pela dor, Ponpon encarava Kiki.
-Ponpon! - Kiki pulou em cima dela e a atacou com um abraço.
-Oi, Kiki! - Ponpon a abraçou de volta, mesmo tendo dificuldades em respirar.
Kiki saiu de cima de sua amiga e sentou na cama.
-Você conhece esse lugar? - Ela perguntou, observando Pon se alongar.
-Não...e você? - Ponpon se perguntava se isso era um sonho, não era novidade sonhar com sua melhor amiga.
-Não, e por quê você tá assim? - Kiki não reconhecia sua amiga, seu cabelo estava rosa e ela usava um cropped verde em cima de uma blusa branca curta.
-Eu que pergunto isso pra você! - Sua amiga estava estranha também, seu cabelo estava dividido em duas cores, rosa e verde, ela usava uma coleira e uma blusa listrada extremamente larga.
As duas permaneceram confusas e assustadas, sem saber o que fazer ou como lidar com a situação atual.
-Ponpon, quer ver o que tem lá fora? - Kiki perguntou, olhando a porta.
-Kiki... - Sua voz estava trêmula e lágrimas começaram a se formar na maré de seus olhos.
-Não chora! - Sua amiga tentou consola-lá, mesmo não sabendo muito bem como. Ela entendia como Ponpon estava se sentindo, ela também estava com medo, porém, nessa situação, pelo menos uma pessoa tem que liderar.
-E se nós morrermos..? - A mente da maior estava se despedaçando, pensamentos negativos espalhados em todo lugar e escorrendo em suas lágrimas.
-Calma, eu te protejo! - Kiki envolveu seus braços no porte da outra, dando um abraço apertado.
Ponpon riu suavemente, ela sabia que Kiki não era forte fisicamente, mas seu espírito sim, e é isso que a fazia ganhar sempre.
-Mesmo se isso for um sonho..? - Ela olhou profundamente nas orbes de esmeralda de sua amiga, procurando a verdade.
-Sim, eu prometo com toda a minha vida! - Kiki exclamou fervorosamente, cheia de coragem em seu peito.
-Ah, meu herói! - Pon riu alegremente, sua tristeza sendo lavada por Kiki.
-Vamos? - Kiki se levantou da cama e ofereceu sua mão para a garota.
-Vamos. - Aceitando sem hesitar, Ponpon apertou a mão de sua amiga e a seguiu para fora da casa.
Ao abrir a porta, as duas estavam surpresas com o que viram. Não havia apenas as duas garotas, mas sim centenas de pessoas. Elas viram casas iguais a dela no exterior, pequena e com a coloração magenta escuro. O céu era avermelhado com pontos brancos, não havia sol, nem lua, nem nuvens, nada, além de o que aparentavam ser, estrelas. No meio do vilarejo havia uma fonte jorrando água cristalina, e próximo à ela, uma espécie de padaria. Era bom saber que havia água e comida, de fome e sede elas não morreriam.
Paralisadas com a vista a sua frente, não perceberam que uma pessoa estava tentando chamar a atenção delas.
-Olá? - Kiki despertou de seus pensamentos ao ouvir uma voz afeminada, olhando pro lado, lá estava uma garota de cabelos negros e olhos azuis, ela vestia um cropped branco com uma camisa preta por cima, uma luva com cintos e uma bota grande com uma asa. Ela também usava um fone grande preto e verde.
-Ah, oi, perdão! - A menor se desculpou, observando a garota.
-Eu sou a Cassidy, está tudo bem? - Sua voz era monótona e sua postura era impecável, isso fazia Ponpon se lembrar de um soldado.
-Bem...eu e a minha amiga estamos perdidas, podemos saber onde estamos? - Cassidy inspecionou as duas de cabeça aos pés, o que fez as garotas ficarem intimidadas.
-Vocês estão em casa. Não se lembram também?
-Não, não nos lembramos de nada. - Ponpon falou tristemente.
-Todos dessa vila foram em uma viagem, como consequência da volta para cá, alguns perderam a memória de coisas básicas. - Ela explicou calmamente, encarando as meninas.
-E para onde fomos? - Kiki perguntou.
-Visitar as vilas vizinhas, elas são longe daqui.
-Entendi... - Ponpon sabia que algo estava fora de lugar, porém evitou fazer perguntas.
-Obrigada!
-De nada, se cuidem. - Cassidy olhou uma última vez e se virou, indo em direção a outros moradores. Quando ela estava longe o suficiente para não ouvir a conversa, Kiki disse:
-A gente tá fodida.
