Dois

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Obito já imaginava que a presença do seu filho iria causar tumulto; mas não esperava que Madara fosse se ofender tanto por causa de uma sandália mordida.

Quando ele resolveu que iria criar uma maldita cobra dentro de casa, ninguém reclamou no dia que Mugen apareceu enrolada no pé da cama de Izuna, pronta para o seu glorioso café da manhã rico em proteínas humanas. Mas Pakkun quase levou uma chinelada na cara; não fosse Obito entrar na frente da criança, sabe lá que traumas Pakkun teria desenvolvido.

Como iria explicar isso para Kakashi?

— Você só faz merda mesmo, é incrível - Madara murmurou sentado no sofá, analisando o estrago em suas mãos como se fosse fazer Obito engoli-la pelo cu.

Não havia reparação. Um caso perdido. Mordida, destroçada e destruída para sempre.

- Não precisa dar show, Madara, eu compro outra - Obito murmurou, mesmo que não fosse comprar nada.

Ainda segurava Pakkun no colo para não correr riscos de Madara fazer alguma coisa. Se jogasse o cachorro pela janela, seria o fim dos dois.

Por incrível que pareça, dessa vez o bicho ficou quieto como se estivesse no colo da própria mãe. Deve ter herdado a premonição ao perigo de seu outro pai traidor.

- Pelo visto vocês não conseguiram conversar ainda - Shisui disse com um sorriso de canto, penoso. Tentou se aproximar para fazer um cocar atrás da orelha do bicho, mas Pakkun mostrou os dentes, rosnando baixo.

- Para com isso, Pakkun! - Obito o repreendeu, mas ele continuou rosnando, pronto para pular na sua cara. - Não liga, ele tá naquela fase.

Hashirama deu uma risada, observando a cena ao mesmo tempo que tentava consolar Madara e sua sandália destruída. Adorava cachorros, mas achou melhor não chegar muito perto porque obviamente Pakkun ainda estava assustado com tanta gente desconhecida. Morar com Tobirama e o Pitbull dele a vida inteira já havia lhe ensinado a importância de aprender a respeitar o espaço alheio de animais selvagens e anti sociais.

- Ele não falou mais comigo, não me atende, também não responde meus recados - Obito murmurou com um sorriso triste, culpado, tinha vergonha de assumir que estragou as coisas com Kakashi de forma tão tosca. Como ele pôde ter sido tão cego?

- Kakashi deve ter caído da cama, bateu a cabeça e acordou pra vida - Madara disse, e ergueu os olhos na sua direção como se quisesse cravar as palavras em seus ossos ao continuar falando. - Você só tava se aproveitando dele, achava mesmo que isso iria durar a vida inteira? Nem um santo aguenta.

Obito abriu a boca para retrucar; mas a culpa foi mais forte e mais alta do que qualquer argumento que pudesse usar em sua defesa. Principalmente porque enxergava um certo consenso entre eles. Hashirama e Shisui pensavam a mesma coisa que Madara, então do que adiantava tentar se defender?

Ele reconhecia os seus erros, mas como poderia saber naquela época que Kakashi tinha sentimentos genuínos por ele quando o desprezou desde o primeiro segundo que se viram? Eles não tinham nada, nunca tiveram, tudo aquilo no início foi apenas... solidão? Não sabia ao certo porque as coisas que Kakashi o fazia sentir eram sempre densas, extremas e difíceis de controlar.

- Você fala sobre coisas que não entende, nem conhece o Kakashi, porra! Vai se foder!

Madara deu uma risada, a sandália mordida na mão e uma expressão de quem iria arrebentar o rosto de alguém.

- Nem preciso. Você é o único idiota que não percebeu que ele gostava de você.

Hashirama franziu a testa, engolindo as palavras porque mesmo que estivesse muito óbvio que Kakashi e Obito estavam escondendo alguma coisa nos últimos dias; nunca pareceu muito claro o que era. Quando soube que eles haviam ficado, a situação se tornou estranhamente confusa porque até onde sabia, os dois se odiavam, e Obito era perdidamente apaixonado por Rin, uma amiga de infância; então, quando exatamente as coisas mudaram?

Flex (KakaObi)Onde histórias criam vida. Descubra agora