"Eu já sabia"

29 1 0
                                    

Hoje não teve aula, só iríamos ficar para admirar o novo estilo da escola, conhecer as salas, rever os professores, e conhecer os novos alunos. Fomos para o auditório especialmente por causa dos professores, mas cada minuto que passava, era como num piscar de olhos, como sempre quando estamos juntos, as horas sempre acabam passando rápido demais. Acabou a apresentação dos professores, e agora tínhamos que ver em que sala saímos.

Andando pelos corredores, sempre passávamos por uns amigos nossos, e todos falavam com a gente, alguns nos abraçavam e perguntavam "Como foram as férias de você?" típico de uma pessoa normal.

Subimos as escadas que dava pra outras salas, as salas dos veteranos. Procurávamos depressa e com animação os nossos nomes, e na terceira sala estavam eles, entramos e sentamos um do lado do outro.

Ficamos conversando sobre coisas aleatórias, coisas que já fizemos, sobre as notas baixas, dos professores chatos dos anos anteriores. Ficamos ali, naquela grande sala, com a cerâmica bem feita, com janelas imensas, que destacava bastante o nublado dos céus, e que deixava o céu bem escuro. Bela vista.

Peguei o Crawford olhando pra mim umas 5 vezes, quando eu estava distraída, quando eu ria, e quando eu me pegava viajando olhando para aquelas nuvens escuras e carregadas de água, prontas para cair mais uma chuva forte.

Pra falar a verdade ele sempre fazia isso, e quando eu olhava de volta, ou ele sorria, ou ele desviava o olhar.

Ficamos em silêncio olhando para o nada por um instante, quando Linn fala:

- Galera, que tal brincarmos de verdade ou desafio? – disse ela em um tom animado, que fez todos nós falar em coro "Boa ideia!".

Sentamos em círculo, eu do lado direito da Kirsten, que estava à direita do Ben, que estava à direita do Crawford, que estava à direita da Linn, que estava à direita do Gray.

- Quem vai pegar o lápis para podermos jogar? – disse Gray, e Kirsten se ofereceu a pegar o mesmo.

Kirsten pegou o lápis, colocou no meio da roda e disse:

- A ponta do lápis é a resposta, e a parte de trás é a pergunta. – disse Kirsten e todos confirmamos com a cabeça, ela se curvou para pegar o lápis no chão, e girou o mesmo sobre ele.

Umas três voltas e o lápis parou com a resposta voltada para Crawford e a pergunta voltada para Linn.

- Opa, vamos lá, preparado? – disse e Crawford confirmou com a cabeça. – Verdade ou desafio? – disse Linn com um olhar maligno e embolando as mãos uma na outra, como se fosse um vilão de quadrinhos.

Crawford fez uma cara de pensativo por um instante, depois de um segundo respondeu:

- Desafio. – disse ele e todos nós arqueamos as sobrancelhas. Cara, ele estava ferrado. A Linn é a melhor em questão de fazer desafios, e alguns são até um pouco pesados. Por isso que ninguém escolhe desafio quando quem pergunta é ela.

- Hummmm, vamos ver... – disse Linn e olhou pro chão tentando achar algum desafio na sua mente.- Eu desafio você a... – disse ela pensativa – Dizer qual a garota você tem uma quedinha! – disse ela e todos os olhares da roda se voltaram para mim, inclusive as pessoas que estavam ao redor que também estavam na sala e estavam vidrados no jogo.

- Vamos ver, vou dar algumas dicas – disse ele e pude ver que suas bochechas estavam bem vermelhas. – Ela tem cabelos pretos, com um leve tom natural de castanho nas pontas, ela tem um sorriso lindo e... – disse Crawford e todo mundo olhava para ele, e quando ele dava pausa na frase, todos olhavam para mim. – Ela está nessa roda, e provavelmente ela já teria notado isso todas as vezes em que me pegava olhando ela, e que eu sempre jogo uma cantada para ela, mas ela nunca deu bola. – disse ele que sorriu e olhou pro chão, meio sem graça, e todo mundo olhou pra mim arregalando os olhos, pude sentir minhas bochechas corarem e os olhos de Kirsten brilharem. Até que Ben disse:

- Olha, Kiera arrasadora de corações, eu aprovo. – disse, nós rimos e Crawford deu um soco no braço de Ben, rindo sem graça e todo vermelho. Como pode?

