Quando estamos mergulhados no mais profundo e escuro das águas de um certo local, presamos controlar nossa respiração, assim como nossos impulsos de correr do escuro e vazio. Mas para algumas raras pessoas, aquele escuro e frio lugar é considerado um local de paz, ótimo para meditação. As mãos do rapaz espalmaram sobre o leito do lago, sua pele branca refletia com a pouca luz que chegava lá e seus cabelos se moviam de acordo com a correnteza. Ele gostava da ideia de que parecesse anos que estava ali, de olhos fechados, somente filtrando seu humor e seus pensamentos lentos.
Seus olhos se abriram devagar e ele pôs uma de suas mãos atrás de sua cabeça, movendo a mão devagar. A água turva se tornou cristalina, e as sereias começaram a nadar. Era como se elas estivessem voando na sua frente. Elas tinham cores distintas, verdes, azuis e violeta, com seus olhos escuros e suas unhas grandes. Elas nadavam livres, girando algumas vezes, aproveitando a falta de gravidade para fazerem o que gostariam. Uma se aproximou do rapaz, tomando sua atenção. O guardião a encarou e sorriu, se sentando. Agora, ela arrumava seus fios. A vida dele não era muito complicada. Ele verificava como as coisas ocorriam na tribo, depois verificava o mundo onde estava, e só precisava proteger tudo.
Em meio a conchinhas e pedrinhas bonitas, as sereias confeccionavam joias, as vezes até mesmo vestes, elas entendiam disso muito bem. Enquanto isso, ele era decorado com todos os ornamentos possíveis, gostando daquilo. Acenou quando a sereia terminou seu trabalho, passando por ele e depois se misturando com as outras. O rapaz ficou de pé e começou a andar pelo leito do lago, espalhando a sua energia azulada que abria um vão entre o escuro, limpando o local para que todos pudessem viver ali. Entretanto, sua atenção foi desviada por ver uma concentração grande de sereias passarem nadando rápido, indo para a superfície. Estranhou, por isso as seguiu. A água do lago começava a se mover de forma diferente, e agora, o guardião da água surgia. Suas vestes claras o destacava e ele começava a pisar sobre o solo dali.
Piscou bem os olhos e viu um alvoroço no céu. Sorriu genuíno, só existia um ser naquele mundo que fosse tão atrapalhado e como aquele. Woong era seu melhor amigo, os dois se davam muito bem. Quando o rapaz saiu do meio das árvores, adentrando o descampado, abriu os braços, sendo pego de uma vez pelo celestial que girou o mesmo no ar e depois pousou, sacudindo o mais novo.
—Jungkook! Jungkook! Você não tem ideia do que eu encontrei!
—Certamente.—Declarou e viu ele farfalhar suas penas, pulando de um lado para o outro, agitado. Ficou feliz ao ver ele mudar de forma, rolando sob a grama bela. Seu olhar se estendeu e ele viu o guardião da Terra se aproximar.
Notou que vinham pessoas junto aos dois, e ficou curioso. Quando Taehyung se aproximou, ele acenou com a cabeça, sendo abraçado pelo mais velho que fez um carinho casto em seus fios escuros.
—Como você está?—Taehyung questionou.
—Estou bem, quem são essas pessoas?—Perguntou e ouviu o mais velho.
—São humanos...vieram de fora das fronteiras. São os regidos, Jungkook.
Jungkook encarou eles de forma especial. Se aproximou devagar, os olhando cuidadosamente, assim como olhava para os enfeites de suas sereias. Ficou maravilhado e encarou o guardião ali.
—Woong salvou sua regida. Sem querer...ela quase morreu na verdade mas agora eles estão aqui. São os regidos da água, da terra, do fogo e da lua. Alguns conseguem lidar com seus elementos, outros ainda os tem bloqueados. Mas eles finalmente chegaram. É um enorme passo para a nossa evolução.
