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═══ O herdeiro da corte Diurna ═══

Surya

O ar parecia fugir dos meus pulmões. As batidas do meu coração soavam abafadas, entupindo meus ouvidos, minimizando os ruídos das vozes à mesa. E eu mal conseguia encará-lo frente a frente.

Lucien encolhia o corpo parecendo dividir sentimentos semelhantes aos meus. Seus cabelos ruivos estavam cortados na altura de seu rosto, um arco de chamas quentes emoldurava suas feições de pele bronzeada.

A mesa estava lotada, se fosse um pouco maior, não seria possível enxergar seu fim. Lyana se sentava ao lado dele, com seus cabelos negros azulados enrolados em lindos cachos compridos. Ela comia e bebia sem se incomodar com nada ao seu redor, sorte a dela. Seu olhar despreocupado e até um tanto debochado deixavam claro a falta de interesse que ela tinha nas pessoas ali presentes. Alguns olhares a fitavam ali, pareciam comparar sua aparência com a de Rhysand, ou até mesmo duvidar da sua legitimidade. O que eu acho impossível, o olhar ardente e desinteressado era algo que todos os membros daquela família possuíam, Rhys era a face masculina de Lyanna:

— Surya!

Uma voz familiar soou do canto direito da mesa.

Envolvida em uma Névoa branca e suave estava ela, eu a reconheceria em quantos anos fossem, tia Viviane sorria, seus olhos pálidos combinando com os tons claros que faziam parte de seu corpo.

Ela era linda, encantadora, como a primeira neve do ano. Os cabelos presos deixavam seu rosto de traços finos a mostra:

— Minha querida — Disse ela — O quão  bela você se tornou.

Retribui o sorriso e a agradeci. Ela continuou lançando elogios sobre mim e como eu estava cada dia mais parecida com minha mãe. Meus olhos se desviaram para o fim da mesa, onde Eris Vansserra permanecia sentado sozinho, ao lado dos incontáveis assentos vazios que o seguiam para o restante da mesa. Seus olhos castanho avermelhados estavam fixos em mim, o macho ergueu sua taça de vinho em minha direção e bebericou o líquido que nela continha.

Não sorri de volta para ele. Desviei meus olhos para Lucien. A comida em seu prato estava intocada, assim como sua bebida. Se havia algo que eu tinha certeza era que ele assim como eu não queria estar ali.

Me ajeitei na cadeira, balançando meus pés em movimentos certos para conseguir tirar os finos saltos que os calçavam. Mexi meus dedos esticando minha perna em direção a Lucien, que levantou o olhar em minha direção, surpreso com meu toque em sua perna.
O tecido aveludado de sua calça vermelha escura estava quente, continuei mexendo os dedos enquanto procurava pela pele de Lucien.

Seus olhos castanho amarelados, parecidos com os meus, permaneciam fixos nos meus. Arrisquei um breve sorriso, mas não obtive resposta. Percorri o olhar pelo salão e avistei a pequena passagem por onde passavam os empregados com suas bandeijas. Olhei novamente para Lucien, dessa vez séria, e indiquei a pequena passagem com o olhar. Ele olhou ao redor se assegurando de que ninguém mais estaria prestando atenção no que estávamos pretendendo fazer, e acenou com a cabeça se levantando em um movimento discreto.
Helion o encarou por alguns segundos e o observou ir em direção aos banheiros, logo voltando sua atenção para uma conversa não tão interessante sobre expansão de família com Kallias.

Esperei por alguns longos minutos antes de me dirigir também aos banheiros, como pensavam os demais presentes no jantar. Enrolei pelos corredores vazios antes de encontrar Lucien, encostado em uma pilastra de mármore adornada por videiras. Ele me encarou de cima a baixo, sua aparência realmente era familiar. Sua feição não transmitia nenhum tipo de sentimento além de um vazio inexplicável:

— Então, eu perdi alguns irmãos, e ganhei uma irmã — Disse ele olhando em meus olhos.

Não respondi rápido. Continuei encarando-o:

— Parece que sim — Respondi.

— Não precisa se preocupar comigo — Disse Lucien — Eu não pretendo ficar.

— Você é mais velho — Respondi — E herdeiro da corte Diurna.

Lucien deu uma risada abafada:

— Herdeiro — Disse ele, o tom de deboche visível em sua voz — Não tenho nem um pouco de interesse em herdar nada de Helion, pode continuar sem preocupações.

— Minha preocupação é que você vá — Respondi.

Lucien não conseguiu disfarçar a surpresa em suas feições. Ele virou-se na minha direção e deu um passo a frente, o olho de metal soltando pequenos estalos como se analisasse bem dentro da minha alma:

— Podemos não ter uma família convencional, mas temos uma família — Respondi — Por que não tentamos permanecer juntos?

Ele continuou em silêncio parecendo procurar por palavras que contesse em sua resposta:

— Você parece precisar de alguém por perto, tanto quanto eu preciso — Disse Lucien.

Ergui os braços e o envolvi em um abraço apertado e quente. Ele pensou por alguns segundos antes de me corresponder.

Sorrimos um para o outro e retornamos juntos para o salão de festas, ignorando os olhares e bebendo, decididos a tentar,  juntos.

Corte de Luz e Sombras - Livro 1 - Fanfic ACOTAROnde histórias criam vida. Descubra agora