11 de novembro de 1936, 06:59am. Rede de apartamentos Vivienne, prédio 11 da Rua Gerome Paule, Ville d'Orange.
Cartas para Gretta, pobre Gretta, doce Gretta, a Gretta que escreve as cartas.
Distante das capitais mais chamativas, em meio à um pacato e simples pedaço de ambiente povoado por espécimes humanos de naturezas ímpar, lá se vê os telhados perfeitamente alinhados de prédios perfeitamente colocados com a quantia perfeita de andares, em frente à calçadas perfeitamente blocadas, no meio de ruas perfeitamente pavimentadas e pouco movimentadas por máquinas de transporte fúteis perfeitamente organizadas.
Alguns velhos apanham e pagam para ler os jornais sentados em bancos das ruas, sob árvores transplantadas, com cascas finas, saboreando alguns biscoitos com chá instantâneo de bancadas de rua. Trabalhadores em suas devidas vestes se movimentando com suas marmitas e suas maletas chiques para contribuir de suas devidas formas à sociedade que os rondam, crianças jogando bola em algumas regiões específicas, mais calmas, mais pacatas da cidade mais pacata da região. Jovens fumando nos becos, em silêncio, no escuro, com variadas revistas roubadas e chocolates furtados.A estátua do fundador da cidade, o germânico "Tcharle Montkiep" (1745 - 1790) esculpida em carrára, adorna o parque central, pequeno, com pequenas trilhas de terra, árvores caducas, uma gramada verde de encher os olhos, refletindo uma chuva que caiu e nunca mais voltou. E folhas laranjas. Um tom de laranja muito distinto.
As folhas voavam pela cidade e transformavam as calçadas em banhos de fogo ardentes indolores, que enchem a mente com um calor distinto, as vitrines das lojas, os bancos da rua, os terraços das fábricas mais cinzentas e as portas das casas brilhavam em tons amarelos avermelhados incomuns, como se toda a cidade estivesse sendo invadida por uma tempestade de páprica sem fim.Os apartamentos da rua Gerome Paule são abençoados. Todas as casas com janelas dispostas no lado da calçada da rua, têm a visão do muro da cidade, parte da natureza à fora da fronteira, e de um nascer do sol encantador, enchendo de laranja as casas mais escuras com a noite densa, refletindo cada folha como uma pintura natural de luz encontrando sua forma por todos os lados.
A luz do sol bate sobre um quarto curioso, alguns quadros inacabadas manchados com tintas específicas, cenários nunca terminados, beijos nunca acabados, pique-niques em lugar nenhum, relógios de ninguém, cachimbos sem fumo e homens de terno sem fundo. Pintados à óleo, detalhes inacreditáveis. Edvard Hooper a inspira.
A luz do sol enche o lugar, começa à iluminar uma persona feminina sensível suja de tinta sentada numa cadeira em frente à uma escrivaninha, o sol começa à iluminar pantufas de camurça vermelhas sem nenhum detalhe diferenciado, meias brancas sem detalhes diferentes, a luz começa à revelar sua calça de moletom preta com uma linha de bordagem branca que iam do tornozelo à cintura por todo o corpo da perna, um suéter de lã folgado longo que batia na sua coxa, um suéter marrom xadrez com quadriculagem beje, suas mãos pequenas ficavam escondidas dentro das mangas.A luz enfim ilumina sua cabeça, escondida entre os braços cruzados apoiados na mesa, junto com sua cabeça. Sua cabeça apoiada sobre a mesa quase sonolenta, descansada, com o mínimo de energia possível na mente e no corpo. O dia raiou, mas não se ligou. O tempo parecia apenas passar, um monte de cabelo longo preto espalhado para os lados, ela ia dormir, sempre soltava o cabelo antes de dormir, mas algo, algo a fez dormir, ali mesmo.
- Snif* ... snif* ... -
Estava aos poucos acordando, sentia as bochechas incomodadas com umidade, uma umidade que a noite anterior não havia a preparado. Os dias estavam ficando longos de mais para não suspeitar que aconteceria. Estava sentindo-se ingênua, sentindo-se incapaz, sentindo-se indigna de sentir. O tempo parecia nunca acabar, e agora, acabou, mas acabou da maneira que ela menos esperava.
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LE CHAT D'AUTOMNE
Short StoryNuma tarde outonal de Ville d'Orange, durante uma sessão quase interminável de escrita de cartas para um "prezado John" que nunca voltou, aquela gata ruiva, aquela gata ruiva maldita na janela... aquela... gata. Não recomendado para menores de 18 an...