𝐸𝑢 𝑠𝑒𝑖 𝑞𝑢𝑒 𝑚𝑖𝑛𝒉𝑎 𝑛𝑎𝑚𝑜𝑟𝑎𝑑𝑎 𝑒́ 𝑢𝑚𝑎 𝐵𝑟𝑢𝑥𝑎!

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- Aquele seu namoradinho qual você ficava brincando 24 horas por dia deve está perambulando naquela casa velha de cruz credo vivendo que nem bruxa! - Anna foi a primeira a falar quando me achou no corredor do castelo, seus olhos negros mais negros quanto antes e seu humor do mesmo jeito de quando nós nos conhecemos na infância: opaco.

- Eu não lembro de quem você está falando, querida - uso um tom suave, o tempo estava terrivelmente escasso de quente. Fazia um tempo que não tínhamos um clima assim, mas ao menos me contribui animação para passear pela floresta. - Mas com certeza ele não foi meu pretendente.

Imaginei que Anna fazia aquela careta de sempre. Continuei meus passos enquanto meus cabelos vermelhos
eram banhados pelo sol daquela tarde. Estava perto da hora do chá e eu não podia deixar de sair para colher as minhas favoritas silvestre. Anna foi me seguindo com seu ritmo desleixado, e saindo do castelo, olhei para trás sem fazer tanto contato com os olhos dela, que estava ainda ali me fitando. Anna sempre me acompanhava nesses passeios, mesmo desgostando de tudo o que eu faça. Me virei instantaneamente e comecei a escolher as folhas que eu queria para o chá, da mesma forma que minha mãe ensinava quando eu tinha doze anos.

Eu não posso esperar pelos meus dezesseis anos! Mamãe disse que podíamos viajar para onde quiséssemos, e eu escolhi a praia. O verão começou e assim como está perto do meu aniversário, também está perto das grandes mudanças começarem, como estudar na academia para jovens, aonde bruxos, trolls e outros seres se agrupam para... "se conhecerem melhor", foi o que anunciaram. Foi o que me disseram pela cidade... Ficar bem longe daqui... Então caso isso acontecesse mesmo, eu poderia ficar lá por dois dias antes da minha partida.

Suspiro, tendo a memória. "Não sei se estou de bem de ficar longe de tudo daqui, mãe" eu disse, certa vez. "Eu sei que talvez eu possa me destacar na academia, mas... Tudo que eu fiz por aqui...!". Lembro do olhar compreensível dela, suas mechas já negras com o tempo grudando na testa. Minha mãe também havia estudado lá, podia sentir a dor da minha voz e sabia o que era ser cercada de estranhos por mais ou menos um ano inteiro, estando distante da família e das coisas que ela tinha feito antes de ir. Imediatamente olhei apra as minhas. Essas plantas aqui e ali... Ah...

- Então - ouvir um tom irônico atrás de mim sem previsto. - Vai se casar com elas?

- Elas quem? - gaguejei, sentindo meu coração disparar fortemente. Esmaguei uma folha com os dedos sem querer.

Anna mudou de expressão, assustada.

- As plantas, Noemi! Anda, saía logo daí! - a garota recuou os passos, cruzando seus braços morenos. Eu sorri sem graça, me levantando do chão. A cesta já estava cheia suficiente para dois bules de chá, era perfeito para a tarde e a noite.

- Não precisa ser má, vamos voltar para o castelo - eu disse com as bochechas ainda ruborizadas enquanto seguia meu caminho normalmente sem se preocupar com o sol batendo contra minha pele branca, Anna farfalhando atrás de mim como uma criança rabugenta.

- Você fica zonzando que nem criança - ela rebateu. - Não pode ser assim quando já vai frequentar a academia esse ano. O que você faz o dia todo, hein? Porque não treinamos para isso?

Eu já tinha me acostumado com o humor mandão e protetor de Anna, ela sempre foi politicamente correta e queria incentivar todos que amava a se indireitar, já lecionava e pretendia ter filhos no futuro, levantar o legado da família, sabe?

Só que, mesmo assim, eu tinha receio de que ninguém me entendia mais do que eu mesma. Mais do que entendo, ou procuro entender os outros. Desde criança eu sempre fui algum enigma que as pessoas gostavam de se queixar, e é claro que eu nunca gostei disso. Desses olhares feios, dessas censuras. E até agora, foi minha mãe que, apesar de também se questionar do meu coração frágil demais, me entendeu perfeitamente bem quando expressei meus sentimentos, já que raramente faço isso.

𝐷𝑜𝑐𝑒 𝑑𝑎 𝑃𝑟𝑖𝑚𝑎𝑣𝑒𝑟𝑎 / Saphic Onde histórias criam vida. Descubra agora