Jungkook olhou para a Loira. Seus olhos azuis encontraram os escuros dele e eles ficaram presos ali. O mundo parou ao redor deles e tudo o que importava era a conexão que os dois desenvolviam agora. Ele sabia que tinha algo de errado com a loira, conseguia sentir pelos fluídos que seguiam em seu sistema. Suas emoções estavam bloqueadas, seus sentimentos e sua aura estava presa em um limbo no qual ela mesma tinha se colocado. Aquela aparência sorridente foi sumindo, de acordo com que o tempo foi perdendo a sensação morna e se tornando frio. O celestial metamorfo voltou a sua forma original assim que notou que seu amigo não estava bem. Ele encarou Taehyung, sentindo seu coração doer por conta do que tinha notado. Ele abaixou o olhar e se virou, deixando o ar entrar em seu peito.
—Que bom que o Woong salvou uma vida. Ele parece que é bom com essas coisas.
Foi a única coisa que o guardião disse antes se virar e começar a andar de volta para o lago. Jeon carregava um peso consigo, aquilo o machucava profundamente e ele sequer havia se aprofundado com palavras ou com demonstrações. Somente o olhar daquela garota lhe fez mal e agora o mesmo só queria voltar para seu estado de profundo descanso. Woong voou sobre eles e pegou o guardião, o jogando para cima. Planou, sentindo ele cair sob suas costas, lhe segurando e o mesmo pegou impulso, voando por cima da tribo. Pessoas mágicas saíam as cabanas, para ver o que estava ocorrendo. Woong soltou Jungkook de uma altura absurda, mas sabia que era relaxante para o mesmo. A água acolheu seu filho e o jogou de volta para o céu, onde o amigo lhe pegou e proporcionou risadas para ele. Os dois desceram e Woong o pôs perto da água, mas grunhiu de forma gutural quando as sereias tentaram lhe pegar para tomar banho.
Taehyung observava a reação daqueles jovens ao ver aquele tipo de interação. Diferente de Jungkook, o homem entendia o peso da realidade deles contra a realidade do pequeno grupo. Porém viu sua regida dar os ombros e andar em direção ao lago. A coragem vinha da terra, definitivamente. Sorriu ameno com aquilo e acenou para eles.
—Aquele é Jungkook, o guardião da água. E essa é a tribo do elemento água, as pessoas aqui são como Woong. Ora são como vocês ora são como as Sereias, aqui é uma área livre para transformação. Com o tempo, irão descobrir que não é em todo lugar que podem se transformar ou demonstrar suas habilidades, portanto, sintam-se a vontade aqui.
Jack se sentou no chão, onde estava e começou a observar tudo ao longe, como um bom espectador. Peter olhou para Jandaya e a loira já tinha seguido Surya. Ela parou ao lado da menor e se sentou perto dela, vendo que ela estava encantada com as sereias. Jandaya ficou encarando a face bonita da menor até ela lhe olhar de volta e sorrir. Um dos motivos de paz que a loira tinha era observar Surya sorrindo. Por algum motivo, ela fazia a loira acreditar que dias melhores viriam, ou que coisas boas aconteceriam. Sempre foi assim.
Estava totalmente apática do mundo que fora apresentado. Ela olhava para tudo que era loucamente existente e não conseguia sentir mais nada. Talvez, esse fosse o sentimento normal de alguém que quase morreu porém foi salvo por algo que voa na mesma velocidade que corre nos bosques, atrás dos cervos e coelhos. Inclusive, ela observou essa figura que agora estava no chão, entretido com pedras e movendo as asas em reflexo de suas reações. Os dois guardiões haviam se afastado, Taehyung atraia Jungkook para um local mais distante, onde poderiam conversar de uma maneira mais clara.
Jungkook suspirou e tocou o canto de seus olhos devagar. A água e o ar eram diferentes, machucavam seus olhos na mudança de ambientes. Taehyung se sentou, pegando seu cajado e o pondo próximo a si. Os dois ficaram próximos e Taehyung começou a falar.
