Capítulo 16 - A despedida

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Dias atuais...

A coisa foi mudando de figura agora que Yuu estava ficando mais velho, era quase como se aquele estranho dom estivesse sofrendo algum tipo de enfraquecimento, ou coisa parecida. Muitas coisas também haviam mudado em sua vida, tinha deixado para trás a casa que tinha pertencido à sua mãe para a sua nova vida na casa que seu amado Narumi havia lhe deixado.

Tudo o que se referia a sua vida antiga lhe causava uma espécie de dor, e tinha se tornado como algo que Yuu não conseguia lidar, como um objeto obsoleto com o qual ele não conseguia lidar.

Assim como muitas outras coisas, a casa tinha se tornado um de seus muitos pesadelos, ainda mais por significar o único elo que ainda o ligava ao seu irmão.

Uma das coisas que aprendera com Narumi foi aquilo que era uma verdadeira filosofia de vida para os Alcoólicos Anônimos, além do eficiente "Um dia de cada vez", Yuu pôde vivenciar a veracidade das palavras que davam forma à oração da serenidade.

Em sua amarga experiência com aquele dom imprevisível, Yuu ainda podia se lembrar com clareza do dia em que Narumi dividiu com ele, pela primeira vez.

Na ocasião eles estavam a passeio numa cidadezinha do interior entrando e saindo das muitas lojinhas de artesanato do lugar, quando se depararam com alguns objetos de porcelana. Dentre eles havia um prato pintado à mão que Narumi não conseguiu ignorar.

"É a oração da serenidade."

"Uau! Que bonito." - Yuu parou pra olhar o prato com mais atenção.

"A gente lê todos os dias no A.A." - contou o castanho, parecendo orgulhoso daquilo...Em seguida ele leu a oração para Yuuichiro - "Deus conceda-me serenidade para aceitar as coisas que não posso modificar...Coragem para modificar aquelas que posso, e sabedoria para reconhecer a diferença."

Yuu olhava para o prato, parecia refletir sobre aquelas palavras.

"É uma oração poderosa." - disse Narumi, como num alerta - "Faz a gente refletir sobre se preocupar só com o que podemos arcar."- acrescentou, percebendo como o outro parecia mergulhado em pensamentos - "Pede serenidade pra gente aceitar aquilo que não podemos mudar, sabe? E sabedoria pra saber a diferença entre elas."

Narumi fez questão de explicar aquelas palavras que iriam ficar gravadas no subconsciente de Yuuichiro por muito tempo...E futuramente, Yuu iria odiar aquilo.

"Essa oração faz a gente entender que tudo bem se existirem limitações na vida da gente...por mais que isso nos afete." - disse Narumi, como se estivesse se explicando.

Involuntariamente Yuu suspirou profundamente! Às vezes ele tinha até raiva das coisas que conseguia ler nas entrelinhas.

"Isso é muito...dolorido!" - Yuu comentou, sem conseguir tirar os olhos do dito cujo do prato.

Abraçando-o por trás, Narumi sorriu.

"Eu não acho tão ruim assim!" - observou - "Se pensar em como perdemos tempo tentando resolver coisas impossíveis...quanta energia gastamos tentando, tentando..."

"É...tá certo, mas é meio tenebroso." - Yuu pontuou, e logo em seguida escolheu dois daqueles pratos enfiando-os na cesta de compras.

Tinha que levá-los pra casa, aliás, fazia isso com tudo o que Narumi dizia que era importante, era quase instintivo querer agradar o seu amor.

"Vai levar dois? Pra quê dois?" - falou o pão duro do Narumi, e Yuuichiro rodou os olhos.

"Um pra mim e o outro pra você." - Explicou o mais novo, como se aquilo fosse tremendamente desnecessário.

O ANJO DA GUARDA (Save Me -MikaYuu)Onde histórias criam vida. Descubra agora