Prólogo

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Era uma fria manhã de inverno em Curitiba, capital do Paraná. Com ruas praticamente vazias, árvores perdendo folhas à cada instante, caindo por causa do vento gelado, enquanto os pássaros voavam quietos pelas antenas das casas. Típico bairro de classe média/alta do centro da cidade, onde poucas crianças são vistas brincando na rua, já que os moradores costumam ter 60 anos ou mais.

E lá estava ele, após visitar duas casas a fim de conseguir alguma história para concluir seu estudo acadêmico, Marcus já se via extremamente esgotado e à ponto de desistir da busca e escolher outro tema para seu trabalho.

Marcus conhecia bem a região, pois sua avó, Alice, morou lá durante 43 anos antes de falecer por conta de uma doença degenerativa muito comum entre idosos, o Mal de Alzheimer. Marcus era extremamente próximo de sua avó, lembrava-se muito bem das tardes em que passava na casa dela, comendo bolo de fubá, e tomando um chá de camomila bem quente. A morte de Alice causou tanta comoção em Marcus, que ele acabou decidindo estudar psicologia para melhor entender o funcionamento desta doença tão mortal, a fim de salvar a próxima geração de idosos que estava por vir.

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O curso de psicologia era muito concorrido, porém Marcus era desde criança muito estudioso. Já na infância mostrava-se aplicado aos estudos. Mas como vinha de uma família que, apesar de não ser pobre, não tinha dinheiro suficiente para lhe pagar um curso superior, tinha como única solução cabível entrar em uma grande universidade pública na cidade, a Universidade Federal do Paraná.

Durante um ano Marcus cursou o pré-vestibular, estudando vários assuntos que estavam previstos para caírem na prova de admissão. Entre os aprovados, ele ficou em terceiro lugar, posição que lhe causava agrado, mas ao mesmo tempo decepção, pois sabia muito bem que se estivesse estudado um pouco mais, alcançaria o primeiro lugar.

Ao longo do período do curso, as matérias sobre diferentes transtornos, síndromes e outras doenças da mente foram sendo abordados pelos professores, e Marcus acabou se interessando por vários deles, mas existia um transtorno em especial que lhe causou interesse ainda maior que a doença que levou sua avó, o Transtorno Dissociativo de Identidade, ou como os estudiosos da psicologia abreviam, TDI.

Chegando à metade do curso, Marcus precisava elaborar um estudo sobre um caso em que o aluno possuía mais interesse, relatando com precisão os sintomas, procurando tratamentos e descobrindo as causas do caso específico, comparando-as com as causas gerais já descobertas por antigos estudiosos. Caso o aluno optasse, poderia realizar esse estudo em grupos, mas Marcus gostava de trabalhar sozinho, pois os outros alunos da sala estavam mais interessados em álcool e maconha do que estudar, propriamente falando.

Marcus não precisou pensar muito para descobrir que o TDI seria o transtorno que ele gostaria de estudar mais à respeito. Afinal, como ele era um aluno muito aplicado, já havia estudado muito sobre o assunto, então já era meio caminho andado para o trabalho. Ele só precisaria se aprofundar um pouco mais sobre o tema, e então encontrar na cidade, ou em alguma cidade próxima algum caso de TDI que tivesse sido constatado e arquivado.

O grande problema do Transtorno Dissociativo de Identidade é que ele é facilmente confundido com Esquizofrenia. O TDI só foi relatado pela primeira vez em 1960, pelo psicanalista Sigmund Freud. Antes disso, todas as pessoas que supostamente estariam com essa doença, foram todas constatadas como Esquizofrenia. Os sintomas são muito parecidos: O paciente ouve vozes, não consegue distinguir com exatidão o que é realidade, é retraído e muitas vezes agressivo. Em ambas as doenças o paciente tem perdas de memória, lacunas, onde a única coisa que existe é a escuridão.

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