Capítulo 2: Juntas.

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A noite anterior se repetia na mente da garota que já havia acordado. Para ser honesta, ela não dormiu direito. Kiki estava aflita e paranóica, e ela odiava isso. Desde pequena, ela sempre teve dificuldades em expressar suas emoções e como alivia-lás, precisando de suporte terapêutico. Geralmente, ela consegue as expressar por meio de palavras sem sentido e comportamentos repetitivos, dependendo do que ela está sentindo. Ponpon nunca teve problemas em descobrir como sua amiga estava se sentindo, dado que elas eram muito íntimas.
A garota de cabelo rosado bocejava enquanto se alongava, seu cabelo estando impecável durante o sono.
-Kiki? - Ela perguntou, procurando por sua querida amiga.
-Ah, oi, tô aqui embaixo. - Ponpon ouviu a voz de Kiki abaixo da cama, se levantando para ver o que ela estava fazendo.
Kiki estava mechendo nas gavetas, procurando alguma pista sobre esse lugar.
-Ei, olha o que eu achei! - A garota tinha em suas mãos um porta retrato com o vidro quebrado.
Na imagem, havia Kiki e Ponpon quando pequenas, brincando na areia da praia.
-Aqui tem uma praia? - Pon perguntou mais para ela mesma.
-Vamos descobrir.
Kiki retornou o objeto frágil para o seu lugar de origem e se levantou.
-Pronta pra ir? - Ela olhou para sua amiga ao lado.
-Vamo nessa! - Ponpon sorriu corajosamente e abriu a porta, indo para o lado de fora. Kiki, que estava logo atrás dela, a fechou.
O céu estava na tonalidade de um vermelho claro, indicando que estava de manhã. Porém, as estrelas ainda estavam lá, não eram tão visíveis quanto de noite, mas o suficiente para perceber.
Alguns moradores estavam fora de suas casas, outros dentro ou na loja, tomando seu café da manhã.
-Ei, a gente vai comer? - Ponpon disse em um tom manhoso, provavelmente com muita fome.
-Calma lá, vamos sim. - Kiki riu. Ela mesma estava com muita fome também, não comeram nada desde ontem.
As garotas andaram em direção à padaria, sentindo o cheiro delicioso dos pães fresquinhos.
Sua aparência externa era cúbica e um tanto pequena, sua parede era pintada por um amarelo claro e sua porta era dupla, de cor branca. Havia uma pequena tenda listrada de amarelo e branco acima da porta, e duas janelas ao seu lado. Acima, chegando perto do telhado, havia a placa com o nome da padaria,"Z's bakery."
Quando entraram, um pequeno sino acima delas tocou, sinalizando a entrada de novos clientes. Observando ao redor, as paredes eram cobertas de tecido com listras brancas e amarelas claras, as mesas e as cadeiras eram feitas de madeira, contudo, eram pintadas de branco. O chão também era de madeira, e parecia muito limpo. À frente delas, havia uma bancada branca com fechamento de vidro, dando destaque à todas as delícias que estavam dentro. Em cima da bancada, permanecia uma caixa registradora média e um pote de barro pequeno com uma margarida.
-Que lugar bonito! - Ponpon exclamou, totalmente encantada pelo charme do lugar.
-É tão mais vívido que lá fora.. - Ao contrário de Pon, Kiki estranhou. A estética do ambiente era completamente oposta à paisagem do mundo ao redor, fazendo sua qualidade ser duvidosa.
-Bom dia, o que desejam? - Uma voz doce quebrou o trem de pensamentos da garota, fazendo-a olhar para sua frente.
Lá estava uma garota de cabelos ruivos em um vestido estampado de margaridas, seu olho direto era avermelhado, enquanto o outro era substituído por um botão largo.
-Ah, bom dia! - Ponpon tomou a liderança, ela era, sem dúvidas, melhor do que Kiki em situações sociais. - A senhora tem bolo de chocolate.
-Meu nome é Z, e sim, tenho. - Z deu uma risadinha e se abaixou para pegar o bolo dentro do freezer, o levando para a bancada e cortando uma fatia. A ruiva o colocou cautelosamente em um prato junto de um garfo, entregando para sua cliente.
