Capítulo 07

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Diane...

Acordei com o som insistente do meu despertador, mas continuei deitada, tentando processar o que tinha ouvido no sonho.

- Por que sempre tenho quase os mesmos sonhos? De quem era aquela voz? E por que me chamou de filha?

Levantei-me devagar, lavei o rosto e a boca, e desci para tomar café da manhã. A casa estava silenciosa, sem sinais da Sofia.

-Deve ter ido trabalhar. - Murmurei para mim mesma enquanto subia as escadas, carregando balde, pano de pó, luvas, máscara e outros produtos de limpeza.

Chegando no quarto, coloquei tudo no chão e abri a janela para deixar o ar fresco entrar. Coloquei uma música animada no celular, prendi o cabelo e comecei a faxina.

Comecei pelo banheiro, depois troquei os lençóis da cama e organizei os livros na cômoda. Aspirei o quarto e sacudi o tapete pela janela. Estava terminando quando meu celular vibrou. Corri para atender.

- Sofia?

- Tá tudo bem aí? - A voz dela soava preocupada.

- Sim, por quê?

- Só pra avisar que vou chegar tarde hoje. Não me espera para jantar. Vou sair com o John.

- Tá bom, divirtam-se sem mim. - Minha voz saiu carregada de mal-humor. Odeio ficar sozinha.

- Diane... Você sabe que é coisa de casal, e você odeia ser a vela. Ele disse que é uma surpresa.

- Tá bom. - Respondi com uma careta, sabendo que ela tinha razão.

- Beijo. Qualquer coisa, me liga, tá?

- Antes, diz pro John que eu não esqueci da nossa partida de tênis. Ainda quero meu sorvete grátis.

Ela riu e desligou. Suspirei, terminando a arrumação do quarto antes de colocar a roupa para lavar. Desci para preparar algo leve: uma salada de frutas com morangos, laranjas, maçãs e abacaxi.

- Isso parece muito gostoso. - A voz veio do nada, me fazendo largar o garfo no prato.

Olhei ao redor, alarmada.

- Que estranho... Poderia jurar que ouvi alguém falar.

- Sério? Quem? - A voz respondeu novamente, e dessa vez me levantei, derrubando a cadeira atrás de mim.

- Quem está aí?! -Perguntei, entrando em pânico. Alguém tinha invadido a casa?

- Hm... Talvez a pergunta certa seja: quem está aqui dentro?

Meu coração disparou. Será que eu estava ficando louca?

- Fica calma e feche os olhos.

- Isso só pode ser uma brincadeira. Sofia, se for você, não estou gostando!

- Sofia? Quem é ela?

- Quem é você?! E onde está?!

- Já disse, feche os olhos.

Contrariada, fiz o que a voz pediu. Quando os abri novamente, não estava mais na cozinha. Estava naquele lugar dos meus sonhos. Tudo era calmo, como sempre.

- Como vim parar aqui? Estou sonhando de novo? - Perguntei para mim mesma, mas ao me virar, dei um grito. Um enorme animal branco estava atrás de mim. Perdi o equilíbrio e caí no chão.

Era uma raposa? Seu pelo era completamente branco, com olhos castanhos claros, orelhas pontudas e uma cauda volumosa.

- Oi? - Sua voz era suave.

Levantei rapidamente e comecei a me afastar.

- Você... você fala? - Passei as mãos pelo cabelo, tentando acordar. - Isso só pode ser um sonho.

- Querida, vamos evitar estragar esse momento mágico com racionalidade. Meu nome é Tricxy, e sou sua Luz... sua força e seu poder. - Disse, curvando-se de maneira elegante.

- Claro, e eu sou a fada madrinha da Cinderela.

- Espero que nos demos bem.

- Espera, como assim?!

- Nós somos uma só agora, entendeu?

- Como eu acordo desse sonho? - Perguntei, olhando ao redor.

- Pela quarta vez: você não está sonhando.

- Certo. Então, como saio daqui?

- Simples. Você só precisa querer. Na verdade, foi sua vontade que te trouxe até aqui. Eu sempre estarei aqui.

Fiz o que ela sugeriu, me concentrando em voltar. Num piscar de olhos, estava de volta à cozinha, encarando minha salada.

- Com certeza, estou doente. Deve ser um tumor. - Pensei em voz alta.

- Você não está doente. - Ouvi a voz dela novamente, e meu coração quase parou.

- Você ainda está aí?!

- Claro, sua boba! - Respondeu com um sorriso que, de alguma forma, consegui visualizar.

Sai da cozinha correndo e fui direto para o meu quarto. Liguei o computador e pesquisei: “Qual tumor faz você ouvir e ver coisas na cabeça?”

- O que é isso? - Tricxy perguntou, inclinando a cabeça curiosa.

- Uma lista de tumores. - Respondi automaticamente, mas logo caí na real. Eu estava conversando com um tumor falante no corpo de uma raposa!

- O que é um tumor?

- Algo que mata.

Seu semblante mudou, ficando triste.

- Eu nunca faria isso. Se você morrer, eu morro junto. Por que acha que eu quero te machucar?

Suspirei, sentindo algo dentro de mim amolecer.

- Certo... O que você é, exatamente?

Já disse, sou sua Luz.

Pesquisei as características dela, mas só encontrei resultados sobre raposas-do-ártico. Nada que explicasse o que estava acontecendo. Depois de uma hora de buscas inúteis, desisti. Olhei para Tricxy, que agora dormia enroscada como um gato, com a cauda cobrindo o rosto.

Suspirei, olhando o relógio. Já eram cinco da tarde. Saí do quarto para estender a roupa.

- Como é possível que eu consiga ver e falar com ela? - Murmurei para mim mesma.

Mas, doente ou não, uma coisa era certa: eu precisava comer.

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