-Kiki, você não acreditou em nada que ela falou também, né?
-Não, claro que não! - A garota exclamou furiosa, ela não sabia quem essa tal de Cassidy queria enganar, mas obviamente não tinha funcionado.
-Mas e se ela estiver certa? - Ponpon começou a questionar tudo novamente.
-Ei. - Kiki levou sua outra mão até o ombro da sua amiga. -Aquilo era uma mentira do caralho.
Pon suspirou, ela lembrava, mesmo se fosse um fio, que Kiki sempre estava certa.
-Você tá certa...o que a gente faz?
-A gente descobre a verdade sobre esse lugar. - Ela sorriu maliciosamente.
-E como você quer fazer isso?! - Ponpon gaguejou, começando a ficar inquieta apenas pensando no que Kiki faria.
Sua melhor amiga se inclinou e levou seu rosto para perto de seu ouvido, sentindo sua respiração quente em seu pescoço. Ponpon tremia nervosamente e sentia seu rosto queimar.
-Eu não sei. Kiki sussurrou.
Ela se afastou e largou a mão de Ponpon, com um sorriso diabólico no rosto.
-Sua filha da puta! - A de cabelo rosa empurrou fortemente sua amiga, fervendo de raiva. Enquanto isso, Kiki ria, amando ver a reação de Ponpon.
-Você achou que eu ia explodir esse lugar? - Ela gargalhava com lágrimas nos olhos, chorando de rir.
-Sim!
-Ah, querida Ponpon, eu posso fazer muito mais do que você imagina. - Kiki suspirou, finalmente se acalmando.
Ponpon cruzou seus braços, encarando ela.
-Ok, vamos andar por aí. - Kiki disse, sorrindo.
Era estranho, Ponpon sabia que conhecia ela há muito tempo, mas mal tinha memórias dela. Ela questionou se era por causa da viagem. Bom, se essa viagem realmente existiu.
-Ei, Kiki, as pessoas estão entrando pra dentro de suas casas.
-Sim, e o céu tá escurecendo também. - Kiki falou, olhando para cima. - Será que tá de noite?
-Deve ser, as luzes dos postes ligaram. - Ponpon disse.
-Bem, quer ir mesmo assim?
-Vamos.
As duas garotas continuaram a andar, indo em direção à padaria. Não estava escuro, porém, não estava tão claro, estava iluminado o suficiente para enxergar bem as coisas ao redor. O lugar era muito estranho, o chão era duro e roxo, tipo uma espécie de pedra. Sem mencionar o fato que havia apenas uma loja em toda a área. Era um lugar basicamente deserto de comércio mas com várias casas.
Elas continuariam seu percusso, se não fossem interrompidas por um indivíduo misterioso.
-Kiki e Ponpon? - A voz dessa vez era masculina. Um homem?
-Sim...? - Kiki respondeu, hesitante.
Tirando o capuz de sua cabeça, era revelado um garoto de cabelo longo de coloração loiro sujo, seus olhos eram verdes mas mortos.
-Eu sou o Gab. - Ele estendeu a mão para Kiki.
Kiki apertou por educação, contudo, ela não queria.
-Me escutem, vocês precisam fazer algo pra mim.
Gab falou, desesperado. Ponpon estranhou, por quê alguém desconhecido queria a ajuda delas?
-Olha, eu escutei a conversa de vocês, sobre como vocês querem saber a verdade, eu sei.
-Droga.. - Kiki resmungou para si mesma, esse era o problema de não saber falar baixo. - Espera, você sabe?
-Sim. Eu vou contar e vocês me ajudam, tá?
A sua proposta era duvidosa, porém, elas não tinham outra escolha.
-Certo. - Ponpon concordou.
-Primeiro, esse lugar é controlado por rainhas, essas rainhas sugam tudo de impuro e os transformam em coisas puras. - Gab sussurrou, como se alguém estivesse o observando. - Possuem seis rainhas, rainha dos corações partidos, a rainha da doença, rainha do medo, rainha da morte, rainha do pecado e finalmente, a superior, a Rainha.
-Ok, e? - Kiki falou, blefando com a cara dele.
-E eu preciso que vocês matem elas.
Ponpon olhou para Kiki, surpresa. A menor levou seu dedo até sua cabeça e o girou, indicando que Gab era maluco.
-Ei, eu não sou maluco! - Ele sussurrou.
