Capítulo 1

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DOM


— PAAAAAAI! – gritei assim que vi o homem atirar.

Cesare Mancino caiu, os joelhos se plantaram no chão e em seus últimos segundos ele olhou para mim, a pupila apertada enquanto o sangue cobria sua camisa clara. Jamais esqueceria a forma que ele morreu, como se desligasse a minha frente.

Ele corria tentando me alcançar, o esforço contorcendo suas feições e de repente estava no chão. Eu gritei. Ele tombou para frente, o rosto batendo na grama. Desligado. Sem vida. Morto.

— Venha, Dom! – a voz urgente de Enrico ordenou me puxando para longe. Finalmente olhei para o outro lado. O corpo de meu pai ficou. Eu o perdi. Quem eram aqueles homens?

Bati mais uma vez, a dor dos meus dedos me trazendo de volta a realidade. Uma, duas, três vezes. O suor pingava de meu corpo, meus pensamentos voando para a primeira vez que fui tocado pela morte. Minha visão borrada pelo suor pingando através de meus cabelos, a exaustão de meu corpo pedindo para parar. Mas não conseguia.

A dor atravessava minhas costas e braços, meu coração se acelerava, a respiração pesada e o cansaço tomando conta. Mas não me sentia satisfeito. Eu bateria até sentir calma, até conseguir exorcizar meus demônios e conseguir descansar. Nunca acontecia. Então voltava a uma sequência de socos, imaginando meus inimigos ali. Imaginando uma pessoa em especial.

Eu quase morri tentando chegar até ele e fracassei.

Passei meses planejamento minha vingança e uma noite, matei tantos russos quanto meu corpo aguentou. E depois eles atiraram em mim, retalharam meu corpo e me deixaram na sarjeta porque não desconfiaram de quem eu era. O maldito herdeiro Mancino que sobreviveu apenas pela ignorância dos russos. As tatuagens agora escondiam as cicatrizes mas não expurgavam meus sentimentos.

Eles ainda estavam dentro de mim, mas eu aprendi a domá-los.

A raiva permanecia em mim, como um motor. Mas meu exterior era frio. Controlado e controlador. E todas as noites eu descontava cada um de meus demônios naquela sala, destruindo tudo através de meus punhos. Esperando a paz chegar a cada vez que atingia o saco de pancada.

Domenico Mancino já não era o rapaz de dezenove anos inconsequente que quase morreu nas mãos da Bratva. Eu era o novo Capo. Tinha responsabilidades e não podia deixar que o ódio me fizesse fraco. Era a nova "cabeça" de minha família e um erro meu poderia matar quem eu amava, quem eu protegia.

Eu dormia pouco, estava sempre alerta, pensando em como seria meu fim. A vida que levávamos não combinava com longevidade. Cresci em meio a violência, acostumado com a brutalidade. Não tinha escrúpulos sobre quem eu era ou que minha família fazia. Nasci no outro lado da lei e estava muito confortável em meu lugar. Apenas não conseguia conciliar uma paz que não sentia quando colocava a cabeça no travesseiro.

A paz que não tinha dentro de mim porque Vasily Lugonov era intocável.

Matá-lo desencadearia uma guerra ainda maior do que a que vivíamos. Mas vê-lo morto era tudo que desejava há vinte anos. Que tal um casamento entre máfias para acabar com a guerra?, o consigliere sugeriu. Bati com mais força porque talvez fosse a solução. Mas detestava a ideia de ter o russo como sogro.

Os passos chamaram minha atenção. Passava das duas da manhã e apenas eu estava acordado na casa, a sala cheirando a suor e poeira no meio da madrugada. Meu padrasto abriu a porta, tão ordenado como sempre. Não importava a hora do dia, Enrico Mancino – o homem que me criou depois da morte do meu pai biológico – sempre estaria impecável em seu terno feito sobre medida, sem nenhum amassado. Aprendi isso com ele. A selvageria poderia ser escondida através de belas roupas.

A Tentação do MafiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora