𝑵𝒂 𝒗𝒆𝒓𝒅𝒂𝒅𝒆, 𝒆́ 𝒖𝒎 𝒇𝒂𝒏𝒕𝒂𝒔𝒎𝒂

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ANNA ME AMA. Ela queria deixar isso claro antes da minha partida, antes que eu encontrasse outro ou outra - como ela mesma disse - por lá. Mesmo que eu não retribua - e eu não retribui -, ela só queria me beijar, porque era sua única forma de demostrar esse sentimento de infância por mim. Nas palavras, ela sempre foi péssima, iria me machucar profundamente.

Disse para que eu não me procupe de manhã pela manhã, mas é uma memória difícil de se perder, até porque não apago memórias desse jeito. Tão fácil assim. O que realmente me interessa e o que as outras pessoas não ligam tanto sempre permanecem na minha mente, muito embora eu "estivesse avoada no meu próprio mundo a maior parte do tempo". Fiquei indisposta no café da manhã, pensando na Anna, então cuidei das minhas plantas pela manhã pensando que eu nunca mais deveria pensar na Anna, daí logo depois pensei na Anna pelos corredores do castelo. Ah, estou farta! Quando é que eu vou sair daqui, mesmo?

- Até porque - comecei a balbucinar para mim mesma pela tarde, no meu quarto, enquanto organizava alguns potes da minha janela. -...Foi ela quem me beijou, porque ela não guarda esse sentimento agoniante para si também? Ah, eu não consigo mais fazer nada sem pensar naquilo. Eu nunca tinha feito aquilo... Então a minha primeira vez foi com minha melhor amiga? Amiga... Minha primeira vez... Primeira vez... Primeira vez... Eu gosto dessa palavra. Será que também gostei desse beijo? Oh, não! Foi um espetáculo! Um espetáculo. Espetáculo, espetáculo, espetáculo... Eu só queria saber como é sentir isso de novo... Espetáculo. Como será que se chama pessoas que fazem isso?

Algum tempo depois de pensar bastante, ouvi a porta se abrindo, uma figura alta e esbelta segurando um jarro de jasmin, seus cabelos grisalhos fazendo voltas no seus ombros e seus olhos de amêndoa combinando perfeitamente com seu tom de pele que era clareado pela luz do dia que vinha da porta. Nós duas nos dando um sorriso.

- Mãe! - tentei não gritar. - Você não sabe-

- Preciso que faça uma coisa para mim, filhote - ela interrompeu, colocando o jarro em cima da bancada, o arrumando em seguida em ternura, seu pequeno sorriso ainda no rosto. - Preciso que vá até a floresta para mim - ela terminou e ergueu o seu olhar, fazendo com que eu desviasse imediatamente. - Buscar algumas plantas medicinas que estaram nessa lista. Não é muita coisa.

Ela revela em suas mãos um pedaço de papel desgastado com algumas linhas escritas. Eu pego e dou uma olhada. Cogumelos, algas, carvalhos...

- Tudo bem - assenti, me virando. - Mas para que isso tudo? - então logo busquei minha cesta de coisas para impregnar a lista por lá.

- Bom - suspirou. - Pretendo te treinar um pouco. Sei que vamos para a praia e tudo, um momento de diversão. Mas esses últimos anos... Percebo que você não usa muito o que têm aí dentro.

- Não quero fazer o que tenho, quero fazer o que eu sei - cito mais uma vez, me virando com uma cara pensativa e nem um pouco amigável. - Aqui dentro só há "algo amigável, subestimado e imprestável que só sabe cuidar de plantas e nada mais", eu tento lidar com esse fato. Eu até que gosto da minha vida, mãe, não quero lembrar daqueles velhos tempos.

- Não, filha, não é lembrar daqueles velhos tempos, é sobre criar algo novo que talvez você possa gostar - minha mãe usava uma voz falhada, se aproximando devagar.

- Nunca vou gostar de fazer aquilo de novo - sussurei, deixando minha cabeça pesar.

Minha mãe suspirou mais uma vez. Que decepção. Passou esses anos todos tentando me convencer de que não sou um mostro ou algo do tipo, e eu acredito mesmo nisso, até cuido da natureza. Será que estou sendo franca demais? De qualquer forma, não vou me render tão fácil.

- Querida, dessa vez... Dessa vez você vai precisar lidar com isso. Não temos mais tanto tempo para ficar decidindo.Não mais... Está perto das férias acabar, você nunca em nenhuma vez na vida frequentou a academia por ter medo e não saber se adaptar, você já cresceu, Noemi, não vai poder ficar por aqui para sempre! Muitos alunos que irão frequentar aquela escola são dedicados e conserteza tiveram que sacrificar alguma coisa em suas vidas.

Eu pisquei e comecei a passear pelo quarto em passos lentos. Eu não quero seguir seus passos mãe, não quero seguir os seus sonhos. Não é como se não ir para a academia para viver bem aqui como eu quiser fosse um absurdo, eu só quero continuar com você e cuidar da minha casa, dos meus amigos e de você!

—  Eu já vou — eu disse, me virando para ela e em seguida abrindo a porta do meu quarto. — Eu vou trazer tudo e vou tentar vir em segurança, antes de anoitecer.

Ela sorriu para mim. Eu fechei a porta e sai em busca desses suprimentos. Não queria mais pensar muito, eram tantos problemas para resolver, então decidi focar em apenas em um que era para ser resolvido logo hoje. Não importa o que seja tudo isso que a minha mãe quer, eu vou encontrar muito facilmente por aqui, o clima está ótimo e tudo o que está na lista fica perto daqui, porém não entendo, a minha mãe parou de fazer medicamentos por um bom tempo. Ela voltou, por quê?

Eu saí do castelo avistando Anna mais uma vez, ela sentada perto do jardim observando o céu enquanto tem em seu busto, o meu livro de linguagem das flores. Eu pisquei algumas vezes, olhando mais que o normal para o seu colo, segurando o ímpeto de ir até lá para me despedir, ou até mesmo fazer uma mesura daqui. Alguns segundos depois, ela se virou para mim e nossos olhos se encontraram. Eu me virei imediatamente e comecei a caminhar a ignorando, pousando meus pés na grama. Minhas bochechas, a esse ponto, estavam extremamente quentes e nem fazia sol.

Minutos depois, eu vi um esquilo machucado entre os arbustos, e decide ajudar o animal.





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⏰ Última atualização: Mar 19, 2024 ⏰

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𝐷𝑜𝑐𝑒 𝑑𝑎 𝑃𝑟𝑖𝑚𝑎𝑣𝑒𝑟𝑎 / Saphic Onde histórias criam vida. Descubra agora