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Estou em frente a porta, agora amarela, do nosso apartamento, mas que já teve tantas cores que mal consigo lembrar. Meus olhos, até então marejados, transbordam e enormes gotas de água salgada percorrem minhas bochechas. Meu nariz está vermelho, meus olhos inchados e catarro escorre pelo meu rosto. Pareço uma criança birrenta que acaba de receber um não.
Harry implora sentado no corredor do outro lado do grande pedaço de madeira à minha frente para que eu o deixe entrar. Não é a primeira vez que estamos aqui agindo como se não soubéssemos como termina.
Eu o venero, ele me vira as costas e então retorna banhado em desespero. Ouço a súplica entre soluços, a voz doída, quase inaudível "por favor não me odeie". Abro a porta o levantando do chão coberto por cinzas e uma carteira de cigarros completamente vazia, o último deles pendendo entre seus dedos.

Minhas mãos tremem enquanto caminho com ele até o sofá e eu sei que ele nota porque logo em seguida mais lágrimas inundam seu rosto e tudo o que eu escuto são pedidos de desculpa. Quero que ele pare, mas não tenho energia para pedir. Fico em silêncio até que as lágrimas cessem e o remanso inunde o cômodo outra vez.
Harry adormece com a cabeça sobre o braço do sofá e eu me sento no chão apoiando minha testa na dele. Fico pensando no quão cansado ele deve estar.

*

Abro os olhos, acho que Harry sussurrou algo em meu ouvido, não entendo o que ele diz e não tenho a chance de pedir para que ele repita, já que sou bombardeado por centenas de beijos.
Minha visão ainda está embaçada, a luz do sol inunda o quarto fazendo com que todo o ambiente pareça uma grande mancha amarela, mas assim que tudo começa a ficar mais nítido me deparo com olhos verdes arregalados em empolgação e um sorriso aberto.
H segura um bolinho adornado por 22 velas douradas. Não consigo acreditar que já estamos em dezembro.

Esse é o oitavo aniversário que passamos juntos, quatro de cada um. Não fiquei surpreso por ser acordado com um enorme café da manhã e um buquê das rosas mais vermelhas e bregas que tive o prazer de receber, foi tudo exatamente assim nos últimos 3 anos e eu não mudaria nada.
Me sento com as costas contra a cabeceira da cama e a bandeja de café sobre meu colo e nós dividimos o bolo coberto por enormes morangos e uma calda de chocolate quentinha.
Harry acaba de começar a me contar o planejamento do dia que ele vem preparando a meses quando eu desabo.
Suas mãos largam a xícara "you're gonna be my only milf" que eu dei de presente para ele no dia dos namorados do ano passado e num piscar de olhos envolvem todo o meu corpo.

- Lou, eu estou aqui. Está tudo bem, olha pra mim. Nós estamos bem, você está bem - Ele tenta parecer tranquilo mas assim que levanto o rosto percebo seu olhar angustiado
- Harry - Começo entre soluços na tentativa de dar ao menos uma justficativa - eu não quero que isso acabe, não quero acordar um dia e ver que tudo isso foi embora por culpa minha.

Há um segundo de silêncio e então sinto seus braços se apertarem mais a minha volta, o desespero borbulha dentro de mim e eu não paro de chorar pelo que parece uma eternidade, mas Hazz jura que só se passaram alguns minutos.
Ele não me pressiona, não pede uma explicação além do que já foi dito, só permanece encostado no meu ombro em silêncio até que tudo se acalme.

- Nada vai acontecer com você, nem com a gente. Sou eu, você pode confiar em mim, eu não vou embora - É a última coisa que ele diz antes de começar a revirar o guarda roupa em busca de um casaco para mim.

Passamos o resto do dia enrolados debaixo dos lençóis, jogamos cara-a-cara, assistimos a todos os jogos mortais e a noite Harry me ensina a fazer pizza, mas eu não aprendo já que passo o tempo inteiro olhando para a sua boca, a expressão completamente séria, tão concentrado que não percebe que eu preferiria comer ele do que pizza pelo resto do ano.

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⏰ Última atualização: Mar 26, 2023 ⏰

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