CAPÍTULO 1

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MORGAN PERRY

Seis anos atrás.

Todos que entram no hospital nunca saem vivos, pelo menos da minha família. Essa tem que ser a única morte restante, não suportaria ver outra pessoa que amo partir. Acariciei o cabelo grisalho de minha avó dentro do caixão, ela vestia o seu vestido favorito, o laranja, que sempre vivia em seu corpo. Antes da sua morte, vovó tinha me dado seu diário mostrando como a vida pode ser feliz, mas não acredito em finais felizes, nem em contos de fadas.

Minha vida não seria um conto de fadas, uma lágrima caiu no rosto pálido de vovó, sequei meus olhos, evitando que caísse mais nela, eu tinha que ser forte e mostrar o quão feliz posso ser. Senti as mãos geladas de William nos meus ombros, ele me afastou, permitindo que pudesse fechar o caixão da Magnólia e descer para a cova.

A rosa que eu segurava joguei em cima do caixão, vendo descer lentamente, parecia que cada lembrança, momentos bons, estava indo embora. Olhei Max segurando o choro, sempre queria mostrar como era forte para as pessoas. Ele beijou a sua rosa antes de jogá-la. Descanse em paz, vovó.

Olhei meu pai se afastando com o telefone no ouvido, ele não pode esquecer a porra do serviço uma vez? É o enterro da mãe dele. Andei até Max, segurando a barra do vestido, tentando secar minhas mãos suadas, tento controlar minha respiração rápida, estou prestes a ter uma crise de ansiedade. Afundei meu rosto na blusa social preta do Max, permitindo chorar, seus braços passaram em volta de mim, me acolhendo em seu abraço quente. Ele me leva embora para o carro de William, cada passo afastando-se da vovó.

O caminho dentro do carro até chegar em casa foi um completo silêncio, a não ser o batuque que o pai fazia no volante, parecia inquieto. Com quem ele falava no telefone? Ele ser policial me afastava dele, minha única companhia dentro de casa era Magnólia, agora ele só vai ficar preso no trabalho dando desculpas.

Sai do carro encarando a casa onde moro, parece vazia demais, subi no meu quarto encarando a cômoda na qual estava o diário, a capa de couro e as páginas amareladas com o tempo, aproximei-me pegando-o e analisando cada parte que me faz lembrar dela. Desviei quando escutei as batidas na porta, encarei a porta olhando, esperando que ele falasse.

- Eu não queria dizer isso agora, - Ele suspirou e passou a mão em seu rosto, seus olhos tinham marcas vermelhas pelo choro. - Fui transferido para Toronto.

- Péssima hora, pai. - Coloquei o diário de volta na cômoda, o finalmente encarando. - Não pode deixar a porra do trabalho de lado?

- A porra do trabalho que sustenta você e paga seu colégio, - Ele respirou fundo. Retirei meus cachos da frente do rosto, fazendo um coque. - Arruma suas coisas, iremos de manhã.

Ele me deixou sozinha no quarto, as lágrimas começaram a escorrer. De novo, o serviço em primeiro lugar. Me joguei na cama, ficando em posição fetal e me permiti chorar até dormir.

Ainda era noite, olhei o relógio que marcava quase duas da manhã e ainda não tinha arrumado as malas. Mas o estranho é ir justamente para Toronto, onde o Max morava, e por que logo após a morte da vovó?

Levantei esfregando o olho, acendendo a luz no interruptor, procuro minha mala no closet minúsculo, e quando eu acho, coloquei minhas roupas na mala. Puxando para a cama a mala pesada, eu olho o quarto. Imagina que irei sair daqui, estou aqui praticamente minha vida inteira, dezesseis anos morando aqui.

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