-E você, Kiki? - Ponpon olhou para sua amiga, notando seu nervosismo. - Você pode apontar, não precisa falar. - Ela sorriu gentilmente.
-Ponpon! - O rosto da garota começou a ferver, se sentindo totalmente envergonhada. Kiki cruzou os braços e desviou o olhar de sua amiga, resmungando.
-Pode ser um sanduíche de queijo. - Pon decidiu falar por sua amiga, sabendo que ela ficaria contente com a escolha.
-Okie! - Z sorriu e se virou, pegando um dos sanduíches armazenados num pote e colocando-o em um prato. Logo depois, o entregando para Pon.
-Bem, quanto fica? - A de cabelo rosado pergunta, sabendo muito bem que elas não haviam dinheiro.
-Como vocês são novas aqui, fica por conta da casa. - Ela colocou suas mãos na cintura e sorriu.
-Epa, sério? - Ponpon olhou alertada.
-Sim, espero que gostem.
-Ah, obrigada, Z! -Ela sorriu e pegou os pratos com as refeições.
-Não há de quê, até mais.
-Até. - Kiki, que permaneceu a maior parte do tempo calada, conseguiu se despedir apropriadamente.
As garotas saíram do estabelecimento e se sentaram em um banco grande próximo da fonte.
Kiki suspirou fundo, olhando para o céu avermelhado.
-Tá tudo bem? - Ponpon perguntou, preocupada com sua amiga.
-Sim... Só um pouco nervosa, eu acho. - A garota balançava sua perna ansiosamente, ela mesma não percebendo.
-Ei. - Pon aproximou sua mão lentamente até a coxa de Kiki. A menor percebeu e parou seus movimentos. -Relaxa, tá? - Ela sorriu.
-Vou tentar. - Ela conseguia sentir seu coração nos seus ouvidos, uma batida ensurdecedora e vibrante tomava conta de seu corpo.
-Respira comigo. - A garota ao seu lado inflou seus pulmões de ar, segurando por alguns segundos até expirar lentamente por sua boca.
Kiki repetiu os seus movimentos calmamente, conseguindo se acalmar.
-Obrigada. - Ela suspirou novamente, se sentindo mais leve.
Ponpon sorriu e retirou sua mão sobre a coxa de Kiki, retomando a comer seu bolo de chocolate.
A dupla saboreou a refeição sem pressa, querendo salvar todas suas energias para depois.
Pon estava preocupada com sua amiga e como ela iria lidar com a situação, todavia, ela sabia que, no fundo de seu coração, Kiki conseguiria.
Ao acabarem de comer, a de cabelo esverdeado retirou a caderneta de seu bolso, junto com a caneta.
-Ao trabalho! - Kiki esboçou um sorrio valente em seu rosto, mais confiante que nunca.
O plano seria o seguinte, Ponpon iria sair andando pelo vilarejo, anotando mentalmente todos os rumores que ouvia. Kiki iria ficar no banco, fazendo o mesmo, porém, anotando no caderno. Então, mais tarde, sua amiga iria retornar para ela e contar todas as informações que ela conseguiu.
O primeiro rumor foi adquirido por Kiki, uma garota de cabelos loiros falava coisas impróprias sobre as rainhas. Coisas do tipo: "Aquela dos corações, por quê ela se veste assim? " seguido por "Heh, ela parece uma vagabunda." recebendo a resposta de uma garota de cabelos avermelhados "Todas são sozinhas, deve ser por isso."
Claro que doía ouvir aquilo, porém, elas não sabiam a verdade sobre aquele mundo, não sabiam se todos eram manipulados para acreditar nas rainhas ou não. Elas tinham que descobrir a verdade, custando o que custar.
Depois de um tempo, Ponpon chegou com mais rumores em sua memória, ela falava enquanto Kiki anotava. Era uma dupla impecável, o ponto forte de uma, é o ponto fraco de outra, assim, as duas podem se ensinar e aprender.