-E o que ganhamos com isso, doidão? - Kiki o desafiou.
-A verdade.
Ela suspirou, processando a informação.
-E quem vai dizer a verdade? - Ponpon perguntou.
-As rainhas. - Gab respondeu.
-Hm, faz sentido.
-Eu vi com meus próprios olhos, várias pessoas tentaram derrotar as rainhas, elas falharam, mas antes da sua morte, as rainhas contavam tudo.
Kiki pensou cautelosamente, ela jurou proteger Ponpon, se ela aceitar essa oferta, talvez sua amiga se machuque, ou pior, morra.
-Como vamos derrotar elas? - Ela estava tentando tirar todas as suas dúvidas antes de botar Ponpon em risco.
-Simples, com rumores. - Gab sorriu.
-Rumores? - Ponpon perguntou, colocando suas mãos na cintura.
-As rainhas tem um ego muito alto, mas sua autoestima é baixa, apenas palavras podem doer mais que uma bala.
-Então, precisamos xingar elas?
-Não, contar rumores. - Gab corrigiu.
-Como isso funciona, hm? - Kiki cruzou os braços, ficando impaciente.
-Elas não podem coletar rumores para transforma-lós em energia positiva, pois isso irá danificar elas, então, se você ouvir rumores sobre qualquer rainha, anote. - Ele disse, enquanto tirava algo de sua bolsa. -Aqui. - Gab as entregou um caderno pequeno e uma caneta preta.
Kiki suspirou, se sentindo sobrecarregada. Ela não sabia o que falar, se ela aceitasse, talvez Ponpon se machucasse, e pior, talvez aquilo nem funcionasse.
-Aceitamos. - Ponpon disse derepente. Sua amiga olhou para o lado rapidamente, franzindo suas sobrancelhas. Antes que ela pudesse falar qualquer coisa, Ponpon a interrompeu. -A gente precisa saber a verdade, por favor.
A menor olhou para ela, e depois para Gab.
-Se o que você disse for mentira, e ela se machucar, você tá fodido. - Kiki se aproximou dele e o encarou.
-Calma lá, confia em mim. Se não funcionar, pode me matar. - Ele disse suavemente, como se fosse algo normal.
-Feito.
-Bom, eu preciso ir, boa noite. Me encontrem na loja amanhã, depois de ter acabado com a primeira rainha. - Gab se virou e lentamente foi embora.
-Certo, boa noite! - Ponpon disse vibrante.
Kiki ainda estava hesitante de fazer tudo aquilo, mas ela confiava em sua amiga.
-Vamos, Pon, está tarde. - Sua amiga segurou sua mão e foi em direção da casa.
No caminho de volta, Ponpon estava pensando no que iria acontecer, era fato que ela pensava demais sem necessidade e as vezes fazia e falava coisas por impulso, porém, isso foi o limite. Aceitar uma oferta de vida ou morte sem nem pensar direito? Ela sabia muito bem que Kiki iria se machucar tentando proteger ela, e ela não queria isso. Talvez se ela começasse a treinar, ela poderia defender a si mesma.
-No que você está pensando? - Ela ouviu a garota ao seu lado falar.
-Nada, sobre amanhã. - Ponpon sorriu levemente, tentando disfarçar seu nervosismo.
-Eu sei que você tá pensando em tudo. - Kiki riu suavemente, fazendobsua amiga rir também. - Mas, ei, não se preocupa, a gente consegue, ok? - Ela sorriu, olhando para Ponpon.
-Sim, a gente consegue. - Ela disse, sorrindo junto.
-Chegamos. - Kiki abriu a porta da sua nova casa e entrou, percebendo que não havia luz.
-Bom, vamos ter que dormir no escuro. - Ponpon suspirou e fechou a porta.
- Você tem medo do escuro? - Sua amiga perguntou, tirando seus sapatos e deitando na cama.
-Um pouco..- A de cabelo rosa fez o mesmo, deitando ao seu lado.
-Não se preocupa, eu tô aqui. - Kiki alcançou a mão da outra, apertando gentilmente.
-Boba. - Ponpon riu, envergonhada.
-Boa noite, Pon. - Ela sorriu
-Boa noite.
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Deathfeating Queens (PT-BR)
General FictionDuas melhores amigas acordam em um lugar completamente estranho e não familiar. Para descobrir a verdade sobre esse novo mundo e escapar, elas irão ter que ser mais próximas uma da outra como nunca.