—Eu sei, senti a mesma coisa que você. Só que Jungkook, só fizeram uma pessoa para cada elemento. A minha veio de uma maneira mais firme, é verdade, mas vai dar tudo certo. Vamos conseguir reunir todos os guardiões e acabar com essa era de medo. E você pode sentir depois, ela parece estar quebrada, mas é a que tem a energia mais forte do grupo.
—Mais forte e mais turva. Ela é como um furacão. A Alma dela tem as lágrimas de lodo, iguais as minhas quando sinto raiva. Eu posso fazer todo e qualquer tipo de energia, mas eu não posso mudar a alma das coisas, muito menos a alma de uma regida. Todos eles tem a alma brilhante, por quê justamente a minha precisava ser assim?
Não tinha resposta para aquele tipo de questionamento.
O guardião da terra abaixou o olhar e suspirou. Viu Jungkook deitar a cabeça em seu colo e devagar tocou o ombro dele, batendo algumas vezes e deixando um respirar profundo.
—Nós vamos dar um jeito, Jungkook. Vamos sim.Aquele guardião, antigo como a terra e todas as enormes raízes, sentia que tinha o dever de reunir tudo que se quebrou e fortalecer para acabar a realidade das trevas. Entendia que Jungkook poderia ser um pouco metódico ou um pouco complicado com coisas novas e pessoas novas, mas estaria ali para intermediar as coisas. Era seu dever.
Jandaya apoiou a cabeça nas pernas de Surya que puxou seus fios dourados, começando a trançar eles. Olhando para sua espada, ficou quieta até levar a mão, fechando-a em torno da lâmina e a puxando de uma vez. Surya soltou de seus fios e ralhou.
—Daya! Você enlouqueceu?!—Questionou, tomando a espada de suas mãos e se sentando no mesmo nível que o dela, pegando sua destra.
Surya tocou os dedos sob a pele dela e piscou os olhos rapidamente, vendo que fez algo inconsciente que curou o corte. A loira se ergueu de uma vez e encarou a ruiva, exclamando em atenção. Talvez fosse a primeira ação dela mesma, de volta a terra e agindo como sempre. Só que ela foi clara.
—Não use isso em mim!—Gritou e os dois rapazes encararam a figura esguia, de pé, sendo grossa com a menor.—Não usem isso comigo! Todos vocês! Estão agindo como se estivessem em casa e nada de estranho estivesse acontecendo! Aquilo está acontecendo!—Apontou para o celestial que abaixou suas asas, encarando-a como todos ali.
Os guardiões se atentaram e a loira pegou sua espada novamente. Ela olhou nos olhos verdes e se sentiu um monstro por fazer Surya se assustar e sabia que aquilo machucou, assim como a lâmina em sua mão, mas diferente da ruiva, Jandaya não conseguiria curar aquele filete em seu coração. Ela se virou e se pôs a correr.
Peter se ergueu para correr atrás mas ouviram uma voz firme mandar.
—Não siga ela!
Eles olharam para a figura alta. O guardião da água agiu, e deu para perceber porque Jandaya era sua regida. O jeito brusco de agir estava ali. Ele encarou ela correndo para longe e só observou ela se afastar, apoiando seu cajado no solo. Jungkook entendeu agora o que Taehyung prometeu a si. Ele sentia as batidas do coração de Jandaya enquanto ela corria e sabia que ela chorava, mas estava tendo a sua liberdade. A necessidade que Jungkook tinha de passar horas debaixo d'água, acalmando a agonia que sentia na cabeça, nas mãos e nos pés, era a mesma que Jandaya sentia para correr da situação que não conseguia lidar.
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Lendários
EspiritualEm meio à um mundo cruel e tenebroso, sete mulheres decidiram que mudariam o destino de toda a Terra. Curariam a peste, Matariam a Fome e a paz se estabeleceria. As sete decidiram que mesmo que fosse necessário suas mortes, elas mudariam o mundo. E...