1

10 2 0
                                    

Setembro, 2019. Seul

— Jungkook!

A voz suave, longe de mim me conduzia de volta a realidade. Pisquei devagar, forçando o foco da minha visão nas cortinas brancas. Minha cabeça dói, a claridade me faz fechar os olhos com força e batidas fortes na porta soam como sino dentro do meu crânio. 

Afundo minha cabeça no travesseiro e soltou um resmungo ao ouvir o Namjoon me gritar pela terceira vez quase derrubando a porta do hotel.

— Já vou, merda.

Rolei pra fora da cama. Um calafrio me toma quando sinto meus pés tocarem o molhado. Olho para o chão e para o quarto ao meu redor. Isso aqui tá uma zona. Um vidro de whisky no chão, inteiro, por sorte, mas a garrafa em si esta vazia, a bebida forma uma poça em meus pés. Roupas jogadas, roupas que não são minhas aliás. Namjoon me grita novamente, que cara impaciente. Já falei que estou indo.

Ao me levantar e me deparar com o espelho próximo a porta já prevejo uma bronca enorme. Sinceramente, estou destruído. Caminho até a porta, pisando em lençóis e roupas. Depois que destranco a porta nem espero para ver a cara de decepção do coitado do Nam, já dou logo as costas para meu empresário e parto em busca do meu celular que deve estar em algum canto dessa zona.

— Sério, Jeon? — basta uma olhadela rápida para ver o sutiã que Namjoon segura pela alça com o indicador e polegar.

Dei de ombros.

 Eu, na verdade, não lembrava de muito coisa de ontem. Fui catando os pedaços de pano jogado pelo quarto esperando achar meu celular.

— Imbecil!

Acho que dessa vez, deixei o Kim puto de verdade. Aquele cara já é grande, ainda cruza os braços e estufa o peito. Seguindo seu olhar eu vejo uma garota saindo do banheiro, enrolada em uma toalha e de cabelos molhados.

— Bom dia. – a garota deu um sorriso amarelo acompanhado de um leve aceno.

Eu ri. Uma risadinha curta porque a situação me pareceu engraçada na hora, mas bastou isso para Namjoon me lançar um olhar mortal.

— Bom dia. Pode nos dar licença? – Namjoon tirou um cartão do hotel e estendeu para a garota. — É meu quarto, no fim do corredor. Já tirei minhas coisas, pode se vestir lá, vou pedir para te chamarem um taxi.

A garota estava super envergonhada, recolheu suas roupas espalhadas, uma bolsa e saiu. Quando ela alcançou a porta pude ver uma tatuagem descendo por sua coxa. Ah, agora eu lembrei.

— O que você pensa que está fazendo com sua carreira, Jungkook? – Namjoon se sentou, a expressão cansada.

— Dinheiro. – suspirei desistindo de procurar o celular. Esse eu não achei, mas encontrei um cigarro e me sentei ao lado do carrancudo. — Eu preciso viver também, Nam, ter uma vida.

Antes que eu pudesse dar a primeira tragada, Namjoon tirou o cigarro da minha boca e pisou.

— O que é, hein? – me virei irritado.

— São sete da manha, Jeon. – ele coça a testa.  — Se veste, você tem uma propaganda para gravar. Uma das que restam. Você tá acabando com sua carreira.

Começou o sermão. Me joguei na cama encarando o teto enquanto Namjoon desatou a falar.

— Eu te conheci você tinha 15 anos, gguk. O que aconteceu com você? Você estava com uma carreira linda, cheia de patrocinadores, e simplesmente começou a ferrar com tudo. Primeiro os escândalos com aquele menino, e agora – Namjoon ajustou sua posição, eu acho, dizendo pelo movimento da cama. — Agora drogas, Jeon?

Levantei a cabeça, vendo ele segurar a ponta de um baseado, que ele deve ter achado na cama. Suspirei ao me sentar.

— É só um baseado, Joon. Não é nenhuma novidade, você fuma também.

