Prólogo A Julgadora

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O homenzinho torto estava parado no meio do salão real. A imponência da rainha bem a sua frente, só fazia com que ele se sentisse mais inferior do que realmente era, afinal ele era o ferreiro real, quem a rainha confiava suas armas, talheres, e trajes para seus soldados. O homenzinho torto, era respeitado pela família real, e seus súditos, mas não aquela tarde. Nem sempre Gaspar foi chamado de homenzinho torto, ele não nasceu torto, sua forma foi se fazendo pelos longos anos de trabalho curvado sobre o ferro quente, logo em seguida lavando na água fria, com decorrer das décadas esse  repetido e cansativo processo de forja,  curvou suas costas, dando uma corcunda bem visível de longe os cidadãos de Aldor o reconheceria, via se também as marcas de queimadura sobre seus braços, e seu sorriso torto, juntamente com a pequena máscara de ferro e couro, que cobria parte do seu rosto, tampando seu olho direito, e parte de sua testa e orelha, ele a usava devido a um de muitos acidente que  sofrerá, mas este lhe deu  uma característica a mais, fazendo cada olhar que ele recebia se tornar pesado e dolorido, sua aparência assustava as crianças da cidade. Pouco a pouco seu nome foi se perdendo, ele já não era mais Gaspar o ferreiro, aquele que todos procuravam quando queriam uma peça incrível quase impossível de se fazer, agora quase todos o chamavam de homenzinho torto, velho torto, homem torto. A família real ainda o chamava Gaspar, por isso estar ali de frente para rainha suprema, tentando ficar o mais ereto possível,  fazia ele se sentir humilhado, principalmente com a multidão gritando 

" morre, homenzinho torto" 

Fazia ele se sentir imundo.

A rainha Rhea, pôs se de pé, olhou para a multidão, e calmamente pediu silêncio, quase todo o salão ficou em total silêncio, alguns cochichos que não incomodava ela em nada, sendo a maioria deles a respeito de Gaspar o ferreiro.  


一Gaspar, o que diz sobre as acusações? 一 Rainha disse ainda de pé.

Gaspar respirou com certa dificuldade, tinha sido acusado de matar algumas crianças e jovens, e foi encontrado em sua casa o corpo de um rapaz, filho do jardineiro. Os cidadãos repetiram tantas vezes que ele tinha matado todas aquelas pessoas, que o próprio Gaspar questionou sua inocência, e disse sem muita certeza.

—Inocente,inocente,inocente,inocente一 Repetiu várias vezes, até não se ouvir mais a voz do homem. 

 Rhea olhou para trás, na direção de seu marido, e para suas filhas, três de cinco estavam no julgamento do ferreiro, sua primogênita Téia acenou com a cabeça, seguida por seu pai o Duque, a rainha então virou e olhou para aquele pequeno homem de aparência estranha, e sentiu pena do mesmo, decidiu que Gaspar deveria ter um julgamento justo, apesar de não gostar de expor sua filha Themis, não poderia condenar o ferreiro a morte, sem ter certeza de sua culpa, ela olhou para um guarda a sua frente e disse: 一 tragam ela 一 Mais nada saiu de sua boca. 

O guarda passou pelo corredor que formava entre as pessoas, as quais a maioria estavam ali para condenar um homem por ele ser diferente dos demais. A grande porta de madeira se abriu e o guarda passou por ela, minutos após sua saída, entrava pela mesma porta uma figura feminina, assustadoramente estranha aos olhos de quem a via. Seu caminhar era lento, como se todo o tempo do mundo fosse seu, uma coroa preta, com pedras verdes e azuis,  sobre sua cabeça, um véu também preto que cobria quase que todo seu rosto, as cores escuras contrastavam com os seus cabelos negros, que descia sobre suas costas, em uma enorme trança, os lábios vermelhos e a palidez de sua pele, faziam as pessoas questionar se ela realmente estava viva. O salão permaneceu em total silêncio enquanto ela caminhava, parou de frente para rainha, e para o homem, que olhou para seu rosto, e não se via quase nada por baixo do véu, mas percebia se mesmo com ele, que Themis era uma bela princesa, e se tornaria uma magnífica rainha, então ninguém entendia o porquê cobrir o rosto, se parece tão belo? Quando ela se posicionou de frente para os cidadãos e de costas para os tronos, Gaspar pode ver seu rosto, e alguma coisa nele, ao mesmo tempo que o deixava maravilhado o assustava, assim como todos presentes, a princesa gerava muitos sentimentos em seus súditos, medo, amor, admiração, mas o mais persistente deles, era a dúvida. 

 一  Verde, é verde, mas também 一  

一 Silêncio 一 A voz baixa e grave, porém aveludada da princesa, fez Gaspar calar se, mesmo que o ferreiro quisesse não falaria.

Os burburinhos, começaram no salão, Themis olhou para a multidão, e pediu silêncio alto o suficiente para que todos se calassem. Voltou seus olhos para o homem à sua frente e disse calmamente: — Ferreiro Gaspar, fui incumbida de te julgar, se caso for culpado a sua pena eu devo escolher, se inocente for, todos nós devemos nos retratar. Sabe que não se esconde nada da julgadora! —  Themis esticou suas mãos sobre a cabeça de Gaspar, e perguntou — Você, Ferreiro Gaspar, matou aquelas crianças? — Antes que o ferreiro respondesse, suas memórias, projetaram se para todo o salão, as pessoas ficaram assustadas com suas lembranças, algumas até se sentindo culpadas. 

Rainhas de Aldor As seis coroasOnde histórias criam vida. Descubra agora