"Teus olhos eram tão belos, tanto quanto a luz fria do sol na neve luzidia. Onde estais?"
Morte da flor.
Em um jardim breve perdido
Nascera violetas e narcisos,
Me dói no coração, corte inciso,
Em observar teu jardim sofrido.Tu cuidava com todo o esmero,
Do pequeno paraíso terreno,
Corroído pouco a pouco, pobre ledo.
Me relembra: que tudo é efêmero.Liquidado, arrasado, acabado,
Esquecido paraíso horta,
De lá colho violetas mortas
Para teu sepulcro abandonado.Ciese de um prazer
Todo dia engravido e aborto
Das minhas mulheres franzinas.
Na realidade me porto
Como um ser que algo ensina.Grito no meio do escuro,
Afogo-me no ar profundo,
Na profundidade me curo
E esqueço do mal do mundo.Nasço na calma extinta,
Recrio-me como objeto sólido,
Enraizado em pensamento mórbido
De velhas palavras e tintas.Como nos tempos do ópio,
Desse prazer tão frio.
Nasce um novo vício dócil
Obscuramente hostil.Os tais zumbis da dopamina
numa ordinariedade que fascina,
Infinitamente em prazer viciados
Tão facilmente condenados.Sempre estão cansados
Desde o momento do parto,
Em silêncio choram no quarto,
Mas já estão acostumados.Sempre na angústia: like, comentário.
Dizem horrendas coisas absurdas
Para não ser abandonados.
E aos fracos gritam: Ótarios.Somos todos gestantes
Do pensamento inválido,
Cada vez mais distantes
Dos amores cálidos.Tarde de Setembro
Paredes, escuras paredes,
Só restam paredes escuras
E o silêncio.
Busco uma aresta qualquer
Para jogar-me em posição de feto.
De que serve o afeto?
Gastar o esmalte…
Mostrar a dentina…
(Bem, sempre bem)
Explicar é difícil,
Nem eu entendo.
É como os nomes sem complementos
Ou palavras avulsas
Nuas e cruas
Não sendo lágrimas,
Pois não resta lágrima alguma.
Só uma cólica (lástima)
Resta fato na estante da memória,
Um falho ato que buscava a glória
E estatelou-se no espelho póstumo.
Faz um frio, tenho um arrepio
— Um vil arrepio atravessa
E cessa.
Adentra pela réstia mofino
(Estou bem…
falo para quem?)
Apenas… me perdi,
Me perdi em mim.
No espelho, tosco ser
Ascende enormemente minúsculo.
Um espasmo no atrofiado músculo.
Estranho ser, buraco profundo,
Quem é você?
É o silêncio?...
É o barulho?…
Um sorriso escarnecido
(Está bem, sempre bem)
Afundo-me na cama
Areia movediça
Coloco uma música
Rumor das coisas últimas
Lágrima, apenas chora.
Um choro baixo,
Distante,
Não há motivo, então,
Razão ou sentido,
Tão pouco abrigo.
(Um pranto ressequido)
Dia-me uma arma
(Eu atiro)
Dai-me uma lâmina
(Eu mutilo)
É tão alta a sacada
(Converse comigo)
Apagam-se as lâmpadas.
Não peça motivo
Apenas escute,
Fale da esperança
Onde ficou?
Junto de mim?
Além do amor?
E se voou?
Ficou na infância, tudo tão…
Feliz.
Era simples,
Haviam olhos e íris.
Mas esqueça; é difícil
Explicar as razões dos motivos;
Faz um frio.
Por ali há tantos comprimidos,
Amores comprimidos;
Medos comprimidos;
Prantos ressequidos;
Lembranças esquecidas;
Engulo tudo a seco.
Entala na garganta.
Como um gogo de desgraça;
Tusso de mim a alma
E desce.
Ai se desse pra voltar…
Aproveitar o breve sorriso…
Desbravar os toques…
Libertar os sentidos…
Prender-se na corrente do umbigo.
Um sono.
Deito entre as paredes silenciosas.
Afundo na cama, e uma lágrima morna
Cai de um corpo frio.
Olhe para além do mar
E a onda toca os pés,
Além dos dóceis viés.
Nada.
Nada de mim.
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Poemas Amarelos, Primeira coleção.
PoetryPoemas escritos durante algum tempo da minha vida. Espero que goste. "Amour Jaune"