— Não, Jungkook. É sua carreira indo pelo ralo.

— Sexo, drogas e Rock'n Roll, né?

Namjoon revirou os olhos tão forte que eu achei que não iam voltar ao lugar.

— Antes de ser seu empresário, eu sou seu amigo, Jeon. O que está acontecendo, de verdade?

Lá vem com esse papo. Não tem absolutamente nada acontecendo, eu só estou aproveitando. Desde meus dezessete anos eu vivo sob holofotes, em algum momento eu precisava começar a aproveitar a vida. Então eu passei a cagar para isso, eu faço o que eu quero e a minha vida está ótima assim.

— Não começa, Joon. – Me levantei e rumei para o banheiro. — Eu tenho o direito de aproveitar também, de me divertir.

— Essa é sua ideia de diversão?

— Sim! Não enche. – Bati a porta, irritado.

O banho morno deu uma grande aliviada na ressaca. A dor de cabeça, no entanto, sucedeu até que eu comesse o café da manhã que Namjoon mandou servir no quarto. De roupão e comendo as torradas eu observava Namjoon conversar por mensagens.

— Sabe que dia é na sexta? – ele me deu uma olhadela rápida antes de beber do seu café.

Que dia é hoje?

Ah, terça-feira. Lembrei.

Um murmúrio foi o único som que fiz, e bastou um sorrisinho ladino desse sem vergonha para eu saber que não vinha coisa boa.

— Sexta-feira o BTS completaria dez anos, se não fosse o disband.

— Já faz tanto tempo assim?

Namjoon me lançou um aceno antes de continuar:

— Estive conversando com Seokjin. – fez uma pausa para um novo gole do café — Decidimos marcar uma reunião. Vocês vão fazer uma apresentação especial, no Countdown. Vamos nos encontrar amanhã para acertar os últimos detalhes, todos nós.

— Há, nem pensar. – neguei veemente.

Eles foram tudo que eu tinha. Mas agora a ideia de estar num palco de novo com eles me assusta e causa uma estranheza nem um pouco boa. Apesar de manter contato com Hoseok e Namjoon, os outros eu nunca mais vi.

 Eu era muito novo, acabei ficando com uma imagem de santinho que o fãs deduziram sozinhos que eu tinha. Por isso os escândalos tiveram tanto impacto, causou um choque nas pessoas.

— Há, mas vai sim. Foi difícil conseguir esse show de ultima hora, e ele vai ser ótimo pra dar uma melhorada na sua imagem.

Sem me dar tempo de por em palavras minha indignação, Namjoon estende o indicador próximo ao meu rosto e fala:

— E digo mais, vamos viajar juntos depois, três semanas. E você está estritamente proibido de fazer birra sobre isso, caralho Jungkook você já fez vinte e seis anos.

— O show eu até entendo, mas por que viajar juntos?

— Férias. Vai ser bom para gente, você precisa de uns dias para por sua cabeça no lugar. Porque, sinceramente, não sei o que tá passando por essa sua cabeça de vento ultimamente.

Não faz o menor sentido. Mas escolho não questionar, por agora. Depois de tomar café, Namjoon faz nosso check-out enquanto eu o espero no carro. Meu bebê. Uma Mercedes  gt 63s, com belos 639 cavalos de potência embaixo do capô. Uma belezinha que só. Desde que comprei esse carro, raramente uso o motorista da empresa do Nam. Ele fica um pouco preocupado as vezes, diz que eu não tenho ideia na cabeça e um carro desse incita minha falta de juízo. É uma meia verdade, um carro desse incita a falta de juízo de qualquer um.

— Falei para vestir algo que cobrisse as tatuagens! – Ralha ao me ver de regata.


Namjoon anda muito mal humorado, se ele curtisse um pouco comigo não estaria assim.

— Cobrir para quê? Paguei caro nelas. E também está quente como o inferno hoje. – falo antes de encaixar os óculos escuros e acelerar para a rua.

Amor, drogas e rock n' roll - Taekook Onde histórias criam vida. Descubra agora