25| Ciúmes e Sorvete

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— Você é realmente uma cupida! — levo a fala de Chan como um elogio. 

— Que nada, Lix só precisava de um empurrãozinho — levanto os braços me espreguiçando. — Só é uma pena que tivemos que vir embora, teria sido divertido ficar lá pra jogar. 

Nós caminhávamos lado a lado pela calçada quando Christopher parou, me fazendo virar para trás e olhá-lo. Ele parecia ter tido mais uma de suas ideias geniais e estava pronto para me fazer embarcar nela junto com ele. 

— Quer vir comigo em um lugar? -
— o garoto estende a mão convidativamente. 

— Onde? — ergo as sobrancelhas. 

— Você vai ver. 

Christopher chamou um carro de aplicativo e entramos juntos. Eu ainda não sabia o destino, mas quando nos aproximamos eu facilmente identifiquei. 

Saímos do carro e eu sorri com a paisagem. Há anos não vejo o mar. 

Caminhamos pelo calçadão da orla enquanto eu dizia ao garoto como era incrível estarmos ali. A sensação da brisa refrescante tomou conta do meu corpo e eu inspirei o máximo de ar que consegui. Ao meu lado, Chan parecia fazer o mesmo, exceto pelo fato de que, vez ou outra, me olhava perifericamente. 

Me arrepiei quando senti os dedos do garoto tocarem os meus. Foi só de raspão, mas aquilo realmente me atingiu. Percebi meu rosto esquentar e a situação só piorou quando Chan entrelaçou nossas mãos. Meu coração praticamente esqueceu como bater direito. 

Olho para o garoto, mas desvio o olhar depressa. Nós nunca tínhamos andado de mãos dadas. 

— Tudo bem se...? — ele olhou hesitante para baixo, onde nossas mãos estavam unidas. 

— Uhum — sorrio fechado para ele, apertando um pouco mais sua mão contra a minha. 

Eu não sabia porquê podia sentir tanto frio na barriga quando o clima era tão quente ao meu redor. Mesmo que eu me esforce para puxar em minha memória um sentimento sequer parecido com esse, eu não encontro. É a primeira vez que me sinto assim com alguém. Mesmo quando eu era adolescente e tive uma queda muito grande por um garoto da minha classe, eu nunca me senti desse jeito. 

Fico me perguntando se ele se sente da mesma forma que eu. Assim, tipo bobo apaixonado. 

— Então... como vão os ensaios, senhor finalista? Fiquei sabendo que vai cantar duas músicas. 

— Sim, são duas — ele sorri fofo enquanto balança nossas mãos. — Na verdade eu tô tão nervoso que mal consigo ensaiar direito. 

— Quer ajuda? — ofereço e ele aceita prontamente. 

Nos sentamos na areia, chupando os picolés que compramos num quiosque simpático próximo à praia. O sol estava quase se pondo e o céu começou a adquirir lindos tons alaranjados, parecia até a cena de um filme. 

— Você não vai mesmo me perguntar? — ele disse sem me olhar. 

— Perguntar o que? - o encarei confusa. 

— Sei que Lix te contou sobre a Letícia ter ido me ver. Não tá curiosa sobre isso? 

Umedeci os lábios sem saber o que responder. É claro que estava curiosa, mas isso não queria dizer que eu ia realmente perguntar algo a ele. Quer dizer, se ele quisesse, poderia ter me contado espontaneamente. 

— Se eu disser que sim você vai me contar o que aconteceu? — digo finalmente e ele ri nasal. 

— Preciso mesmo te contar algo que é tão óbvio? Você é tão boba às vezes, Maya. 

Eu estava sentada bem ao lado de Chan, mas me afastei pelo menos meio metro quando escutei sua resposta. Meu semblante escureceu em uma expressão emburrada e o vi se aproximando, sentando perto de mim novamente. 

— Seu sorvete tá derretendo — Chan disse, bem perto do meu rosto. 

— Isso não é da sua conta! — resmungo, mas começo a devorar rapidamente o picolé. 

— Você é fofa — viro meu rosto para encarar o moreno e suspiro mal-humorada. 

— Não sei, acho que a Letícia é muito mais fofa do que eu. 

Ele joga a cabeça para trás e gargalha ao me ouvir dizer aquilo. Realmente foi ridículo, mas agora eu já disse. Não tem como voltar atrás. Só me resta conviver com essa vergonha. 

— Eu disse pra ela que gosto de outra pessoa. 

Paro por um instante, refletindo o que tinha acabado de escutar. Eu ouvi direito? 

Não sei se foram os tons lindos do azul do mar misturados com o laranja do pôr-do-sol, mas parece que de repente tudo ficou mais colorido. Foi como se meu dia tivesse ganhado vida. 

— Hum... — abraço meus joelhos e enfio o rosto em minhas pernas, tentando esconder de Chan o pequeno sorriso que se formou em meus lábios. 

— "Hum?" — ele imita minha resposta — Vai me dizer que não era isso que você queria ouvir? 

— Não sei o que você tá querendo dizer com isso — ergo a cabeça para olhá-lo. 

Chan ri pelo nariz enquanto se diverte analisando a minha expressão. 

— Tô querendo dizer que você não precisa ter ciúmes, boba — ele provoca e suja meu nariz com o picolé de chocolate. 

Abro a boca, chocada com sua ação. 

— Não devia ter feito isso — eu ameaço, tentando passar meu sorvete em seu rosto como vingança, mas o garoto se esquiva rapidamente e sai correndo. 

— Quero ver me pegar! — Chan acelera em direção ao mar e eu corro atrás dele. 

Eu tenho quase certeza que aquele momento poderia ser gravado e transmitido em slow motion em um daqueles filmes clichês de romance adolescente. Chan e eu brincávamos na água enquanto o sol se punha no horizonte e a risada do garoto soava como a mais bela melodia aos meus ouvidos. 

Tá, digamos que eu esteja... caidinha por Chan. 

Eu atacava o garoto espirrando água em seu rosto enquanto ele apenas tentava se defender. Ele estava lindo. Seus cabelos molhados caindo por cima da testa e a camiseta grudada em seu corpo escultural me fizeram estremecer. Eu parei de repente, sem nem saber o porquê. Meus olhos ficaram presos no garoto e meu coração acelerou como se eu tivesse corrido uma maratona. 

Chan baixou os braços que usava para se defender dos respingos de água e parou em minha frente. Ele empurrou delicadamente para trás de minha orelha uma mecha de cabelo que estava grudada em meu rosto e nossos olhares se encontraram. O garoto se aproximou ainda mais de meu corpo e senti sua mão macia envolver minha nuca, unindo nossos lábios em um beijo quente e suave.

Quando abri os olhos eu me senti a pessoa mais sortuda do mundo. Olhar para Chan é como ver a felicidade em forma de gente.

E eu adoro essa sensação. 

I Want You ☆ Bang ChanOnde histórias criam vida. Descubra agora