Crawford era um garoto de pele clara um pouco rosada, de cabelos lisos com um topete, os olhos castanhos claros em um tom um pouco escuro, os lábios rosados e ele era um pouco alto. Ele parecia de leve com a Kirsten, até no jeito, ele era muito lindo. Mas ele não era somente lindo por fora, pela aparência, ele era lindo por dentro também. Ele animava todos, sempre fazendo piadas, fazendo todo mundo ao redor sorrir. Principalmente quando essas pessoas estavam tristes. Crawford era um garoto amável, é impossível, ficar chateada perto dele, ou brigar com ele, ou ficar sem falar com ele. Kirsten me contara que Crawford perdeu a mãe muito cedo, com uns 7 anos de idade, a partir daí ele passou a ser uma pessoa melhor, apesar da tristeza pela perda da mãe, ele prometeu pra Kirsten que iria ser uma pessoa melhor, porque sua mãe sempre quisera isso dele, apesar disso tudo ele é um garoto carente também. Ele sempre me jogava cantadas como ele disse, eu já imaginara que ele poderia ter uma quedinha por mim.

Depois de uns segundos perdida nos meus pensamentos, Crawford olhou pra mim na mesma hora que olhei para ele, arqueei as sobrancelhas como se dissesse apenas com os olhos "Eu já sabia" e sorri, ele riu pelo nariz, e com um tom engraçado piscou para mim, ri e fiz o mesmo, que o mesmo corou.

Dessa vez quem girou o lápis foi Gray, o mesmo parou com a pergunta voltada para Kirsten a resposta voltada Linn. Bateu uma vontade de rever os amigos que estão pela escola, e disse:

- Gente, eu vou dar uma volta pela escola, quem quer vir comigo? – disse e advinha quem se ofereceu? Isso mesmo, Crawford.

Pude perceber todo mundo arqueando as sobrancelhas e dando um risinho de lado. Crawford sorriu sem mostrar os dentes e veio em minha direção.

Assim que começamos a andar, eu e Crawford começamos a conversar, como foram nossas férias, coisas aleatórias, ele colocou as mãos no bolso e perguntou:

- Posso te jogar uma cantada? É que você tá tão linda hoje. – disse ele em um tom engraçado como o de sempre, e sorrindo. Ele tinha um belo sorriso. Dei sorri sem mostrar os dentes e respondi:

- Vá em frente Craw – disse e ele soltou uma risada pelo nariz, só eu chamava ele assim.

– Meu nome é Arlindo, mas pode me chamar de Lindo, porque perdi o ar quando te vi. – disse ele e ele só olhava pros meus lábios. Caímos na gargalhada, e em meio a risos eu disse:

- Essa foi boa! – disse ainda rindo.

Demos uma volta pelo colégio, conversamos com algumas pessoas, até que Kylie Hutson, minha ex melhor amiga, uma garota problemática, e que adorava me irritar desde o dia em que brigamos, faz uns 2 anos atrás. Éramos muito próximas, mas não estou afim de me lembrar do motivo por brigarmos, mas enfim. Passamos por ela e ela disse:

- K! – ela me chamava assim, e eu comecei a odiar desde aquele dia, você sabe. – Quem é esse? Adorei teu novo amigo. Me apresenta ele vai. – disse e pude reparar que Crawford não foi com a cara dela, então ele retrucou:

- Com licença, ela é minha namorada. – disse ele e entrelaçou nossos dedos, e eu tava morrendo de rir por dentro, até que ela disse:

- NÃO POR MUITO TEMPO! – disse ela, e Crawford permaneceu com os dedos entrelaçados aos meus, ele apertava firme como se queria ter a certeza de que não iríamos soltar. Olhei para ele que olhou para mim ao mesmo tempo e disse:

- Se prepare, porque não irei soltar tua mão tão cedo. Linda. – disse ele e eu comecei a rir, ri tanto que comecei a ficar sem ar – Ah qual é, você tá mesmo linda, falou? – disse e ri mais ainda, não conseguia parar de rir. Até que ele não resistiu e começou a rir também, e falando de si mesmo disse:

- Cara, foi a pior coisa que eu disse, eu sei. – disse ele e eu consegui parar de rir.

- Ah vai, naquela cantada tu me ganhou. – disse no mesmo tom engraçado dele, que arqueou as sobrancelhas e disse ele:

- Mentira, eu já tinha te ganhado desde um dia em que você me viu, admita. Tu me acha um gato. – disse ele debochado. – E só pra deixar claro, você roubou meu coração só com um olhar. – disse ele e ele tentou fazer um tom engraçado, mas falhou, desentrelaçou nossas mãos, colocou as mesmas no bolso e olhou para o chão.

- Tá vendo, eu também sou irresistível só com um olhar, eu já sabia disso faz tempo Craw. – disse, e completamos a volta e voltamos para a sala.

Let It RainOnde histórias criam vida. Descubra agora