Capítulo cinquenta e dois

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Tris

Por todos os corredores vejo pessoas desorientadas devido a atuação do soro da memória, mas Matthew e Caleb tratam de ajudá-las. Estou caminhando em direção a frente do Complexo, onde, provavelmente, Tobias, Christina, Peter, Amah e George iriam parar o carro.
Me sento no chão do lado de fora abraçando o joelho. Está nevando, mas não estou com frio, talvez seja pela adrenalina que ainda corre dentro de mim. Escuto apenas vozes de pessoas que perguntam onde estão ou qual é o seu nome.
Minutos depois, vejo uma luz. Inicialmente embaçada por conta da neve, mas depois percebo que são faróis de um carro.
Me levanto.
Só pode ser o carro onde Tobias está! Estou morrendo de saudades dele, só o que quero agora é sentir seu abraço me aquecendo.
Quando finalmente o carro para, vejo pessoas descendo. Primeiro Amah que estava dirigindo, em seguida George que estava ao seu lado, depois Christina segurando o ombro de Peter, que parece estar perdido, logo atrás desce Zeke e sua mãe, que vieram para ver Uriah pela última vez, e por último desce Tobias.
Ele vem em minha direção com os braços abertos e um enorme sorriso.
- Estava louco pra te ver - fala ele.
- Eu também. Eu te amo.
Seu beijo tira da minha mente todos os pensamento confusos deixando apenas as lembranças boas, como quando me pegou de cima da rede no meu primeiro dia na Audácia, quando subimos na roda gigante para procurar a bandeira, no momento que me mostrou sua tatuagem que cobre suas costas e também quando estamos sozinhos.
Eu o amo e ele me ama. E agora, depois que tudo se resolveu, podemos ter uma vida normal, juntos.
- Vamos entrar, aqui está frio. - diz ele com um sorris no rosto, me puxando para dentro do Centro.
Encontramos Cara com a lateral do rosto muito machucada e com um curativo em sua cabeça.
- Ai está você! - diz ela, apontando para mim. - a salvadora da pátria. Muito bem Tris.
- Obrigada. - respondo - Mas não sou salvadora da pátria, apenas fiz o que deveria fazer.
Tobias nos olha confuso. Ainda não contei para ele que entrei no laboratório de armas no lugar de Caleb e quase fui morta.
- Acho que você deve me contar algo. - ele me fala.
- Sim, vamos para o dormitório.
No quarto ele se senta na sua cama e eu na minha, um de frente para o outro.
- Não aguentei mandar Caleb para sua própria morte e fui no lugar dele, - ele me olha assustado - e, felizmente, resisti ao soro da morte. David estava lá protegendo o soro e quase me matou, mas Caleb atirou nele primeiro.
- Tris você sabe o risco que correu? - ele fala nervoso. - Mesmo estando tudo bem agora, poderia ter dado tudo errado! E se Caleb não chegasse no momento certo?!? Nem quero saber o que teria acontecido. - ele baixa a cabeça, por um momento vejo lágrimas nos seus olhos, mas ele pisca para afastá-las e fala baixo e calmo - Nem quero saber o que seria de mim sem você.
- O importante é que deu certo, - eu falo passando a mão na parte de trás do seu pescoço onde está sua tatuagem- e, a partir de hoje, nós vamos poder ter uma vida normal.
Ele levanta a cabeça.
- Você tem razão. Eu te amo. - ele fala e em seguida me beija

+++

Hoje é o dia em que irão desligar os aparelhos de Uriah. Ainda estou no quarto com Tobias, não tenho o menor desejo de levantar da cama. Talvez porque ontem eu quase fui morta e só hoje me caiu a ficha, talvez também porque hoje irão "tirar a vida" de um dos meus amigos, ou talvez seja as duas coisas.
- Aí estão vocês - diz Christina, abrindo a porta do dormitório e vindo em nossa direção. Seu rosto está inchado, e sua voz, apática, como um suspiro alto. - Venham. Está na hora. Vão desligar os aparelhos dele.
Estremeço ao ouvir as palavras dela, mas me levanto mesmo assim. Tobias faz o mesmo.
Zeke e sua mãe, Hanna, têm ficado ao lado de Uriah desde que chegaram até aqui, segurando sua mão enquanto seu olhos procuram por algum sinal de vida. Mas não sobrou vida alguma, apenas a máquina fazendo seu coração bater.
Cara caminha atrás de nós enquanto seguimos até o hospital. Christina, eu e Tobias conversamos, mas sei que estamos pensando o mesmo, focados em Uriah, em seus últimos suspiros.
Alcançamos a janela de observação do lado de fora do quarto de Uriah, e Evelyn está lá. Tobias me contou que ela tinha feito um acordo com Marcus e que deveria deixar a cidade e nunca mais voltar, ela ainda me olha com cara de estranha mas me respeita. Um médico está parado ao lado do monitor cardíaco, estendendo uma prancheta para Matthew, que agora virou o líder do Centro, porque é a única pessoa que sabia bastante coisa sobre o lugar e não teve a mente afetada pelo soro da memória.
No quarto de Uriah, Zeke e Hanna juntam suas mãos livres sobre o corpo de Uriah. Vejo os lábios de Hanna se movendo, mas não consigo decifrar o que ela está dizendo. Será que os membros da Audácia têm préces para aqueles que morrem? Os membros da abnegação reagem à morte com silêncio e servidão, não com palavras.
Quando Zeke e Hanna se afastam do corpo, Uriah move a mão.
- Oh meu Deus! - fala Zeke - vocês viram isso?
- Não pode ser, - fala o médico assutado - isso é impossível. Ele está...
- Há, cale a boca! - interrompe Hanna gritando - Ele está vivo, seu idiota, não vê?
Ela pega na mão de Uriah e passa a mão pela sua cabeça. Agora ela está calma.
- Vamos querido, - continua Hanna - você consegue, eu sei que consegue. Abra os olhos, vamos.
E é isso que ele faz, seguido da sua expressão mais famosa: o sorriso.

Convergente- final alternativoOnde histórias criam vida. Descubra agora