-Ufa, eu nunca andei tanto na minha vida. -Ponpon se jogou no banco, cansada.
-Como se você lembrasse. - Kiki brincou, rindo.
-Você tá certa. - Ela riu junto.
-Descobriu algo novo?
-Ah, sim! - Ponpon logo despertou e ajeitou sua postura. - Eu andei até o final da vila, acredite, não é tão longe, e achei um portão enorme.
-Um portão enorme? - Kiki perguntou, confusa.
-Sim, um portão duplo gigante.
-Será que esse portão leva para as outras vilas?
-Não sei, vamos descobrir agora. - A menor respondeu, se levantando.
-Pera, agora?! - Ponpon se desesperou.
-Sim, agora, vem! - Kiki pegou a mão de sua amiga, fazendo-a andar forçadamente.
-Ei! - Ponpon gaguejou, ainda não estando mentalmente preparada.

Elas correram pelas casas da vila, não achando nada incomum, até que, depois de um bom tempo, finalmente chegaram ao destino.
-Nossa , é grande mesmo. - Kiki disse, incrédula.
- That's what she said. - Ponpon disse em um tom infantil.
A sua amiga virou a cabeça e olhou profundamente em seus olhos, decepcionada.
Logo depois de alguns segundos, parou de encara-lá, não conseguindo manter contato visual por muito tempo.
-Bem vindas. - Uma voz familiar as cumprimentou. Olhando à frente delas, Gab estava encostado no portão, as esperando com um sorriso.
-Oh, oi! - Ponpon pulou de leve, sendo surpreendida.
-Estão prontas? - Gab perguntou, prestes a puxar a alavanca ao seu lado.
-Não.
-Sim. - Ponpon e Kiki responderam ao mesmo tempo. Supresas com as respostas, elas se encararam.
-Vamos, Ponpon!
-Eu não estou pronta! - Ela respondeu com lágrimas nos olhos.
-Eu já te disse, eu vou te proteger, a gente consegue. - Kiki se aproximou e abraçou sua amiga, tentando conforta-lá.
-Eu que aceitei, então.. - Pon suspirou, decepcionada com ela mesma.
-Vocês conseguem. - O garoto tentou apoia-lás, recebendo um encaro mortal de Kiki.
-Obrigada, Gab. A gente consegue! - Ponpon limpou suas lágrimas e se afastou de sua amiga, com um sorriso feroz no rosto.
-Esse é o espírito! - Gab sorriu juntamente das duas.
Kiki segurou a mão de Ponpon e olhou para o loiro. Gab se preparou e trouxe a alavanca para trás, fazendo o portão abrir lentamente. O barulho era imenso e familiar, parecido com o que Kiki escutou depois de acordar.
-Vai, rápido! - Gab gritou, mesmo sabendo que não conseguiam escutar. Então, ele sinalizou com as suas mãos, pedindo para elas entrarem logo.
As duas entenderam rapidamente e correram para o outro lado. O portão se fechou imediatamente, significando que Gab estava com pressa e que alguém estava prestes a vir atrás dele, pelo menos, foi isso o que Kiki achou.
À frente delas, havia várias placas sinalizando a localização dos lugares. O ambiente era igual, o céu avermelhado, o chão roxo, porém, havia túneis, 7 túneis no total. O que fazia as garotas questionarem o por quê de ter 7 se apenas houveram 6 rainhas.
Kiki se aproximou das placas, lendo cuidadosamente.
-Rio das Lágrimas Amargas, é esse, o primeiro túnel. - Kiki apontou.
-Então, o que estamos esperando? - Ponpon sorriu, ainda um pouco inquieta.
A garota de cabelo esverdeado suspirou, repensando se isso realmente era uma boa ideia. No fim, concluiu que sim. Ela preferia morrer ao lado de sua amiga do quê morrer sozinha. Ela preferia se sacrificar por ela do quê morrer em vão. Isso, é claro, nos casos de emergência. Porque isso não iria acontecer, Kiki não deixaria nenhuma das duas voltarem sozinhas.

Nunca.

Deathfeating Queens (PT-BR)Onde histórias criam vida. Descubra agora