Flex (KakaObi)

Seis

Eu sou um coração satélite,
perdido no escuro.
(Anya Marina - Satelite Heart)
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Obito murmurou um palavrão quando o celular vibrou e desligou no meio da partida. Não era a primeira vez que isso acontecia e pelos traumas passados, já imaginava que Madara iria dar chilique e fazer ameaças de tirá-lo da guilda. 

Dessa vez, a culpa não foi sua. Como ele iria saber que o celular estava descarregando? Ele era não era vidente. 

— Ah, foda-se — disse em um suspiro, e olhou para Kakashi do outro lado da cama, com um livro de capa estranha sobre alguma coisa estranha. — Tem carregador que dê aqui? 

Kakashi desviou a atenção da leitura e negou com a cabeça. 

— Esse seu é bem ultrapassado, devia comprar um novo. 

Ele deu uma risada e deixou o celular de lado, imaginando Madara xingando toda sua ancestralidade do outro lado da cidade.

— Só se eu vender o cu na esquina — disse com uma risada sem graça e apoiou a cabeça no ombro de Kakashi. — O que você tá lendo? 

Kakashi olhou de canto para ele. Em outra época da sua vida, teria dito que o título estava na capa, mas agora que eles haviam combinado de ser menos agressivos um com o outro, resolveu responder como uma pessoa normal. 

— É um ensaio sobre matéria escura — disse e Obito fez uma careta. 

— Como assim matéria escura? 

— É uma matéria desconhecida que existe no universo. 

Obito passou uma perna por cima dele e continuou com a cabeça apoiada em seu ombro. Esse não era o seu campo de atuação, mas sabia que Kakashi gostava dessas coisas de estrelas, galáxias, teorias estranhas da conspiração, se o homem veio do macaco ou do primo do macaco ou de uma sopa quente intergaláctica.

— Não sei porque você gosta de perder tempo com essas coisas. 

Não era uma ofensa, mas como Kakashi estava sempre na defensiva, a resposta saiu antes que pudesse pensar.

— Você perde tempo com coisas piores e eu não falo nada. 

Ele passou um braço ao redor de Kakashi e deu uma olhada nas páginas. Não havia uma ilustração pra ajudar no imaginário, apenas texto, texto, texto, dava dor de cabeça só de olhar.

— Lembro quando eu perguntei em uma aula de física se a lua era um planeta e você riu de mim — disse em um suspiro lamentoso. — Eu fiquei ofendido, era uma pergunta de verdade.

Kakashi acabou rindo de novo, mas tentou se conter quando viu aquele olhar ressentido nele. 

— Ficou ofendido por que eu ri? — essa era nova. Obito devia ser bipolar. — Você sempre fazia todo mundo rir e gostava disso, não pensava que o fato de eu rir teria um resultado diferente. 

Obito deu de ombros. Ele gostava de ser o palhaço da sala, esse era o seu cargo oficial, Kakashi não era o cara inteligente que ninguém suporta, ele geralmente era o cara inteligente e calado, que rivaliza com o cara inteligente que ninguém suporta. 

Eles estavam bem assim; mas naquele dia em especial, seu orgulho foi massacrado, não ouvia as risadas dos outros, só a de Kakashi. Era como se tivesse um coro de demônios na sua cabeça. Um monte de miniaturas de Kakashi apontando o dedo para ele, chamando-o de idiota e rindo enquanto Obito tentava fugir da vergonha.

Ele percebeu, naquele dia, que queria ser alguém que Hatake levasse a sério e deu desejo de ser reconhecido por ele de alguma só tornou tudo ainda mais humilhante. Por que tinha que se importar com o que Kakashi pensava ou não dele?